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Objetivo: Conhecer as representações dos Dr Palhaços face à sua própria

Capítulo III – Apresentação dos Resultados

3. Objetivo: Conhecer as representações dos Dr Palhaços face à sua própria

Neste estudo procurámos conhecer e analisar as perceções, expetativas e anseios dos Dr. Palhaços face à sua própria intervenção no Centro de Desenvolvimento da Criança.

Para alcançar este terceiro objetivo definimos igualmente à priori três áreas de interesse relativamente à intervenção dos Dr. Palhaços no CDC, a saber: i) importância da intervenção, ii) áreas de intervenção e iii) inconvenientes da intervenção. Tendo por base estas três áreas de interesse e a análise de conteúdo efetuada às entrevistas realizadas à dupla de Dr. Palhaços destacamos quatro temas, os quais vão ser analisados e discutidos, do tema mais recorrente para aquele em que os entrevistados dedicaram menor atenção no seu discurso.

Os Dr. Palhaços nos seus discursos expressaram as suas perspetivas face à intervenção que desenvolvem no CDC e referiram as dificuldades sentidas nas suas próprias atuações. Estas relacionaram-se com: i) a necessidade de ter de fazer silêncio; ii) o ter de estruturar a intervenção em diversos locais; iii) o ter pouca experiência na intervenção no local; iv) o ter de personalizar a intervenção de acordo com as especificidades de cada criança; v) o ter de saber a melhor forma de interagir com as crianças e ainda o vi) não poder intervir quando as crianças estão nas terapias. Portanto, os Dr. Palhaços asseguram o superior interesse da criança,

Análise e Discussão dos Resultados

admitindo que, em certas ocasiões, a melhor atitude pode ser não intervir, se for esse o desejo da criança.

A formação pode ser uma das formas de ajudar os Dr. Palhaços a ultrapassar algumas das dificuldades descritas. Isto é, concordamos com Santos (2011) quando menciona no seu estudo a importância da formação na preparação dos Dr. Palhaços para intervirem com as crianças em contexto hospitalar, dando-lhes ferramentas e conteúdos que lhes permitam ponderar e decidir sobre a melhor forma de atuar em determinada situação, com determinada criança, reconhecendo, só por si, o potencial da sua presença, naquele contexto.

Apesar das dificuldades sentidas na intervenção os Dr. Palhaços reportam aspetos positivos tais como: facilita o envolvimento entre todos, ajuda os pais a ver a vida de uma forma mais leve, torna as crianças mais felizes e observam-se melhorias no desenvolvimento das crianças.

Masetti (1998) refere que os pais tornam-se mais ativos no tratamento dos filhos, lidam melhor com a hospitalização ou o ambulatório das crianças e percecionam uma alteração positiva na imagem do internamento. Para estes, a mudança na condição emocional da criança, a partir da atuação dos Dr. Palhaços, é de extrema importância na sua própria condição emocional.

Os entrevistados quando falaram na sua entrada para a ONV, referiram que esta exigiu uma seleção rigorosa e apertada. Quanto aos procedimentos para a entrada na ONV, os Dr. Palhaços falaram de questões relacionadas com a inscrição para a audição na ONV, bem como dos conhecimentos anteriores que tiveram sobre a ONV, das audições que foram necessárias realizar para entrar na ONV e do rigor da seleção.

Santos (2011) refere que ser “Doutor Palhaço” resulta de uma vontade e, apesar das especificidades das motivações que levaram cada um dos artistas a entrar na ONV e a serem Dr. Palhaços, há em todos eles o desejo de usar a técnica de palhaço num ambiente emocionalmente muito rico. São artistas profissionais, formados em áreas como a música ou o teatro, e não se consideram terapeutas, também não são palhaços comuns, cujo vestuário e maquilhagem são extravagantes, que falam alto e fazem barulho, mas antes palhaços que agindo, por vezes, quase silenciosamente, agem de uma forma subtil, adaptando-se às necessidades e características do contexto em que intervêm.

Outros autores explicam que o termo “Doutor Palhaço” identifica o trabalho terapêutico realizado por performáticos profissionais, que recebem treino em habilidades interpessoais e de comunicação, juntamente com técnicas de improviso, para a promoção do bem-estar físico e mental, da qualidade de vida e da diminuição

Análise e Discussão dos Resultados

de ansiedade e stress entre pacientes, familiares e profissionais de saúde (Warren, 2005).

