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Capítulo 6 – Metodologias do Estudo 2

6.2. A natureza do estudo

6.3.2. Observação de ensaios

A observação da realidade estudada permite ir para além das opiniões dos indivíduos e da sua interpretação das questões colocadas em questionários, permitindo constatar e avaliar as suas ações na prática (Gray, 2004). A observação pode ser usada como método suplementar ou de apoio a outros métodos de recolha de dados (Robson, 2002). Adicionalmente a observação como método de recolha de dados permite que se obtenha uma descrição do fenómeno tal como este ocorre naturalmente, o que se insere no propósito descritivo do estudo (Babbie, 2012; Robson, 2002).

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Natureza da observação – Optou-se por realizar o que Robson chama de “observação

discreta” (2002, p. 310). Este tipo de observação, de acordo com o autor, é normalmente não estruturada e informal (Robson, 2002). Neste caso, optou-se por uma observação semiestruturada. Foi feita uma categorização prévia de tópicos que permitiriam sistematizar a observação.41

Vantagens – Uma característica da observação enquanto método é a sua “franqueza”

(Robson, 2002, p. 310), isto é, o uso deste método permite a observação direta do comportamento dos participantes no estudo em vez de se perguntar as suas opiniões ou perceções. Esta “franqueza” permite verificar eventuais “discrepâncias entre” o que os participantes num estudo “expressam e o que efetivamente fazem” (Robson, 2002, p. 310). Outra vantagem importante da observação neste estudo é que esta permite que se obtenham dados contrastantes e que se complementem à informação obtida por quaisquer outros métodos de recolha de dados (Robson, 2002). Robson acrescenta ainda uma outra vantagem da observação como método de recolha de dados, referindo que este permite uma “ausência de artificialidade que é rara noutras técnicas” (2002, p. 311).

Problemas – Um problema por vezes associado a este método de recolha de dados

está relacionado com a subjetividade inerente ao ser humano enquanto observador (Robson, 2002). Expectativas, opiniões pessoais, sentimentos podem afetar o modo como se observa e interpreta. Para reduzir este problema a observação foi estruturada por meio da codificação de categorias previamente escolhidas, conforme será explicado mais adiante neste capítulo.

Outra questão é que o fenómeno observado pode ser afetado pela presença do observador (Robson, 2002). De modo a contornar este possível problema, conforme já foi referido, realizou-se uma observação discreta (Robson, 2002).

Validade dos resultados – A recolha de dados por meio de observação levanta

questões que podem afetar a validade dos resultados. Algumas das possíveis ameaças à validade dos resultados são: (1) a subjetividade inerente ao ser humano enquanto observador, (2) o facto de o fenómeno observado poder ser afetado pela presença do

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observador (Robson, 2002). De modo a contornar estas possíveis ameaças à fiabilidade da observação fez-se o seguinte: (1) sistematizou-se a observação por meio da codificação de categorias previamente escolhidas (Somekh & Lewin, 2005), (2) escolheram-se categorias com ligação às perguntas de investigação, e (3) optou-se por uma “observação discreta” (Robson, 2002, p. 310).

Fiabilidade dos resultados – Algumas das possíveis ameaças à fiabilidade dos

resultados são: (1) o processo subjetivo que está associado à observação de eventos e fenómenos, levando a que diferentes observadores possam identificar coisas diferentes ao observar o mesmo evento (Gray, 2004), (2) perda de dados pertinentes por passar demasiado tempo desde o momento da observação até esta ser registada. De modo a reduzir estas ameaças fez-se o seguinte: (1) realizou-se um registo cuidadoso dos dados recolhidos imediatamente após a realização da observação (no prazo de 24 horas) (Robson, 2002), (2) sistematizou-se a observação com base em categorias previamente selecionadas, e (3) empregou-se triangulação, tanto quanto possível (Gray, 2004).

Generalização dos resultados – Em qualquer estudo é necessário determinar até que

ponto a realidade observada pode ser generalizada (Gray, 2004). Uma possível ameaça à generalização dos resultados obtidos por meio deste método de recolha de dados seria os ensaios observados terem um contexto específico não comparável ao de orquestras não observados. Conforme já referido a propósito da generalização dos resultados dos questionários (ver secção 6.3.1), de modo a contornar este possível problema fez-se o seguinte: (1) foram escolhidas escolas e orquestras que ilustrassem de forma fidedigna a realidade das orquestras no ensino especializado da música em Portugal, escolas do ensino público e escolas do ensino particular; (2) foi observado um ensaio de cada uma das nove orquestras existentes nas quatro escolas incluídas neste estudo.

6.3.3. Entrevistas

As características das entrevistas enquanto método de recolha de dados já foram descritas no capítulo 4 (ver secção 4.3.1.), a propósito do primeiro estudo realizado. No entanto, a natureza das entrevistas realizadas no âmbito deste segundo estudo foi

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diferente, em virtude de neste estudo terem desempenhado o papel de método complementar de recolha de dados.

6.3.3.1. Entrevistas informais

Neste segundo estudo optou-se por entrevistas informais. As entrevistas informais são um tipo de entrevista não estruturada, habitualmente curta e realizada com o objetivo de esclarecer aspetos relevantes recolhidos por meio de outro método de recolha de dados (Robson, 2002), neste caso a observação de ensaios. As entrevistas informais são frequentemente direcionadas para participantes “chave” do fenómeno estudado (Gray, 2004, p. 218), neste caso os professores das classes de orquestra.

Vantagens – As entrevistas informais oferecem a vantagem da sua flexibilidade –

permitir que o entrevistador oriente a entrevista de acordo com o que sucede na própria entrevista –, bem como a espontaneidade que permite por parte dos entrevistados (Gray, 2004). Desse modo, por meio deste método de recolha de dados podem obter-se informações não captadas por meio de outros métodos e não antecipadas pelo entrevistador.

Problemas – Ao realizar entrevistas informais, o entrevistador pode influenciar o

decurso e a direção da entrevista dado que, com frequência, o investigador conhece pessoalmente o entrevistado (Gray, 2004). Um outro problema frequentemente associado à implementação deste método é o de gerarem informação difícil de analisar, como resultado de se fazerem perguntas diferentes a diferentes participantes (Gray, 2004). Para obstar a estes dois problemas o investigador abordou os mesmos tópicos com os diferentes entrevistados, como que semiestruturando a entrevista (Gray, 2004).

Validade dos resultados – Uma ameaça comum à validade deste método de recolha

de dados resulta da qualidade do registo efetuado durante a entrevista. Neste tipo de situações de caráter informal, normalmente não se faz registo áudio ou vídeo das entrevistas (Robson, 2002). De modo a minimizar esta possível ameaça registou-se prontamente o conteúdo das entrevistas (Robson, 2002).

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Fiabilidade dos resultados – Usualmente a fiabilidade dos resultados de entrevistas

pode ser reforçada por se colocarem as mesmas perguntas aos diferentes participantes (Gray, 2004). No entanto, no caso específico das entrevistas informais a consistência dos resultados pode ser obtida através da abordagem dos mesmos tópicos com os diferentes entrevistados, como que semiestruturando a entrevista (Gray, 2004) e por incluir na investigação triangulação de dados e de métodos (Robson, 2002).

Generalização dos resultados – As entrevistas informais pela sua natureza e pelas

características acima descritas não geram dados generalizáveis.