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2. BUILDING INFORMATION MODELING (BIM)

2.2 OBJETOS PARAMÉTRICOS

Segundo Ruschel (2014, p. 3), “[...] em BIM a representação digital é um

modelo de informação, isto é, o modelo geométrico acrescido de informações que

caracterizam seus componentes.” Eastman et al. (2014), definem a modelagem

paramétrica baseada em objetos, como não sendo gerada sobre geometrias e

propriedades fixas, mas orientada a partir de parâmetros e regras que definem sua

geometria. Tais parâmetros e regras são usados de maneira que os objetos

atualizem sua forma e posição de acordo com os inputs feitos pelo projetista.

“Objetos são definidos usando parâmetros envolvendo distâncias, ângulos e regras

como vinculado a, paralelo a e distante de” (EASTMAN et al., 2014, p. 29). O

projetista define uma família de objetos ou uma classe de elementos que serão

gerados usando essas regras pré-definidas, permitindo que durante o seu trabalho

o software utilizado interprete as informações que estão sendo acrescidas e atualize

o modelo automaticamente de forma coerente no contexto em que está inserido,

preservando as relações estabelecidas (WONG; WONG; NADEEM, 2011;

EASTMAN et al., 2014; CHECCUCCI; AMORIM, 2014; BASTO; LORDSLEEM

JUNIOR, 2016; CBIC, 2016a). As novas tecnologias permitem o desenvolvimento e

implementação de checagem automática de códigos de conformidade e construção

de acordo com os requisitos definidos na modelagem da construção (SACKS et al.,

2018).

Um exemplo é a modelagem paramétrica utilizando o software ArchiCAD 21

da Graphisoft, no qual vários padrões de usabilidade e segurança, como largura do

piso, a altura do elevador, a proporção ideal do piso e espelho, a largura mínima,

posicionamento, altura dos corrimãos, espaçamento dos balaústres, entre outros,

são empregados (MAKEBIM, 2017). A Figura 2 mostra a criação de uma escada

utilizando a ferramenta em uma vista 3D, na qual é possível fazer a edição tendo

uma visão espacial de todos os elementos ao seu redor. Também é ilustrada uma

escada com um formato fora do comum, que também pode ser modelada com certa

facilidade.

Figura 2 - Modelo de um escada em 3D utilizando a ferramenta ArchiCAD 21

Fonte: MAKEBIM, 2017.

As regras para a criação das escadas podem ser vistas e configuradas na

caixa de diálogo da ferramenta, conforme indicado na Figura 3. Configurações como

geometria básica (altura total), largura, afastamento, altura do espelho,

classificação, estrutura, acabamento dos guarda-corpos e dos espelhos, entre

outras. As escadarias mais utilizadas pelo usuário podem ser salvas em uma aba

de “favoritos”, não sendo necessário o acesso da caixa de diálogo todas as vezes

que a modelagem for realizada (MAKEBIM, 2017).

Figura 3 - Caixa de diálogo para configuração de escada modelada no ArchiCAD 21

Fonte: MAKEBIM, 2017.

Outro uso interessante que as ferramentas BIM permitem é a importação de

dados de um outro software, como por exemplo o Excel, e formar modelos a partir

vigas do edifício Parramatta Square

4

(a mais alta edificação da Austrália) foi feita

com a importação de dados do Excel para o OpenBuildings Designer

GenerativeComponents (OBD-GC), da Bentley (FRAUSTO-ROBLEDO, 2020).

Figura 4 - Geração dos pilares estruturais com dados do Excel via OBD-GC

Fonte: JPW / Architosh, 2020.

4 O edifício Parramatta Square está localizado em Parramatta, New South Wales, Austrália, possui 120.000 m² em espaços destinado a escritórios e 233 metros de altura.

Figura 5 - A formatação condicional no Excel é transferida para scripts (OBD-GC), permitindo que as cores ajudem no processo de verificação visual do modelo

Fonte: JPW / Architosh, 2020.

As lajes do edifício foram criadas a partir de um script recursivo feito no

OBD-GC, no qual os pisos foram exportados individualmente em todos os andares a partir

do modelo estrutural gerado (FRAUSTO-ROBLEDO, 2020). Embora as lajes não

tenham sido geradas por meio de dados do Excel, a mesma codificação de cores

condicional foi escrita no OpenBuildings Generative Components (OBD-GC) para

geração de lajes de piso (Figura 6).

Figura 6 – Modelo das lajes geradas no OpenBuildings Generative Components (OBD-GC)

Um objeto BIM permite não só a visualização 2D e 3D do componente, mas

também a associação de informações, inclusive a geração de links externos com

manuais específicos para manutenção, montagem, etc (CBIC, 2016a). No caso do

exemplo anterior, a empresa contratada foi a responsável tanto pela parte estrutural,

quanto pela arquitetura, gerando um modelo para a coordenação dos serviços e

verificação dos cálculos estruturais (FRAUSTO-ROBLEDO, 2020).

Os engenheiros estruturais enviaram dados tabulares sobre colunas, vigas e espessuras de laje; engenheiros gostam de ver números para verificar seus cálculos, mas os arquitetos querem ver desenhos ortogonais para ajudá-los a entender as implicações espaciais do projeto (FRAUSTO-ROBLEDO, 2020, tradução nossa5).

