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OBJETIVO GERAL: A pesquisa investigou a existência de relação entre o fator

“espaços e recursos materiais disponíveis na escola”, especialmente a Sala de Leitura, e o desempenho alcançado pelos alunos das diferentes regiões do município de São Paulo nas avaliações externas. Em outras palavras: objetivou-se examinar e analisar as condições em que acontece a educação e a formação dos alunos da Rede Municipal de Ensino, no que diz respeito às práticas de leitura vinculadas à SL, tendo como parâmetro as condições sóciodemográficas das regiões onde as escolas estão localizadas.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: a) Verificar o tipo de relação que ocorre entre

localização das escolas e desempenho na prova de Língua Portuguesa da Prova Brasil/Saeb - 2007. Vale destacar que a intenção não é, a partir dos dados coletados, estabelecer uma relação causal, pois o cruzamento dessas informações visa a ampliar o debate sobre qualidade da educação, com a inclusão de indicadores referentes às condições de trabalho pedagógico; b) Examinar e analisar as condições de funcionamento dos recursos específicos, com destaque dado à Sala de Leitura, para o trabalho com leitura em escolas da rede municipal de São Paulo; c) Cotejar as condições de funcionamento dos recursos específicos (SL e outros) em escolas municipais na cidade de São Paulo com alto e baixo desempenho em Língua Portuguesa na Prova Brasil/Saeb - 2007, bem como confrontar essas condições com o IEX da região em que a escola está localizada.

HIPÓTESE: A avaliação em larga escala passou a ser central quando se discute a

qualidade da educação tanto no âmbito internacional quanto no nacional. É considerada referência para medir e diagnosticar a qualidade do sistema de ensino, como também estabelecer metas a serem alcançadas. A qualidade da educação, por sua vez, está estritamente relacionada ao cumprimento de tais padrões estabelecidos pelas avaliações em larga escala, estando pouco relacionada com a

formação para a emancipação. Postula-se que a avaliação em larga escala constitui um sistema de gestão e monitoramento do sistema educacional, exercendo controle sobre as escolas.

É nesse contexto de controle da autonomia e monitoramento dos conteúdos que ocorre a formação do aluno, estando longe de ser a apropriação subjetiva da cultura, tal como a define Adorno. Na realidade, predomina na experiência escolar a mera adaptação aos objetivos definidos desde o exterior. É essa a razão que explica a prevalência de uma noção de qualidade relacionada direta e unicamente ao desempenho dos alunos em provas padronizadas.

Não obstante essas considerações, e a partir dos objetivos estabelecidos para este trabalho, a hipótese desta pesquisa foi formulada do seguinte modo: as escolas com boas ou razoáveis condições de funcionamento e localizadas em áreas também com boas condições de vida para sua população tendem a oferecer melhores condições de ensino para seus alunos, comparadas com escolas em situação precária de funcionamento e localizadas em áreas igualmente precárias. Essa situação se traduz em diferenças significativas quando se compara o desempenho desses alunos em provas padronizadas. Ainda, pode-se considerar que o trabalho desenvolvido na Sala de Leitura influi no rendimento dos alunos em Língua Portuguesa, ou seja, quanto maior a preocupação com as práticas de leitura, mais os alunos desenvolvem habilidades que possibilitam o bom desempenho nas provas padronizadas. Prevalecendo o momento da adaptação em detrimento da autonomia, as escolas mais bem equipadas e localizadas em regiões com maior índice de inclusão, estando mais adaptadas às exigências feitas a todos os estabelecimentos de ensino, desenvolvem um trabalho que oferece melhores condições para seus alunos.

O delineamento desta pesquisa, tendo como referência o que foi apontado acerca da relação entre escola, sua localização e seus alunos, permitiu a discussão sobre a noção de qualidade da educação não somente a partir do rendimento dos alunos, como também a partir de suas relações com a localização da escola e da utilização de recursos específicos. Embora o aprendizado na escola, independentemente da origem social dos alunos, aconteça de maneira acrítica, pelo menos em tendência, postula-se que acontece uma diferença importante: nas escolas localizadas em regiões mais desenvolvidas os alunos estão mais adaptados aos padrões estabelecidos pela racionalidade tecnológica.

