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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.3. POLÍTICA NACIONAL DE TRÂNSITO (PNT)

2.3.2. Objetivos e diretrizes

A formulação da PNT é fundamentada na segurança do trânsito, na educação para o trânsito, na mobilidade, qualidade de vida e cidadania e na atuação do Sistema Nacional de Trânsito. Nota-se, em tese, a consonância desses princípios com os cinco objetivos elencados no Anexo da Resolução nº 166, que se espera atingir com a implantação da Política, quais sejam:

 Priorizar a preservação da vida, visando à redução do número de vítimas, dos índices e da gravidade dos acidentes de trânsito;

31  Efetivar a educação contínua para o trânsito, visando à convivência no trânsito

de modo responsável e seguro;

 Promover o exercício da cidadania, visando ao comportamento coletivo seguro, respeitoso e não agressivo no trânsito;

 Estimular a mobilidade e a acessibilidade a todos os cidadãos, de modo a possibilitar deslocamentos ágeis, seguros, confortáveis, confiáveis e econômicos; e

 Promover a qualificação contínua de gestão dos órgãos e entidades do SNT, aprimorando e avaliando a sua gestão.

Por fim, o documento elenca as diretrizes gerais e específicas relativas a cada um dos objetivos descritos, a serem seguidas pelos órgãos que compõem o SNT na formulação dos programas e ações que garantirão a efetivação da implantação da PNT. É bom salientar que, por se tratar de uma política nacional, mesmo aquelas diretrizes ditas “específicas” são um tanto genéricas, pois não se conseguiria alcançar todas as particularidades dos municípios brasileiros em um único documento. Daí a importância da formulação de políticas locais, como é o caso dos planos de mobilidade urbana previstos na Lei nº 12.587, de 2012. No entanto, essa recomendação para a elaboração de planos municipais não é prevista entre as diretrizes da PNT elencadas na Resolução nº 166 e só vem surgir com a reformulação da Política, com a edição da Resolução nº 514.

Das cinco diretrizes gerais, convém destacar apenas as principais diretrizes específicas relacionadas aos temas mais afetos à presente pesquisa:

 Segurança no trânsito: intensificação da fiscalização; combate à impunidade; melhoria nas condições de segurança dos veículos e do sistema viário; regularização de documentação de condutores e veículos; e aprimoramento da base de dados estatísticos de acidentes de trânsito;

 Mobilidade: priorização de pessoas sobre veículos; incentivo ao transporte coletivo e não motorizado; cuidado com os usuários mais vulneráveis (pedestres, ciclistas, crianças, idosos, pessoas com deficiência); atuação integrada dos órgãos de trânsito com órgãos de planejamento, desenvolvimento urbano e de transporte público; incentivo à construção, manutenção e melhoria da qualidade de calçadas e ciclovias;

32  Sistema Nacional de Trânsito: incentivo à integração dos municípios ao SNT; promoção da capacitação de profissionais que atuam nos órgãos que compõem o SNT.

Passados 10 anos, ante a inexpressividade dos resultados alcançados e a necessidade de revisão da norma que instituiu a PNT, o Contran editou em 18 de dezembro de 2014 a Resolução nº 514, revogando a Resolução nº 166, de 2004, dispondo sobre a Política Nacional de Trânsito, seus fins e aplicação. Essa nova norma, a não ser pela concisão e objetividade, apresenta pouca diferença em relação à anterior.

A diferença mais marcante traz como pano de fundo relevante aspecto a ser considerado: a Resolução nº 514 foi editada após a promulgação da Lei de Mobilidade Urbana nº 12,587. Além de alguns ajustes terminológicos, já adequados à nova concepção da questão dos deslocamentos urbanos, a nova norma introduz importante diretriz relacionada à garantia da mobilidade: “incentivar que os planos diretores municipais incluam o trânsito como temática estratégica, com vistas a favorecer a fluidez do trânsito” (Ministério das Cidades, 2014).

Ademais, a Resolução nº 514 dispõe que, em observância ao que prevê o CTB, compete ao órgão máximo executivo da União – Denatran – a coordenação da implementação da PNT, bem como a formulação e aplicação do Programa Nacional de Trânsito. A norma estabelece, ainda, que cabe aos órgãos que compõem o SNT formular programas, projetos e ações, no âmbito de suas respectivas competências. São, portanto, esses instrumentos, juntamente com os planos de mobilidade municipais, objeto de estudo desta pesquisa, que permitirão a efetiva implantação da Política.

Registra-se, por fim, que grave lacuna observada na primeira resolução se mantém na segunda: ausência de metas e indicadores para se avaliar o desempenho na implantação da PNT. No Anexo da Resolução nº 166, essa carência chega a ser apontada, mas nenhuma diretriz concreta a respeito desse tema é estabelecida.

No entanto, convém mencionar que o Contran estuda a edição de nova norma, revogando a Resolução nº 514, de 2014. Tramita no Denatran o processo nº 80000.035670/2013-17, em que consta, às folhas 215 a 230, volume II, minuta da resolução, contemplando significativas modificações na PNT (Conselho Nacional de Trânsito, 2016). O texto é ainda mais objetivo e

33 específico e as diretrizes são elencadas no âmbito de seis categorias: fiscalização, infraestrutura, segurança veicular, saúde, educação e formação e, ainda, gestão. Como se verá adiante, essas categorias coincidem com os pilares em que se baseia a Década de Ação pela Segurança no Trânsito 2011-2020, proclamada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Notam-se também presentes as áreas preconizadas pelo conceito 3E e ações constantes da matriz de Haddon.

Além disso – eis a principal inovação –, a minuta contempla propostas de ações e metas objetivas para o Programa Nacional de Trânsito, em cada uma das categorias citadas, no âmbito das três esferas da federação (União, Estados e Municípios) e segundo horizontes de 2016, 2018, 2020 e 2024. Tais ações são dispostas em três anexos, um para cada ente federativo. Propõe-se, ainda, a redução anual de 5% no número absoluto de mortes em acidentes de trânsito. O texto recebeu pareceres jurídicos e técnicos favoráveis e, desde março de 2016, aguarda a deliberação do Conselho.

Antes de tratar mais detalhadamente dos instrumentos de efetivação da PNT, convém formular sucintas considerações sobre a questão da integração dos municípios ao SNT, dada a relevante influência que exerce onde de fato Política é exercida.

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