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Ocupações geradas pela inclusão digital e difusão do software na economia

4. Diretrizes POLÍTICAS PARA DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE

4.4. Massificação do uso de software: o lado da oferta

4.4.3. Ocupações geradas pela inclusão digital e difusão do software na economia

O termo ocupação engloba os empregos para trabalhar com desenvolvimento de software, seja na indústria de software ou fora dela, a criação de novas empresas, a possibilidade de se trabalhar como autônomo, a participação em comunidades de software livre, etc. Há razões para se acreditar que o mercado brasileiro de software mantenha uma trajetória de forte crescimento. Como se comporta a geração de ocupações no mercado de software, buscando atender a demanda gerada pela inclusão tanto de indivíduos quanto de organizações?

No caso da inclusão digital, são pessoas de baixa renda incluídas no rol dos consumidores de produtos e serviços digitais. O incentivo direto à indústria de software é baixo, pois as necessidades tendem a ser atendidas por softwares existentes, gratuitos ou obtidos de modo ilegal. O principal incentivo é indireto: um maior número de pessoas que pode acessar serviços e outros produtos digitais, como serviços públicos, compras eletrônicas, localização, jornais, revistas, etc. A criação e disponibilização destes serviços incentiva diretamente a indústria de software.

Com relação à difusão, a demanda é majoritariamente atendida por soluções existentes. A comercialização de uma unidade marginal de um produto de software proprietário requer apenas os investimentos complementares para implantação e manutenção. Se o software difundido for de propriedade multinacional, o efeito no emprego da unidade de produto adicional comercializada está restrito aos serviços de manutenção, implementação e treinamento, complementares ao produto instalado.

Três situações precisam ser distinguidas no atendimento da demanda por difusão: a) produtos proprietários nacionais; b) produtos proprietários estrangeiros; c) produtos livres. Nos três casos, a geração de ocupações no curto prazo pela difusão dos softwares é muito semelhante, pois todos eles envolvem apenas atividades de serviços complementares. A diferença está na geração de ocupações futuras. A diversificação da demanda que ocorre após a difusão inicial exige investimentos em desenvolvimento de novas aplicações e inclusão de novas funcionalidades nas aplicações existentes. Nos casos de softwares proprietários nacionais e produtos livres, a atividade de desenvolvimento ocorrerá em território nacional, gerando ocupações por aqui. No caso dos produtos estrangeiros, o desenvolvimento será realizado no exterior, mantendo a restrição de empregos nos serviços complementares.

Para aumentar as ocupações locais decorrentes da demanda gerada pela expansão intensiva atendida por produtos e serviços digitais prontos, vislumbram-se algumas estratégias: a) atrair as atividades de desenvolvimento de software das multinacionais, de forma a manter localmente parte da renda gerada pela comercialização de produtos de software; b) utilizar produtos de empresas que desenvolvem software no país; c) reforçar o uso de produtos abertos e livres, onde as externalidades de rede e os ganhos de escala não necessariamente levam à concentração do mercado, permitindo a apropriação da tecnologia pelos empreendedores locais, aumentando as

possibilidades de criação de novos produtos e serviços em torno do padrão. Os softwares livres têm modelo de negócios de serviços, onde as barreiras à entrada são menores, o que é benéfico aos países que não lideram o mercado.

A primeira estratégia, atração de empresas multinacionais para produção local, seria similar a uma estratégia de substituição de importações. No caso da indústria de software, a principal estratégia de atração seria a oferta de mão-de-obra barata e qualificada e isenção de impostos. Apoiar a difusão de softwares na economia com softwares proprietários estrangeiros, embora no curto prazo possa ter custos menores, no longo prazo esta opção limita o desenvolvimento da indústria e as possibilidades de aprendizado. Apenas softwares bem específicos, únicos no mundo, justificam sua adoção. Para massificar o uso de softwares mais genéricos, a opção por softwares proprietários estrangeiros não é necessária, pois existem, em muitos casos, substitutos equivalentes livres ou nacionais.

A segunda estratégia, uso de softwares de empresas que têm desenvolvimento no país, tem como problema a grande fragmentação de produtos brasileiros de software. Apresenta como problema em relação ao software livre o gene da concentração do mercado, que tende a elevar os preços dos produtos e, desta forma, reduzir a difusão.

A terceira alternativa, a aposta em produtos abertos e livres, apresenta como dificuldade vencer a concorrência dos produtos proprietários e todo seu arsenal de efeitos de rede e lock-in. Para países como o Brasil, em que os produtos de software são dominados por empresas estrangeiras e a máxima difusão da tecnologia representam um objetivo importante, os produtos abertos e livres apresentam algumas vantagens em relação aos proprietários: i) não há necessidade de pagamento de licença, recursos que poucos benefícios diretos trazem ao país, pois são diretamente apropriados pela firma proprietária do software e remetidos ao exterior para remunerar acionistas e financiar a P&D64, que, no caso dos produtos livres, podem ser investidos em capacitação, compra de serviços, etc.; ii) possibilidade de estudar a tecnologia, utilizar o software para criação de outros produtos; iii) potencializa os modelos de negócios de serviços, gerando mais empregos locais.

64 Uma parcela da renda de licenças permanece localmente, com intermediários e na forma de investimentos em marketing e outras atividades que

As três formas de atuação não são excludentes. Em alguns casos, a difusão com software livre não é viável; em outros, há um software nacional muito bom que ganha a concorrência; em outros, o software proprietário estrangeiro goza de tantos efeitos de rede que o uso de qualquer outra solução torna-se inviável.