Os objetos gerados nas ferramentas BIM, são ainda classificados segundo a

disciplina em questão (arquitetônicos, estruturais, sistemas prediais ou

infraestrutura), incluindo além da forma, informações parametrizadas do objeto

(material, fornecedor, especificações, peso, entre outras), o que permite além dos

benefícios citados, a extração de tabelas e quantitativos precisos e bem detalhados.

Outro ganho associado seria a extração automática de vistas, plantas e cortes, em

que a modelagem feita em somente um plano de trabalho e o modelo é atualizado

como um todo (RUSCHEL, 2014). Um paralelo pode ser feito ao uso de uma

ferramenta qualquer de CAD 3D, na qual o projetista deve fazer todas a

modificações inerentes à alguma atualização de forma manual e em todas as vistas

do projeto (EASTMAN et al., 2014). Além disso, os sistemas CAD geram modelos

geométricos genéricos de sólidos e formas, desta forma apenas parâmetros

relativos à posição e formato dos objetos podem ser observados (RUSCHEL, 2014).

O Quadro 2 representa a ficha técnica de um produto fabricado pela DECA,

com todas as informações associadas ao modelo do objeto virtual BIM.

5 No original: “The structural engineers sent over tabular data on columns, beams, and slab thicknesses; engineers like to see numbers to verify their calculations, but architects want to see orthogonal drawings to help them understand the spatial implications of the design.” (FRAUSTO-ROBLEDO, 2020).

Quadro 2 - Ficha técnica de produto real fabricado pela DECA que foi usado como base para o desenvolvimento de seu correspondente objeto virtual BIM

Nome Bacia p/ cx acoplada e cx acoplada dual flux - Carrara

Característica Bacia de 6 lpf

Classificação Louça

Segmento Banheiro Luxo

Subsegmento Luxo

Linha Carrara

Material Cerâmica (Vitrous China)

Peso Líquido Bacia 33,8 Kg

Peso Líquido Caixa 15,6 Kg

Consumo Meia Descarga 3 lpf

Consumo Descarga Completa 6 lpf

Cores Branco Gelo Creme Ébano Códigos Bacia P.606.17 P.606.37 P.606.95

Códigos Caixa Descarga

CD.11F.17 CD.11F.37 CD.11F.95 Fabricante Deca

Continua

Quadro 2 - Ficha técnica de produto real fabricado pela DECA que foi usado como base para o desenvolvimento de seu correspondente objeto virtual BIM (continuação)

Website / URL www.deca.com.br

Normas Técnicas Relacionadas

ABNT NBR 15097-1 ABNT NBR 15097-2

Imagem Renderizada Imagem Wire-Frame

Representação 2D (seguir normas específicas)

Medidas para Instalação

Produtos Relacionados

• Assento sanitário

• Anel de Vedação - Decanel

• Ligação Flexível

• Parafuso de fixação

2.2.1 Famílias de objetos e Bibliotecas BIM

Os objetos BIM são gerados a partir de características observadas em

objetos da vida real, atribuindo-os parâmetros específicos de acordo com seu uso.

Atributos como exigências técnicas de desempenho, características visuais,

especificações de construção, detalhamento, marca, entre outros fatores que

podem influenciar na escolha e fabricação desses objetos, tornam-se um guia para

a sua implementação. O mesmo objeto pode ser utilizado diversas vezes no mesmo

projeto ou em outros posteriores (EASTMAN et al., 2014).

Eastman et al. (2014) seguem definindo essas representações geométricas

em 2D e 3D como Building Element Models (BEM - Modelos de Elementos da

Construção, em tradução direta), nas quais produtos físicos como portas, janelas,

equipamentos, móveis, paredes com estruturas complexas, telhados, lajes, pisos e

outros produtos específicos, são altamente detalhados.

Existem inúmeras famílias de objetos gratuitas disponíveis por fabricantes e

vendedores na internet, semelhantes aos blocos de desenho usados nos sistemas

CAD. Fabricantes como DECA, DOCOL e Tigre, por exemplo, têm bibliotecas

completas de objetos BIM correspondentes aos seus produtos (CBIC, 2016a).

Porém, como Eastman et al. (2014) sugerem, cabe às empresas a capacidade de

desenvolver as suas próprias famílias de objetos, baseadas em suas boas práticas

e visando a melhoria constante de seus processos.

No Brasil, o governo federal promulgou em 17 de maio de 2018 a “Estratégia

Nacional de Disseminação BIM” (“Estratégia BIM BR”) e mostrando alinhamento

com essa estratégia, em uma ação conjunta entre o Ministério da Indústria,

Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento

Industrial (ABDI), lança a Plataforma BIM BR, na qual é hospedada a Biblioteca

Nacional BIM (BNBIM). Conforme praticado em bibliotecas internacionais, a BNBIM

tem o intuito de fomentar boas prática a respeito do BIM por órgãos públicos e

instituições privadas, promovendo a expansão do conceito através de uma

biblioteca bem estruturada. Com objetos condizentes com os encontrados no

mercado nacional, eleva a qualidade e a consistência nos dados gerados que serão

utilizados pela indústria da construção (ABDI, 2018).

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