Além disso, os espaços específicos para o trabalho de leitura e escrita, por exemplo a SL, poderiam constituir um ambiente cujo projeto permita ensejar a formação, isto é, um ambiente que permitisse práticas que vão além do mero uso utilitário e instrumental, por meio do contato mais efetivo com a cultura, bem como a sua apropriação de modo mais significativo. O trabalho nesse ambiente poderia, portanto, alargar a experiência. No entanto, parece predominar a tendência à instrumentalização da cultura e o contato superficial e fragmentado dos alunos com os conteúdos escolares. Os espaços específicos tendem a se constituir como mera complementação do espaço de sala de aula, o que pode estar correlacionado com o excesso de conteúdos a serem trabalhados com os estudantes, gerando a impossibilidade de o aluno ampliar sua experiência com a leitura e escrita.

1.6 Método

Para a realização desta pesquisa foram tomados três aspectos fundamentais: a) Sala de Leitura como recurso específico das escolas

Considerando que as características das instituições de ensino se mostram relevantes na diferenciação que apresentam entre si, delimitou-se a Rede Municipal de Ensino de São Paulo, uma vez que nas escolas dessa rede o projeto de Sala de Leitura existe há mais de trinta anos, o que deve ter como consequência alguns procedimentos diferenciados em relação à prática da leitura na escola. Apesar de a rede estadual também possuir SL, o projeto desta rede está em fase de implantação, tendo se iniciado em 2009. Foram selecionadas todas as escolas municipais de São Paulo de 1ª a 4ª série (527 escolas).

b) Saeb como indicador de rendimento das escolas

A pesquisa tratou somente das escolas de Ensino Fundamental do ciclo I, considerando a importância do incentivo à leitura nessa etapa, pois é esperado que o aluno chegue ao final do ciclo I alfabetizado. Para verificar o rendimento dos alunos de cada escola utilizou-se o indicador Prova Brasil/Saeb - 2007. Ferrão e Fernandez (2003) apontam que o instrumento não foi especialmente desenhado para investigar a eficácia da escola, uma vez que não existe mensuração do conhecimento prévio do aluno e, dessa maneira, há uma limitação metodológica

pela ausência de medidas repetidas do desempenho escolar. Apesar disso, os autores afirmam que devido a esse fato, muitas pesquisas são feitas com os dados da 4ª série do Ensino Fundamental por oferecerem indicadores razoáveis que de outro modo não seriam oferecidos acerca do desempenho dos alunos.

O Saeb é um referencial nacional que permite não só identificar resultados escolares, mas também diagnosticar e identificar os fatores que influenciam o desempenho escolar, por meio do questionário respondido pelos alunos acerca de informações socioeconômicas. Em decorrência disso, o instrumento propõe aferir a qualidade da educação. As informações coletadas para esta pesquisa foram as de 2007, uma vez que até o momento da coleta de dados o Ministério da Educação não havia divulgado os dados de 2009.

Das 527 escolas municipais de Ciclo I, 461 realizaram a Prova Brasil/Saeb em 2007. De acordo com o Ministério da Educação, algumas escolas não realizam a prova por não apresentar número suficiente de alunos. Levantou-se a pontuação média em Língua Portuguesa de cada uma das 461 escolas e a porcentagem de alunos distribuídos de acordo com a classificação de desempenho: abaixo do básico, básico, adequado e avançado.

c) IEX como indicador de características da localização das escolas

A partir da literatura revisada, verificou-se que características da localização das escolas, a segregação residencial e os fatores socioeconômicos podem influenciar na composição da escola e, por sua vez, no rendimento dos alunos. Assim, levou-se em consideração o Mapa da Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo. Um de seus objetivos é “construir uma nova visão da totalidade da cidade incorporando suas diferenças” (Sposati 1996:12). Assim, tomaram-se as características dos bairros/distritos em que as escolas estão localizadas, pois considera-se que tais características podem trazer efeitos negativos ou positivos para a escola.

