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Oferta de softwares e serviços para pessoas físicas

4. Diretrizes POLÍTICAS PARA DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE

4.4. Massificação do uso de software: o lado da oferta

4.4.1. Oferta de softwares e serviços para pessoas físicas

A inclusão digital difunde o software entre setores de baixa renda da sociedade, que passam a utilizar os programas e tê-los como parte de seus cotidianos, superadas as barreiras e dificuldades inerentes à inclusão, descritas na seção anterior. Bem sucedida, uma importante conseqüência da inclusão digital é a possibilidade de criação de um mercado de software e serviços relacionados nos territórios que foram objeto de políticas de inclusão digital. Boa parte desta demanda pode ser atendida por produtos e serviços já existentes, característica do crescimento horizontal do mercado de software, expansão intensiva, formada pela inclusão de novos consumidores.

A necessidade criada pela inclusão digital são de software voltados para pessoas físicas. Não envolvem apenas aqueles executados em micro-computadores. Com a convergência das tecnologias de informação e comunicação, os equipamentos são variados, incluindo celulares, palmtops, televisão digital (ainda apenas uma promessa). Os softwares voltados para pessoas físicas podem ser classificados quanto à especificidade, dos mais específico para os mais genéricos. No estágio inicial da inclusão digital, o usuário entra em contato com os softwares

mais básicos e de uso genérico, como sistema operacional, editores de texto, navegação na internet, e-mail, softwares de mensagens instantâneas, players de músicas, etc.

Após este estágio inicial, a demanda tende a direcionar-se para softwares e serviços mais específicos, mas a maioria deles, provavelmente, também já são existentes. A potencialidade de novos serviços está em bens complementares ao software, tais como, entretenimento, utilidades, vendas, etc., específicos a cada localidade, desenvolvidos e comercializados localmente, em modelos de negócio existentes ou para serem criados.

As características destas populações, baixa renda, marginalizadas e excluídas do mercado formal, representam barreiras para o florescimento desta demanda. Por este motivo, é importante que a inclusão digital venha acompanhada de políticas de formação destas populações em desenvolvimento de tecnologias de informação e incentivos ao empreendedorismo local. Este mercado gerado pela inclusão digital não é foco de atenção do mercado formal de produtos e serviços de software e, dificilmente, será atendido por ele, tamanha a distância que separa estes dois mundos60. Por isso, os produtos e serviços devem ser criados localmente e o Estado deve proporcionar políticas que possibilitem o florescimento deste mercado61. O aumento recente no consumo das classes populares, incentivados pelo aumento do emprego, programas sociais de distribuição de renda e maior oferta de crédito, mostra-nos que há uma demanda potencial em mercados voltados para as massas, inclusive para produtos e serviços de software e correlatos.

A inclusão digital leva as tecnologias da informação a milhares de pessoas de baixa renda, majoritariamente jovens. A inclusão, conforme vimos, ocorre em diversos canais – escola, casa, telecentros, trabalho – e implica que estas pessoas passam a ter acesso freqüente a computadores, software e internet. Configura-se uma base para que recebam produtos e serviços de naturezas diversas.

Da mesma forma que a partir do acesso à energia elétrica torna-se possível o uso de eletrodomésticos, o acesso a computador e internet permite que se utilize produtos e serviços disponíveis nesta infra-estrutura. Os incluídos digitalmente devem ser vistos como novos

60 Dificilmente a IBM, Accenture, Microsiga, CPM, Politec, Oracle, Microsoft, etc – grandes empresas de software, nacionais e estrangeiras – ou

pequenas empresas criadas em incubadoras universitárias ou do Softex, para citar alguns exemplos do que estou chamando de mercado formal, subirão a favela e atenderão demandas específicas das periferias das cidades brasileiras.

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consumidores de serviços e produtos digitais, e devem-se criar produtos e serviços voltados para esta população. Os serviços públicos62 devem ser levados a estas populações recém-incluídas: marcação de consultas médicas em postos de saúde, consultas e solicitações de benefícios sociais, boletins de ocorrência e demais interações do Estado com os cidadãos; propagandas, peças publicitárias, divulgação de eventos, promoções, etc., de caráter local, como a divulgação dos serviços de costura de mochilas da D. Maria, dos salgadinhos vendidos pelo seu José, do “sacolé” vendido pelos filhos do seu João63, etc; comércio eletrônico local; jogos eletrônicos on-line, etc. O potencial para a inclusão social encontra-se no desenvolvimento dos serviços locais, que muitas vezes envolve a programação de softwares, páginas na internet, bancos de dados, etc. A marginalização das periferias e seu isolamento praticamente criam uma reserva de mercado para moradores e pessoas que conhecem a realidade local.

A política voltada para a oferta de produtos e serviços para pessoas físicas incluídas digitalmente deve envolver, principalmente, a formação de pessoas de baixa renda em tecnologias de informação e o fomento à criação de organizações (firmas, cooperativas, organizações sem fins lucrativos, etc.) voltadas à criação de produtos e serviços para o público local recém-incluído digitalmente.

A formação dos jovens deve envolver não apenas conteúdos técnicos, referentes às Tecnologias de Informação, mas também como vislumbrar oportunidades de negócio e formas de empreender, uma interseção com as políticas de fomento à criação de novos empreendimentos.

A criação de novos empreendimentos deve ser incentivada pela redução dos custos de abrir empresas, incubação, com atividades de acompanhamento e assistência para a gestão, análise do mercado, etc. e interação com universidades e colégios técnicos, que possuem experiência tanto para a formação em desenvolvimento de software quanto em incubação de empreendimentos. O envolvimento da sociedade civil organizada local e a intensificação da inclusão digital são pontos críticos da política.

62 O governo eletrônico originou uma das primeiras ações de inclusão digital, o GESAC, que significa Governo Eletrônico – Serviços de

Atendimento ao Cidadão.

63 Pode-se esperar que as partes tristes desta realidade, como o tráfico de drogas, prostituição, trabalho infantil e outras mazelas que assolam estas