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2.1 Estrutura da sonoridade

2.1.2 Objeto sonoro

Objeto sonoro, de acordo com Schaeffer (1966) é a combinação de formas e matéria sonora, aqui compreendido como qualquer fenômeno sonoro notado independentemente de suas características relacionais e simbólicas. Podemos conceituar objeto sonoro como uma combinação de sonoridades. Como exemplo, Castro (2015) cita: "Mesmo em instrumento tradicional solo (como o piano, por exemplo), temos exploração das possibilidades e qualidades sonoras por combinações de registros, densidades de notas, uso de pedais, tipos de toques e articulações, o que cria objetos sonoros diversos dentro de uma mesma fonte sonora."

Logo, um objeto sonoro pode ser um padrão rítmico, um timbre, uma sequência sonora, uma textura. Mas sempre percebidos em unidade, combinados como um agrupamento dentro da estrutura musical. Didier Guigue (2011) coloca que a sonoridade depende de elementos (os citados objetos sonoros) que, agregados, compõem seu conteúdo.

"Formada da combinação e interação de um número variável de componentes, a

sonoridade é um momento que não tem limite temporal a priori, pois pode

corresponder a um curto segmento, a um período longo, ou até à obra inteira. Sempre será um múltiplo, que se coloca, no entanto, como unidade potencialmente morfológica, estruturante. É um conceito muito próximo do que Lachenmann chamou de Strukturklang, uma ordem ‘formada de componentes heterogêneos, produzindo um campo de relações complexas pensado em todos os seus detalhes’, como o é, em suma, ‘qualquer obra que forma um todo coerente’. Essa unidade depende, portanto, da existência de elementos que se juntam para formar seu conteúdo: por essa razão é que dizemos que ela é composta, retendo, simultaneamente, o sentido geral e o sentido musical do termo". (GUIGUE, 2011. In: CASTRO, 2015).

2.1.3 Estilo

Podemos associar estilo à maneira de um artista se portar, com suas preferências musicais, seu discurso criativo. Em música, está intimamente ligado à identidade do músico.

Ele tem certo caráter de índice: não um índice de uma fonte sonora, mas o índice de uma fonte de manipulação do som, um índice de individualidade e originalidade. É um índice culturalmente definido e construído na interação entre o som produzido por quem o manipula, suas escolhas para tal modelamento sonoro e a percepção disso tudo em um contexto próprio. (CASTRO, 2015).

A relação entre ritmo, melodia, harmonia e interpretação seria, assim, o primeiro passo na definição de um estilo musical – mas, muitas vezes, isso ainda não basta. Há vários estilos cuja identidade está ligada também a outros fatores – dos instrumentos utilizados à origem étnica (razão pela qual se fala em ritmos latinos e africanos), ao conteúdo emocional das letras (como os lamentos do blues ou do fado português) e até ao modo de interpretação (como a improvisação, característica essencial do jazz). Para complicar, hoje em dia ocorre todo tipo de fusão de estilos.

Mas certos gêneros musicais possuem uma "marca de escrita". São características únicas do estilo, capazes de identificá-lo; é como uma assinatura. Tagg exemplifica:

[...] uma música que use alguns poucos acordes (e raramente invertidos), mas mostrando uma abundância de inflexões vocais e instrumentais (de tipos

particulares) poderia ser considerada como um indicador estilístico de blues, assim como a abundância de acordes diferentes, frequentemente invertidos, e pouca inflexão vocal e instrumental pode ser tomada como indicativo de um classicismo vienense [...]. Indicadores de estilo, como é bom acrescentar, podem ser usados por estilos musicais diferentes de sua origem, como uma sinédoque de gênero. Por exemplo, apesar de o som de uma guitarra “lapsteel” no country americano agir frequentemente como um indicador do gênero “country”, ela começou sua história dentro desse gênero como uma referência de estilo da guitarra havaiana, sendo assim uma sinédoque de gênero para algo exótico. Tal incorporação de um elemento ‘estrangeiro’ como algo próprio a outro estilo se deve em parte, claro, a um processo de aculturação, mas é útil notar essa distinção, uma vez que um mesmo elemento musical pode conotar coisas bem diferentes para diferentes pessoas, ou grupos de pessoas, em diferentes pontos no tempo e espaço. (TAGG, 1993. In: CASTRO, 2015).

