• Nenhum resultado encontrado

AS CONCESSÕES DE FERROVIAS NO BRASIL

6. Observações finais

Neste capítulo, apresentamos a reforma regulatória empre- endida pela ANTT a partir de 2011 e analisamos seus principais problemas. Desembocamos na segunda etapa do Programa de Investimento em Logística, que cristaliza o abandono do modelo proposto pela nova regulação.

A decisão de mudar radicalmente o modelo de regulação das ferrovias partiu do diagnóstico de que as concessionárias estavam apresentando margens de lucro elevadas e tinham pouco interesse em expandir a malha ferroviária. As alterações no cálculo tarifário e o unbundling têm mais a ver com o pri- meiro ponto; a proposta de adoção do modelo desverticalizado com garantia de compra de toda capacidade pela Valec, com o segundo. Assim, o intuito principal da reforma era promover novos investimentos e a modicidade tarifária.

Em que pese sua boa intenção, a reforma de 2011-12 elevou o risco político-regulatório de investir no setor ferroviário. Pri- meiro, pelo papel dado à Valec nas novas concessões. Segun-

12 Ver “Para atrair investimento, governo eleva taxa de retorno em ferrovias”, Valor Econômico, 15 dez. 2015, p. A4.

110 20 ANOS DE CONCESSÕES EM INFRAESTRUTURA NO BRASIL

do, porque mudanças profundas em modelos que vêm dando resultado geram expectativas sobre novas alterações futuras. Terceiro, pela forma como os tetos tarifários foram “revistos” em 2012, desconsiderando o equilíbrio econômico-financeiro original da concessão. Por conta disso, nenhuma das novas concessões previstas no PIL se concretizou.

Dessa forma, fica evidente a fragilidade da estratégia do Governo para fomentar novos investimentos, objetivo de pri- meira ordem quando do início da reforma regulatória. É ver- dade que o modelo da privatização teve pouco impacto em termos de investimentos na construção de novas ferrovias. No entanto, a tentativa do Governo de remediar essa situação por meio da instauração de um modelo bastante questionável aca- bou por inviabilizar as novas concessões no setor. Por conta disso, decidiu-se abdicar da separação das atividades de ges- tão da infraestrutura e de transporte no PIL 2.

Nos demais aspectos, entretanto, o pacote atual se asse- melha sobremaneira ao original. Assim, as questões que per- meavam o primeiro PIL continuam a ecoar: por que faz senti- do investir nos trechos escolhidos pelo Governo se a iniciativa privada não se interessou em fazê-lo? Para viabilizar esses in- vestimentos, o Governo se comprometeu a conceder elevados subsídios por meio do BNDES. Será esse o melhor uso desses recursos? Por fim, cabe ressaltar que o estabelecimento de me- tas por trecho vai contra a modicidade tarifária, outro objetivo caro ao Governo, já que a microrregulação tira graus de liber- dade na busca de eficiência e implica aumento do custo admi- nistrativo das concessionárias.

Em suma, a grande instabilidade regulatória que continua a prevalecer no setor ferroviário, somada à forte deterioração econômica do país – que levanta dúvidas quanto à capacidade de financiamento subsidiado pelo BNDES –, deixam-nos pouco otimistas quanto às concessões de ferrovias no PIL 2.

111

AS CONCESSÕES DE FERROVIAS NO BRASIL

Referências Bibliográficas

BITZAN, J. Railroad costs and competition: implications of introducing competition on railroad networks. Journal of Trans- port Economics and Policy, v. 37, n. 2, maio 2003.

CAMPOS NETO, C. et al. Gargalos e demandas da infraestru- tura ferroviária e os investimentos do PAC: mapeamento IPA de obras ferroviárias. Texto para Discussão, n. 1465. Brasília: Instituto

de Pesquisa Econômica Aplicada, 2010.

CANTOS SÁNCHEZ, P. Vertical relationships for the Europe- an railway industry. Transport Policy, v. 8, 2001.

CASTRO, N. Estrutura, desempenho e perspectivas do trans- porte ferroviário de carga. Pesquisa e Planejamento Econômico,

v. 32, n. 2, 2002.

DREW, J.; NASH, C. A. Vertical separation of railway infras- tructure — does it always make sense? Institute for Transport Stu- dies, University of Leeds, Working Paper 594, 2011.

van de Velde, D., et al. EVES – Rail – Economic effects of vertical separation in the railway sector. 2012. Disponível em: <www.cer.be/sites/default/files/publication/EVES-Rail_-_Final__ v6.4.3__SUMMARY.pdf>.

FLEURY, P. Evolução do desempenho das ferrovias brasilei- ras privatizadas – 1997 a 2010. Disponível em: <www.ilos.com.br/

web/index.php?option=com_content&task=view&id=1917&Itemi- d=74&lang=br>.

_______. Ferrovias brasileiras: dez anos de privatização. Rio de Janeiro: Instituto de Logística e Supply Chain, 2007.

IVALDI, M.; MCCULLOUGH, G. Subadditivity tests for ne- twork separation with an application to US railroads. Review of Network Economics, v. 7, n. 1, mar. 2008.

112 20 ANOS DE CONCESSÕES EM INFRAESTRUTURA NO BRASIL

KVIZDA, M. Impacts of unbundling on competitiveness of railways. Zeleznicna Doprava a Logistika, 2/2010.

MARCHETTI, D. Estratégia Geral, Ações Necessárias e Previ- são de Investimento nos Setores Portuário, Ferroviário e Rodovi- ário. Em: E. Torres, F. Puga e B. Meirelles (orgs.), Perspectivas do Investimento 2010-2013, BNDES, 2010.

MULDER, M.; LIJESEN, M.; DRIESSEN, G. Vertical separation and competition in the Dutch rail industry: a cost-benefit analy- sis. Em: Terceira Conferência sobre Railroad Industry Structure, Competition, and Investments, out. 2005, Estocolmo.

POMPERMAYER, F. M.; CAMPOS NETO, C. A. S.; SOUZA, R. A. F. Considerações sobre os marcos regulatórios do setor ferro- viário – 1997-2012. Nota Técnica nº 6, IPEA, 2012.

RENNICKE, W.; KAULBACH, A. Myths and realities of rail access and competition issues. The Railway Association of Canada, out. 1998.

RIBEIRO, L. Reformando marcos regulatórios de infraestrutura – o novo modelo das ferrovias. Em: L. Ribeiro, B. Feigelson e R. Frei- tas (coords.), A nova regulação da infraestrutura e da mineração: portos – aeroportos – ferrovias – rodovias, Ed. Forum, 2015.

SOUZA, R. A.; PRATES, H. F. O processo de desestatização da RFFSA: principais aspectos e primeiros resultados. BNDES, [s.d.].

SPULBER, D. F. Regulation of markets. MIT Press, 1989.

WETZEL, H.; GROWITSCH, C. Economies of scope in Euro- pean railways: an efficiency analysis. Texto para Discussão nº 5,

Halle Institute for Economic Research, abr. 2006.

YVRANDE-BILLON, A.; MENARD, C. Institutional constraints and organizational changes: the case of the British rail reform.

Journal of Economic Behavior & Organization, Elsevier, v. 56, n.

4, 2005. Disponível em: <http://ideas.repec.org/a/eee/jeborg/ v56y2005i4p675-699.html>.

113

20 ANOS DE REGULAÇÃO DAS