2. EVOLUÇÃO DA ANÁLISE FINANCEIRA
2.2. Objeto e objetivos da análise financeira
Todas as organizações necessitam de analisar os seus dados económico-financeiros, no entanto surge sempre a necessidade de perceber a que tipo de organizações se deve aplicar a análise financeira. No panorama económico existem diversos tipos de organizações com vários aspetos em comum como sejam o caso de serem constituídas por duas ou mais pessoas, estarem sob a tutela/autoridade de um ou mais indivíduos com funções de planeamento, organização, liderança e controlo, atuarem num determinado contexto, com determinados objetivos (Fernandes et. al., 2012).
A análise financeira surge como necessidade de se elaborar um diagnóstico do estado económico-financeira da empresa.
O grande objetivo de qualquer empresa prende-se com a maximização do lucro pelo que terá de ter em conta todos os indicadores que lhe possam facultar informação sobre este importantíssimo aspeto. Para se conseguir maximizar o valor financeiro da empresa é necessário estabelecer, por um lado, a relação entre a rendibilidade e o risco1 e por outro a
capacidade de gerar fluxos de caixa futuros.
2.2.2. FUNÇÃO FINANCEIRA, ANÁLISE FINANCEIRA E GESTÃO FINANCEIRA
As empresas estão organizadas em várias funções sendo normalmente definidas seis como as mais importantes: Função Produção, Função Comercial, Função Recursos Humanos, Função Administrativa, Função Executiva e Função Financeira.
A Função Financeira pode ser definida como um conjunto de pessoas e serviços que, dentro de uma organização, assumem a sua gestão financeira, preparando e executando as decisões financeiras (Fernandes et. al., 2012).
As principais tarefas da função financeira são:
Calcular a necessidade de recursos financeiros; Obtenção de recursos de forma rentável;
1 Quando um investidor opta por determinado investimento tem em consideração a maximização da rendibilidade para um certo nível de risco ou a minimização do risco para um dado nível de rendibilidade (Fernandes et. al., 2012).
Aplicação racional dos recursos financeiros; Controlo e correção das aplicações financeiras.
Em suma, a função financeira consiste no processo de preparação, tomada, execução e controlo das decisões financeiras inerentes às empresas, onde se englobam duas importantes vertentes como a análise financeira e a gestão financeira que a seguir se irão abordar.
A Análise Financeira está direcionada para recolher, tratar e estudar a informação de cariz eminentemente económico-financeiro, no sentido de fornecer informações que permitam apoiar a tomada de decisão dos gestores financeiros. Permite a análise de informações contabilísticas e extra-contabilísticas que revelam a situação económico-financeira da empresa. Permite detetar tendências futuras de evolução facultando informações para a gestão (Fernandes et. al., 2012).
Para Matarazzo (2010), a análise das demonstrações financeiras é importante na tomada de decisões, uma vez que esta expõe aspetos relevantes a respeito da empresa, tais como: situação financeira e económica, desempenho, pontos fortes e fracos, adequação das fontes às aplicações de recursos, evidências de erros na administração, avaliação de alternativas económico-financeiras futuras e outras.
De acordo com Gonçalves et. al., (2012), a análise financeira abrange um conjunto de instrumentos e métodos que permitem realizar diagnósticos sobre a situação financeira de uma empresa, assim como previsões sobre o seu desempenho futuro. O fato de se recorrer à análise financeira é de extrema importância para diversos “stakeholders”2 - grupos interessados numa boa gestão empresarial, sabendo que todos os interessados para além das organizações são os fornecedores, os clientes, os investidores, os mutuantes, o estado, o público e os empregados.
No pensamento do mesmo autor a análise financeira procura refletir sobre o desempenho histórico das empresas e avaliar a sua capacidade financeira, bem como a sua estabilidade, viabilidade e rentabilidade, em função da conjuntura atual e futura. Procura, ainda, analisar se os capitais investidos pelos empresários, as despesas de desinvestimento e as de funcionamento estão a ser remunerados pelos rendimentos gerados num dado período de tempo.
2
O termo stakeholder designa uma pessoa, grupo ou entidade com legítimos interesses no desempenho de uma empresa, e cujas decisões e atuações podem afetar, direta ou indiretamente, essa mesma empresa.
