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5.6 Descrição das práticas reabilitativas do Centro de Convivência

5.6.1 Oficinas

As oficinas ofertadas pelo Centro de Convivência na época da imersão no campo eram bijuteria, música, artesanato, desenho/pintura, mosaico, gravura, costura, artes cênicas, bonecos de cabaça, bonecos de pano, escultura, cerâmica.

As oficinas do Centro de Convivência não se constituem num espaço pertencente à arteterapia. Não tem como objetivo prioritário um produto ou a formação de artistas. A participação nas oficinas facilita o processo em aumentar o horizonte cultural, aumentar a autoestima, trabalhar com as potencialidades, descobrir talentos, na formação de identidade, estimular a expressividade, a criação e improvisação do trabalho coletivo, a autonomia, entre outras perspectivas. A descoberta de talentos, os produtos comercializáveis, os efeitos terapêuticos, a circulação das obras, o retorno aos estudos ou ao trabalho muitas vezes acontecem de forma natural e espontânea, assim como a inserção de alguns usuários em grupos artísticos, como o Sapos e Afogados, Trem TAM TAM, São Doidão, acontecem por meio da participação nas oficinas de artes cênicas e música no Centro de Convivência, por exemplo. Além disso, as atividades desenvolvidas nas oficinas podem fomentar a participação em outros espaços de trabalho formal e informal, tanto na área artística, como em outras áreas profissionais. As participações nas oficinas podem melhorar a relação familiar dos usuários e também podem aumentar o reconhecimento do trabalho desenvolvido no Centro de Convivência, possibilitando, assim, certa diminuição no preconceito por parte dos familiares, dos vizinhos, amigos, enfim, da sociedade.

Como citado anteriormente, entre as oficinas que são oferecidas pelo Centro de Convivência, a mestranda escolheu participar das oficinas de música, mosaico e costura.

Na oficina de música, o monitor se organiza por meio de um repertório inicial de músicas que são sempre cantadas nas oficinas, como se fosse um “aquecimento”. Os usuários têm total liberdade de trazer as músicas que têm preferência em cantar durante a oficina.

Há a utilização de instrumentos musicais considerados mais simples, como pandeiro e chocalho, e outros mais complexos, como violão, flauta e teclado. Na oficina, há alguns usuários que estão aprendendo a tocar violão com o monitor. As lições são dadas durante o decorrer da oficina. O monitor também ensina a tocar flauta; geralmente, são um ou dois usuários que se interessam por esse instrumento musical. Também são nas oficinas de música que alguns usuários aproveitam para compor músicas, contando com o auxílio do monitor.

Na oficina de mosaico, se aprende a arte de que com pedacinhos de azulejo se consegue dar formas e asas à imaginação. A mestranda ouviu de alguns usuários que não participam da oficina de mosaico por achar difícil, por exigir demais, principalmente, da paciência. Realmente isso foi percebido pela mestranda. Na oficina de mosaico, também se pratica a arte de exercitar a paciência e o compartilhamento dos instrumentos, como, por exemplo, a turquesa. Mesmo assim, a oficina geralmente conta com um número grande de usuários. O mosaico feito pelos usuários decora peças (que são, geralmente, de madeira) como porta-chaves, apoio de panelas, bandejas, porta pano de prato, caixinhas de madeira, cofrinhos, vasos de flor. Nessa oficina, a mestranda percebeu que a monitora por ser muito comunicativa com os usuários, os instigava a conversar sobre vários assuntos durante a oficina. O que fazia da oficina um ambiente descontraído e acolhedor.

Na oficina de costura, são confeccionados jogos americanos, bolsas, colchas, sacolas, entre outros produtos. Aprende-se a costurar e a bordar. Há apenas uma máquina de costura compartilhada pelos usuários. Cada momento um usuário a utiliza com a orientação da monitora. É uma oficina que os usuários também conversam bastante entre eles. Falam de assuntos variados: notícias, novelas, esporte etc.

A mestranda não conseguiu participar dessa oficina até o final de sua pesquisa no Centro de Convivência pelo fato de a monitora ter tirado licença no fim do mês de outubro, por questões de saúde.

Por meio das oficinas de música e artes cênicas, surgiu o grupo artístico236 do Centro de Convivência, que já completava dois anos de existência. O grupo nasceu a partir de uma apresentação elaborada para um trabalho de intervenção em todos os Centros de Saúde da regional. Isso com o objetivo de dar uma maior visibilidade ao trabalho realizado no Centro

de Convivência, como também proporcionar uma maior interlocução com os Centros de Saúde da regional.

O grupo tem como característica em suas apresentações a mistura de músicas, poesias e performances do teatro. As apresentações são denominadas como intervenção cênico- musical. Os monitores responsáveis pelos ensaios, coordenação e produção geral do grupo são os das oficinas de música e artes cênicas. Eles também compõem o elenco das apresentações do grupo. O grupo artístico já foi convidado a se apresentar em inúmeros e variados eventos. Geralmente, eles pedem apenas uma contribuição com o transporte e lanche. A apresentação do grupo se constitui de cancioneiros populares, músicas e, inclusive, poesias de autoria dos próprios usuários participantes. Cada usuário se apresenta segundo sua singularidade e potencialidade trazida por cada um deles em contribuição na composição da peça.

A mestranda participou de um ensaio do grupo. Os ensaios acontecem uma vez por semana. Além de ensaiarem as partes que compõem a apresentação, o grupo troca ideias, impressões das últimas apresentações, sugestões e o acerto de detalhes. Os usuários são protagonistas em tudo: na criação das falas, na produção das vestimentas, na organização da apresentação e em outras atividades do grupo.

Os produtos confeccionados em oficinas, como a de Mosaico e Costura, podem ser comercializados ou podem ficar com o usuário que produziu. A gerente destaca a importância de esses produtos serem comercializados, até mesmo, para que ocorra a circulação desses produtos e, assim, outras pessoas podem conhecer o trabalho desenvolvido pelo Centro de Convivência.

O preço/valor de cada produto é negociado entre o usuário e seu monitor. Não passa pela intervenção da gerência. Cada caso é um caso. As soluções e negociações são feitas com cada usuário, individualmente, esclarece a gerente. Ela também destaca que tem Centro de Convivência que as peças passam por um melhor acabamento, mas, para isso, muitas vezes as peças não são feitas exclusivamente pelas mãos do usuário. Assim, o Centro de Convivência pesquisado pela mestranda possui uma recomendação de que todos os produtos sejam feitos apenas pelo usuário, mesmo que o acabamento não fique tão bom, tão perfeito. Os usuários são incentivados a todo o momento a fazerem eles mesmos. Desde o desenho até o momento final de confecção do trabalho.

O valor da venda do produto é dividido entre o usuário e o serviço, sendo 70% para o usuário e 30% para o Centro de Convivência, que fica para a “caixinha” do serviço. O dinheiro da “caixinha” é utilizado para pagar lanches ou outras despesas adicionais do serviço. A gerente diz que sempre argumenta com os usuários a importância que esses

produtos tenham uma circulação para fora do Centro de Convivência em vez de as peças ficarem apenas com as pessoas envolvidas com o serviço.