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4 GRUPOS REFLEXIVOS DE HOMENS E A PERSPECTIVA DE

4.4 Oficinas dos encontros do grupo reflexivo

Nos 10 encontros realizados, são utilizados recursos audiovisuais, corte, colagem, dinâmicas, textos e músicas e os homens conseguem estabelecer reflexões pertinentes à temática de violência de gênero agindo de forma respeitosa com as facilitadoras, funcionários do prédio e demais participantes. Foi observado, pelos relatórios e documentos de registros do NAMVID, que houve comprometimento dos participantes com os encontros, boa participação e

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Súmula 536 STJ. A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.

contribuição para as discussões em grupo, não apresentando resistência às atividades em grupo, nem às facilitadoras.

Nos encontros, os participantes voluntariamente expressam sobre a importância do grupo para suas vidas, que o mesmo grupo deveria ocorrer nas comunidades como forma preventiva, e relataram o desejo da continuidade aos encontros. Diante disto, os participantes se disponibilizam a gravar um vídeo relatando sobre a experiência do trabalho desenvolvido na participação no grupo. Enfatiza-se que, no decorrer das atividades, os homens revelam, em reflexão crítica, que nos serviços oferecidos na rede de atendimento à mulher, não são oportunizados espaços de escuta para eles, além de observarem um déficit na qualidade dos serviços prestados pelos profissionais da rede de atendimento à mulher vítima de violência doméstica e familiar, principalmente no que concerne à apuração dos fatos.

Os atendimentos individuais acontecem na sede do NAMVID, assim como os encontros em grupo. O grupo é composto por, no máximo, 15 homens, que participam de 10 encontros, em grupo fechado e, ao final de cada encontro, os participantes e técnicos assinam uma lista de frequência. Os encontros ocorrem uma vez por semana, por aproximadamente duas horas.

O primeiro encontro é voltado para a apresentação pessoal de cada participante, através de dinâmicas de grupo. Este encontro também objetiva o esclarecimento de dúvidas que surjam, além de ser o momento em que se estabelecem as regras de convivência, se sensibiliza sobre a importância do sigilo, se conhecem as expectativas dos integrantes do grupo, se coloca a importância dos encontros e, por fim, faz-se a apresentação e discussão do filme ―Acorda Raimundo... Acorda!‖55

, dele se extraindo a reflexão sobre os papéis familiares e conflitos de convivência.

Já no segundo encontro se faz a introdução das discussões de gênero com o desenvolvimento de dinâmicas sobre o que é ser homem e o que é ser mulher, trazendo para o debate questões biológicas, sociais, históricas e culturais. Além disso, se inserem também neste encontro reflexões sobre a violência.

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Curta-metragem de ficção, com duração de 16 minutos, produzido no Brasil, em 1990, pela CETA- IBASE e Iser-vídeo, direção de Alfredo Alves.

No terceiro encontro, se propicia a discussão acerca da comunicação e a solução de conflitos a partir do diálogo. Nele se faz um trabalho motivacional.

O quarto encontro, por seu turno, se propõe à identificação do comportamento agressivo com fins na prevenção da violência através do controle da raiva e da agressividade.

É no quinto encontro que se introduzem considerações sobre os direitos humanos, trazendo o conceito de direito e suas interfaces.

Chegando ao sexto encontro, o grupo é exposto à história da LMP e de sua execução. Neste momento, se possibilita o esclarecimento de dúvidas sobre questões jurídicas e legais dela advindas.

O sétimo encontro trata sobre o uso abusivo de álcool e outras drogas e se conceitua a dependência química, além de expor o efeito das drogas no organismo, pautando a identificação, a prevenção e o tratamento. Outro tema abordado neste encontro é a convivência familiar, identificando como se percebe a sua dinâmica, focando na importância da comunicação.

No oitavo encontro, se aborda a saúde dos homens, especialmente a sexualidade, esclarecendo sobre as doenças sexualmente transmissíveis, os comportamentos de risco e identificando a violência sexual.

No nono encontro tem-se a avaliação geral da equipe junto com os participantes, a verificação da situação familiar e as expectativas pós-grupo.

O décimo encontro propicia o encerramento com momento motivacional. Geralmente, os homens se organizam e levam lanche para se confraternizarem. É apresentado um questionário avaliativo sobre a participação no grupo, não sendo necessário se identificar. O homem avalia a equipe do NAMVID, as instalações, a forma com que foram recebidos e demais aspectos logísticos e das dinâmicas do grupo. É também gravado um vídeo com quem do grupo deseja participar, falando como foi a experiência de participar no grupo reflexivo. Esse material serve para avalição constante da equipe do NAMVID, fazendo os ajustes que se mostrem necessários.

No que se refere à avaliação, tem-se que se trata de avaliação sistemática e mensal, a qual se inicia no primeiro mês do grupo e se estende até o sexto mês após o encerramento, sendo feita tanto junto ao homem submetido ao grupo, quanto à sua família, através de técnicas de aplicação de questionários e entrevistas de

cunho avaliativo/qualitativo, com fins a verificação da aceitação e do impacto causado pelo grupo no cotidiano dos participantes.

Ademais, também são realizadas avaliações técnicas, as quais se transformam em relatórios que são encaminhados, pela coordenação do NAMVID, ao Poder Judiciário, para fazer parte do processo criminal a que os homens respondem. Tais relatórios são produtos de dados obtidos a partir de entrevistas e questionários aplicados aos integrantes do grupo e também aos seus familiares, além dos colhidos por meio da observação técnica da equipe que desenvolve o projeto.