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OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

No documento AS NOVAS SUBJETIVIDADES NEOLIBERAIS: (páginas 33-36)

Mapa 2 Distribuição de startups no bairro de Mitte, Berlim

5.4 OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

Utilizamos o método da observação participante (MALINOWSKI, 1922; FLICK 2008; ANGROSINO 2009) nas duas startups onde tive a oportunidade de trabalhar. Com esta técnica, i emo o obje i o ab or er n ance n o di a do campo (ANGROSINO, 2009), al m de coletar informações sobre os espaços físicos onde as startups estão instaladas, suas equipes, hierarquias e relações de poder dentro do organograma básico destas empresas. Em um segundo momento, também demos atenção aos detalhes relacionados aos processos de trabalho de cada equipe e a colaboração entre elas.

33 Outros ambientes, para além dos escritórios, também podem ser incluídos como parte deste processo, a exemplo de algumas viagens feitas junto a uma das startups, as visitas que fiz a escritórios de outras startups, e alguns eventos sobre design e empreendedorismo que pude participar.

Aprofundando o breve comentário feito na seção sobre considerações éticas, gostaríamos de ressaltar que os dados resultantes da observação participante provêm da mescla de um relato espontâneo pessoal sobre as vivências que tive ao trabalhar nas duas startups mencionadas, com uma abordagem de observação participante propriamente dita e planejada. A porção mais espontânea está relacionada ao período que trabalhei na Startup 1, entre maio de 2018 e agosto de 2019, posto que levei um certo tempo para efetivamente readequar a pesquisa após a mudança de país, para finalmente focar no ambiente onde tinha começado a trabalhar já há alguns meses. Na Startup 2, uma vez que os caminhos da pesquisa já estavam mais maduros naquele momento, pude empregar uma análise mais robusta a partir dos nossos pontos de observação.

Os dados resultantes deste método serviram como base para elaborarmos uma descrição etnográfica sobre pontos de interesse da observação participante. Procuramos, através desta, analisar detalhes valiosos que nos ajudaram a entender de uma forma mais holística os dados subjetivos coletados pelas entrevistas semiestruturadas, além de adicionar valores para o estudo a que nos propomos, como bem nos lembra Geertz:

Segundo a opinião dos livros-textos, praticar a etnografia é estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário e assim por diante. Mas não são estas coisas, as técnicas e os processos determinados, que definem o empreendimento. O que o define é um tipo de esforço intelectual que ele representa: um risco elaborado para uma descrição densa (GEERTZ, 1978, p. 15).

34 SEGUNDA PARTE: WILLKOMMEN IN BERLIN

6 O CONTEXTO SOCIAL DAS STARTUPS EM BERLIM

Berlim, capital da Alemanha, é uma cidade-estado circundada pelo estado de Brandemburgo, região nordeste do país, sendo a maior cidade da Alemanha em termos de área (mais de 30.000 km²) e população (3.748.148 pessoas), de acordo com dados publicados pelo Amt für Statistik Berlin-Brandenburg (Escritório de Estatísticas de Berlim-Brandemburgo), em 2018. Entre as suas principais características topográficas, destaca-se a grande planície onde a cidade está localizada, os rios Spree e Havel, e uma grande quantidade de lagos distribuídos principalmente nas regiões oeste e sudeste da cidade, que costumam ser bem aproveitados pela população durante o verão.

O passado da cidade remonta capítulos conturbados da política mundial por ter sido sede do regime totalitário nazista, sendo um dos principais palcos da segunda guerra mundial, e posteriormente, da guerra fria entre o ocidente capitalista e a antiga União Soviética. A queda do muro, após mais de 28 anos dividindo a cidade ao meio, se tornou um marco contemporâneo da democracia e do enfraquecimento do socialismo.

O choque de ideias e as formas de vida distintas que se encontraram no início dos anos 90 ainda hoje estão em pauta na cidade. Há quem diga que o sentimento de um país único ainda se encontra em formação.

Depois da queda do muro, a euforia capitalista tomou conta da cidade. A economia se aqueceu, o mercado imobiliário cresceu substancialmente em um dos seus maiores momentos de expansão. Contudo, a cidade não acompanhava o ritmo do restante do país, até finalmente, na virada do milênio, voltar a ter um real crescimento econômico, com saltos significativos de pessoas empregadas (290 mil empregos criados entre 2005 e 2015) e um crescimento acelerado ano após ano. Contudo, estes períodos difíceis do passado ainda se refletem no presente da economia da cidade. A taxa de desemprego continua acima da média nacional, e a média salarial abaixo. Com efeito, Berlim é a única capital europeia cujo Produto Interno Bruto (PIB) é inferior da respectiva média nacional (FRATZSCHER, M. et al, 2016).

Todavia, como dito anteriormente, a cidade vive um crescimento sólido nos anos mais recentes, com o PIB da cidade totalizando 145.5 bilhões de euros no ano de 2018, o que representa um aumento de 3,1% em relação ao ano de 2017. Os principais alavancadores do crescimento econômico da cidade se devem às áreas de indústria cultural, economia da internet, e indústrias de pesquisa e inovação.

35 Quase nenhuma outra metrópole experimentou mudanças tão violentas e frequentes como Berlim viveu, tendo sido inclusive quase que totalmente destruída na Batalha de Berlim, um dos capítulos derradeiros da segunda guerra mundial. Estes fatos reinventaram a arquitetura e cultura da cidade por diversas vezes na história.

Em síntese, a cidade de Berlim é um museu a céu aberto, que abriga um conjunto vasto de memórias que parecem se entrelaçar. Elas são fisicamente evidentes na cidade até hoje em centenas de monumentos, em marcas de bala nas paredes deixadas pela guerra e outras cicatrizes visíveis, como a igreja bombardeada de Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche, próxima a estação de trem icônica do Zoologischer Garten, e um grande resquício do muro de Berlim localizado na East Side Gallery, no bairro de Friedrichshain, mantido para preservar a memória e o sentimento de uma Alemanha reunificada (LADD, 2008).

Embora conviva com estas marcas, Berlim hoje é uma cidade global, vibrante, cosmopolita, de forte discurso progressista em meio a uma Alemanha que vê com olhos estarrecidos o crescimento alarmante do partido de extrema direita Alternative für Deutschland (AfD).

No documento AS NOVAS SUBJETIVIDADES NEOLIBERAIS: (páginas 33-36)