Dessa forma, o estilo se refere tanto ao nível individual quanto ao nível de uma construção social de uma identidade estilística pertinente a um gênero musical.

2.1.4 Performance

É indiscutível que Jascha Heifetz (1901 - 1987) foi um dos maiores violinistas de todos os tempos. Mas o fato é que, no palco, J. Heifetz atingia o público de forma absolutamente diferente da forma como atinge os ouvintes em suas inúmeras gravações. Heifetz, apesar de seu som extremamente "caliente" e total domínio do instrumento, não fazia, ao tocar, os movimentos "esperados" artisticamente pelo público. Em outras palavras, tocava quase inerte, utilizando o mínimo de movimentos necessários para a execução da obra. Em suma, o gestual / visual alteram significativamente as sensações e emoções sentidas pelo público, por mais que o "som" ao vivo e/ou gravado sejam exatamente os mesmos.

De acordo com Erving Goffman "uma performance, no sentido restrito em que vou utilizar o termo, é aquele arranjo que transforma um indivíduo em um artista (performer) de palco, e o artista, por sua vez, é um objeto que pode ser observado por todos os ângulos e longamente sem ofensa. E dele é esperado um comportamento envolvente por pessoas desempenhando o papel de 'público'." (GOFFMAN in BAUMAN, 2014). "À medida que o público se envolve na arregimentação formal da performance, 'indo no embalo' por assim dizer, o poder que a performance tem de afetar aumenta, e a experiência do envolvimento fica enriquecida." (BAUMAN, 2014).

A performance se inicia muito antes do palco, influenciada pelas experiências vividas cotidianamente, estado de espírito, cultura, relacionamento social, objetivos etc., não apenas do performer como também do público espectante.

Para Richard Bauman, a performance envolve, por parte de quem a faz, assumir a responsabilidade perante um público pela maneira com que a comunicação se dá, para além do seu conteúdo referencial.

Do ponto de vista do público, o ato de expressar-se por parte de quem está fazendo a performance é marcado como estando sujeito a ser avaliado pela forma como é realizado, pela habilidade relativa e efetividade da exposição de competência por quem realiza a performance. Além disso, é marcado como estando disponível para o aprimoramento da experiência, por meio do prazer real proporcionado pelas qualidades intrínsecas do próprio ato de expressar-se. Assim, a performance chama atenção especial, aumenta a consciência do seu ato de expressar-se e permite ao público assistir com intensidade especial ao ato de expressar-se e a quem faz a performance. (BAUMAN, 2014).

O envolvimento de um público, é claro, faz-nos relembrar que a tomada de posição é um processo recíproco. Ao fazer a performance, quem o faz invoca inevitavelmente a postura complementar do público, convidando os co-participantes a assumirem um alinhamento com a performance que exige uma resposta avaliativa e talvez mais, como o reconhecimento verbal, comentários, encorajamento ou ratificação, no que corresponde à construção conjunta da performance.

As normas e os termos da avaliação vão variar de comunidade para comunidade, de pessoa para pessoa, de situação para situação. Podem ser explícitos ou implícitos nas respostas dos integrantes do público. Neste aspecto, a performance está fortemente saturada pela postura: em suas manifestações mais completas, faz com que a tomada de posição seja praticamente obrigatória. Digo "em seu sentido mais completo” e “praticamente obrigatória”, porque a performance não é um fenômeno caracterizado pelo tudo ou nada. Assim como qualquer outro enquadramento, a performance é instável, suscetível a alterações em seus elementos chave, pode ser relatada, demonstrada, imitada, ensaiada, transmitida, traduzida, citada ou relatada de maneira alternativa, em vez de ser performada. (BAUMAN, 2014).

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