O Mapa da Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo apresenta o IEX, elaborado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Seguridade e Assistência Social da PUC/SP. O objetivo foi verificar as discrepâncias de condições de vida na cidade de São Paulo. O índice leva em consideração algumas variáveis como: autonomia, desenvolvimento humano, qualidade de vida, equidade, democracia, cidadania, felicidade, entre outros. Como já mencionado, a escala varia de -1 a 1,

sendo -1 maior exclusão social e 1 maior inclusão social. É considerado um eficiente instrumento para estabelecer relações entre o fenômeno social da exclusão/inclusão e outras variáveis.

Na presente pesquisa, as escolas foram organizadas em dois blocos: escolas localizadas em regiões com IEX positivo e em regiões com IEX negativo. Para tal, levou-se em consideração a escala de -1 a 1, excluindo-se as escolas oriundas de distritos cujo IEX é exatamente zero por não estar no polo negativo nem positivo. Portanto, das 461 escolas foram excluídas 7, restando 454. Dessa maneira, obteve- se o seguinte número de escolas distribuídas nos dois grupos: 33 escolas em localidades com IEX positivo e 325 escolas em localidade com IEX negativo. O passo seguinte foi a divisão dos dois grupos em três subgrupos de acordo com uma gradação da pontuação do IEX, formando então:

IEX negativo (-0,01 a - 1) IEX positivo (0,01 a 1)

B1 (-1 a -0,7) A1 (1 a 0,7)

B2 (-0,69 a -0,30) A2 (0,69 a 0,30)

B3 (-0,29 a -0,01) A3 (0,29 a 0,01)

Figura 1: Subdivisão conforme o grau de inclusão/exclusão dos distritos do município de São Paulo

A partir dos três aspectos descritos, a pesquisa consistiu em dois momentos: a) Primeiro momento: análise do rendimento das 454 escolas municipais do Ciclo I obtidos em Língua Portuguesa na Prova Brasil/Saeb - 2007. Levou-se em consideração a distribuição do percentual de alunos de cada escola de acordo com a classificação de desempenho: abaixo do básico, básico, adequado e avançado, além da “variável localização geográfica” de cada escola a partir do IEX (Anexos A e B).

b) Segundo momento: análise de fatores extrapedagógicos, visando a compreender como influenciam o desempenho dos alunos. Partiu-se da premissa de que não só os alunos, mas também as instituições de ensino, sofrem influência do ambiente onde estão inseridos. Foram selecionadas quatro escolas, levando em

consideração os extremos do rendimento na Prova Brasil/Saeb - 2007 e da localização geográfica a partir do IEX para verificar semelhanças e discrepâncias. Portanto, selecionou-se uma escola com o melhor e outra com o pior desempenho na Prova Brasil/Saeb-2007 em cada região considerada: duas em localidades com IEX positivo e outras duas em localidades com o IEX negativo. Foram realizadas observações e entrevistas com os professores responsáveis pela Sala de Leitura.

A análise dos espaços escolares destinados ao desenvolvimento de habilidades de leitura foi realizada considerando-se as categorias de Viñao Frago (2005), que são: existência, especificidade, localização, acessibilidade, dimensão, disposição e configuração interna dos objetos:

Existência: As escolas investigadas possuem espaços destinados ao desenvolvimento de habilidades de leitura além das bibliotecas?

Especificidade: O espaço é utilizado para o fim a que se destina? É utilizado para outros fins pela comunidade escolar? Em caso positivo, qual é a finalidade predominante?

Localização: Qual a localização do espaço analisado? É próximo a quais dependências escolares? Qual a dimensão do espaço analisado?

Acessibilidade: O espaço analisado é acessível aos agentes escolares? O acesso é mediano, limitado a determinados horários, ou restrito a alguns grupos?

Disposição e configuração interna dos objetos: O mobiliário existente no espaço é adequado ao público e à função a que se destina? A disposição física dos objetos, móveis e materiais viabiliza as atividades de leitura?

O detalhamento de cada momento da pesquisa é feito nos seus capítulos correspondentes, em que os dados coletados são analisados.

CAPÍTULO II: A localização geográfica das escolas e sua interferência no