Posteriormente, estes profissionais no seio da ONV têm formação específica no âmbito de técnicas artísticas, como a criação da personagem, improvisação/criatividade, música, malabarismo, dança, magia e ainda formação específica acerca da estrutura hospitalar, higiene hospitalar, a criança e a sua família, doença, dor e morte, psicologia e desenvolvimento da criança. Contudo, ainda assim no seu dia-a-dia enfrentam algumas dificuldades, como nos relataram os Dr. Palhaços entrevistados.

A opinião sobre as expetativas do CDC em relação à intervenção dos Dr. Palhaços, são positivas no geral, tanto por parte do hospital/centro, como das crianças e dos seus familiares. Porque os Dr. Palhaços comparecem semanalmente (segunda- feira de manhã), as crianças, as famílias, bem como os profissionais, sabem que podem contar sempre com a sua presença, no CDC.

A forma como estes profissionais são recebidos no CDC apresenta algumas disparidades consoante o contexto, mas em geral podemos afirmar que os Dr. Palhaços são bem recebidos. A aceitação é cada vez maior, pois a sua intervenção é reconhecida como sendo útil ao hospital. O papel do hospital neste processo é referido como sendo um ato de generosidade e que são eles que aprovam a sua intervenção no contexto hospitalar.

Os Dr. Palhaços teceram algumas considerações acerca do contexto hospitalar e à sua própria intervenção referindo ser importante tornar o ambiente hospitalar mais descontraído, ser-se positivo, transmitir-se segurança e afirmaram também ser útil brincar no contexto hospitalar.

A dupla de Dr. Palhaços tem portanto uma opinião muito favorável relativamente ao seu trabalho, ou seja tem consciência do seu papel “palhaço” no contexto hospitalar e ainda a noção da promoção do bem-estar e do brincar na criança, nos familiares e nos profissionais. Mas, não são só os Dr. Palhaços que manifestam uma opinião favorável à sua intervenção. A própria sociedade parece reconhecer como positiva a sua atividade, dado que têm obtido publicamente uma valorização pelo trabalho prestado, com a atribuição da “Medalha de ouro do Prémio de Direitos Humanos”, pela Assembleia da República, a 11 de Dezembro de 2009 (Dia do Palhaço), no reconhecimento oficial pela Ordem dos Médicos, com o Diploma de Mérito da Ordem dos Médicos, atribuído a 23 de Fevereiro de 2006; e ainda o prémio “Serviço Social” atribuído na edição 2005/2006 do Fórum Hospital do Futuro, o que o torna já por si gratificante e com a sensação de missão cumprida.

Análise e Discussão dos Resultados

Concluída a análise e discussão dos resultados relativos aos Dr. Palhaços consideramos útil fazer uma breve síntese.

Face aos dados apresentados parece que a dupla de Dr. Palhaços tem uma opinião muito favorável relativamente ao seu trabalho, ou seja tem consciência do seu papel “palhaço” no contexto hospitalar e ainda a noção da promoção do bem-estar e do brincar na criança, nos familiares e nos profissionais. A sua intervenção facilita o envolvimento entre todos, ajuda os pais das crianças que frequentam o CDC a ver a vida de uma forma mais suave, contribui para que as crianças se sintam mais felizes e desmistifica o contexto hospitalar. Como nos diz Santos (2011) a presença dos Dr. Palhaços revela-se pertinente no hospital, porque estão lá as crianças, no entanto, também os adultos são motivo da presença destes artistas no hospital, pois, e atendendo à perspetiva de humanização do contexto hospitalar da ONV, o direito à felicidade, ao brincar, a rir, ao bem-estar e ao lazer é comum a todos nós.

Nos seus discursos os Dr. Palhaços revelam ter uma perceção favorável face à intervenção. Isto é, mencionaram ser esta uma intervenção positiva, gratificante e compensadora; uma atividade estimulante para os Dr. Palhaços, um trabalho prazeroso e de qualidade; que possibilita a diversão e o relaxamento.

4.

Objetivo: Caracterizar as reações das crianças que frequentam o