Para estes autores, a avaliação e interpretação da situação económico-financeira de uma empresa centra-se nas seguintes questões fundamentais:
Equilíbrio Financeiro, que se prende com a capacidade que a empresa tem em pagar as suas dívidas de curto prazo bem como solver os seus compromissos de médio e longo prazo;
Rendibilidade de Capitais, que permite determinar o retorno investido pelos acionistas e ajuda a determinar a capacidade das empresas para gerar lucros a partir dos ativos;
Crescimento, que reflete a capacidade das empresas gerarem riqueza e tem um impacto positivo sobre os seus lucros, promovendo a prosperidade;
Risco, que analisa a incerteza relativamente a acontecimentos futuros e o seu possível impacto na empresa;
Valor criado pela gestão, que tem como principal função identificar sucessos e fracassos e desenvolver ações corretivas para fortalecer o sucesso da empresa.
Gonçalves et. al. (2012) referenciam que, apesar das diferenças entre as empresas que operam no mercado, as técnicas usadas para avaliação baseiam-se fundamentalmente num conjunto de informações económico-financeiras, a partir do exame de documentos contabilísticos ou extra contabilísticos.
Para Fernandes et. al., (2012), a análise financeira está direcionada para a recolha de informação económico-financeira, para o seu tratamento e o seu estudo, de modo a fornecer dados e informações financeiras que sirvam de base á tomada de decisões por parte dos gestores financeiros e, como consequência, o principal objetivo centraliza-se no valor da empresa. Acrescenta, ainda, que a análise financeira requer um conhecimento relevante da prática contabilística, bem como do domínio do referencial contabilístico utilizado pelas empresas, tornando-se necessário o entendimento de princípios e normas que constituem o fundamento concetual do modelo contabilístico.
Para Neves (2012), a relevância da análise financeira está relacionada com a necessidade que as empresas têm em conhecer a sua situação financeira e económica. É importante a realização de um conjunto de métodos que permita obter informação sobre a situação financeira das empresas, procurando examinar a sua evolução histórica, com vista a detetar tendências futuras e identificar pontos fracos e pontos fortes.
Desta forma podemos afirmar taxativamente e com base em estudos comprovativos da sua aplicabilidade, que a análise financeira é um instrumento de informação essencial para a tomada de decisão no seio empresarial.
Por outro lado a Gestão Financeira consiste num conjunto de decisões tomadas pelo gestor financeiro que permitam assegurar, garantir e gerar rendibilidade a curto, médio e longo prazo.
Numa perspetiva de curto prazo, as decisões operacionais estão relacionadas, por um lado com a gestão corrente e por outro com a gestão dos débitos correntes. Na gestão corrente temos como exemplo o controlo do crédito concedido a clientes e na gestão dos débitos correntes temos como exemplo o crédito concedido pelos fornecedores.
Para Nabais e Nabais (2012), a médio e longo prazo compete à gestão financeira planear investimentos e selecionar fontes de financiamento que se revelem capazes de criar sustentabilidade e rendibilidade de desempenho da empresa.
2.2.3. UTILIZADORES DA ANÁLISE FINANCEIRA
O estudo da situação económico-financeira de uma empresa interessa a todos os
“stakeholders” das empresas, dado que todos necessitam de informação financeira de
qualidade, que lhes permita tomar decisões que se revelem rentáveis.
Os utilizadores da análise-financeira subdividem-se em internos e externos sendo os mais comuns os que a seguir se enunciam:
Alguns dos utilizadores mais comuns da análise-financeira são: Utilizadores Externos: Bancos; Investidores; Fornecedores; Clientes; Concorrência; Estado; Empregados.
Utilizadores Internos:
Administração e direção; Tomadores de decisões; Empregados.
Os empregados constam nos utilizadores internos e externos, na medida em que embora não tenham um acesso formal à informação, têm um perceção bastante real da situação da empresa.
Fonte: Adaptado de Fernandes et. al., (2012)
Figura 1. Papel da Análise Financeira
Pela análise da Figura 1 rapidamente se percebe que a Análise Financeira tem um papel de suporte preponderante para a Gestão Financeira, no que à tomada de decisão empresarial diz respeito. No entanto é também necessária a preciosa ajuda de diversos instrumentos de análise financeira que permitem, como veremos na revisão bibliográfica que integra o próximo capítulo, um análise mais minuciosa, precisa e eficaz da situação económico-financeira de qualquer entidade.
Aplicação de técnicas de análise Informação contabilística Outras informações Análise da situação económico- financeira Tendências de evolução futura Tomada de decisões: Investimento Financiamento Dividendos Gestão de ativos/passivos correntes