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2.6 A notícia policial narrativa:

2.6.3 Onde reside o diferencial

A notícia policial narrativa apresenta em sua estrutura prototípica – tal e qual as demais notícias – título, lead e corpo –, só que o seu lead, comumente, aparece em forma de resumo, em função da estrutura textual que compõe esse gênero.

Em relação ao corpo da notícia de modo geral – do segundo ao último parágrafo –, essa parte cumpre a função de apresentar os detalhes das informações que aparecem no lead. Por isso é que se diz que a notícia, em sua estrutura, adota a forma da pirâmide invertida: os eventos são ordenados não por sua sequência temporal, mas a partir do que é considerado mais importante ou mais interessante na perspectiva de quem escreve ou de quem fará a leitura.

Considerando a organização da notícia, Lage (2000) apresenta três fases do processo de produção que norteiam, em linhas gerais, os procedimentos e a utilização dos recursos formais a serem adotados, quais sejam: fase de seleção, fase de ordenação e fase de

nomeação dos eventos. Primeiramente o noticiarista levanta os eventos mais marcantes do

fato noticioso; depois os dispõe na ordem de importância que o fato requer. E para tal, seleciona, de antemão, o léxico que demonstre sutileza e compromisso na abordagem dos fatos.

Não se pode perder de vista que a notícia retrata o que ocorre no mundo, portanto cumpre uma função referencial, primando pela veracidade do que fora apurado. Assim sendo,

não pode lidar com suposições, o que justifica o uso do verbo no modo indicativo. Também não admite construções do tipo: “presenciei”, “vi”, “lá estive”. Quem redige uma notícia tem o dever e a obrigação de manter-se à margem dos fatos que conta, precisa manter a

objetividade. Eis a razão do uso de pronomes de terceira pessoa (pessoais ou possessivos) e

jamais de primeira. É, ainda, inaceitável, a utilização de formas, tais como: “admito”, “concebo”, “penso”. Não é permitido ao redator de notícia tomar posição sobre o fato que noticia. Ele precisa apenas apresentar os dados, adotando o caráter de imparcialidade.(LAGE, 2000, 2005).

Para salvaguardar sua responsabilidade, diante de algumas informações não totalmente apuradas, o redator, muitas vezes, recorre a processos de modalização como: “parece que”, “tudo indica”, “possivelmente” (LAGE, 2005). Com essa atitude, chama a atenção para o cuidado com a veracidade do que noticiou.

Quanto ao estilo de linguagem, apesar da imposição do uso de vocabulário e de recursos gramaticais da coloquialidade – exigência do que considera socialmente correto nos limites da abrangência do jornalismo –, o estilo que corresponde ao gênero notícia, em todas as suas variáveis, deve ser o formal. Mas nem por isso, para manter a coerência enunciativa, devem-se utilizar vocábulos ou construções da língua carregados de rebuscamentos. Daí a razão do emprego de palavras familiares das práticas cotidianas e de orações enunciativas breves obedecendo à ordem canônica.

A progressão temática de toda notícia organiza-se em torno das perguntas: quem?, o quê?, por quê?, quando?, como?, onde?. E é por esse motivo que o lead, que tem a função de apresentar o fato noticioso, também deve cumprir esse mesmo ritual enunciativo. Há uma ordem, pré-estabelecida no jornalismo, para a organização das informações seguidas por essas questões, que seria esta que aqui apresentamos. No entanto, a sequência pode perfeitamente sofrer alteração, dependendo da importância do foco que for imposto, pelo propósito comunicativo, a esses componentes dentro da notícia de modo geral.

Independentemente do foco de atenção, as perguntas são recorrentes ao longo do texto, umas mais e outras menos. Até mesmo para conferir, em sintonia com o lead, a compatibilidade do detalhamento das informações que compõem o vértice da pirâmide invertida do texto.

Se levarmos em conta os princípios de organização básica da notícia, vamos observar que os aspectos estruturais, sejam textuais/formulaicos ou linguísticos, que compõem qualquer modalidade do gênero – notícia esportiva, notícia política, notícia policial –, seguem os mesmos critérios de ordenação.

Quando comparamos, porém, essas diversas categorias no que concerne à forma de organização do lead, percebemos que a notícia policial, – sendo narrativa14 –, se diferencia das demais. Conforme já foi observado, na notícia policial narrativa o lead aparece frequentemente em forma de resumo. Já nos demais tipos, o lead pode configurar-se dessa forma ou não, dependendo das circunstâncias.

Então, a tendência de sistematicidade, atribuída ao ato resumidor na abertura da notícia policial narrativa, infunde o caráter de prototipicidade desse gênero específico. Diante de tal fato, adquire-se um procedimento estratégico a ser utilizado para a produção e a leitura do referido tipo de notícia, procedimento esse que é de grande utilidade para a nossa pesquisa.

14 Insistimos em afirmar que estamos considerando “notícia policial” aquela que envolve ação direta da polícia.

Além do mais, cumpre-nos advertir que, mesmo havendo sobreposição de categorias (ex.: notícia política que envolve ação da polícia), consideramos esse tipo de notícia, antes de tudo, como notícia policial, para manter a coerência com o que entendemos como assim sendo.

3 METODOLOGIA

Para a realização de nossa pesquisa, achamos por bem proceder a uma metodologia de origem das ciências sociais, de caráter etnográfico (ANDRÉ, 1995; CANÇADO, 1994; MOITA LOPES, 1994). Isso porque o nosso objeto de pesquisa envolve:

a) contexto real de sala de aula, em situação de interação: professor – alunos; alunos – professor; alunos – alunos;

b) peculiaridade cultural: gênero e seqüência textuais, a serem explorados em sala de aula;

c) aplicação de mais de três instrumentos para o registro da coleta de dados.

Assim sendo, adotamos, como norteador de nosso trabalho, o método

hipotético/dedutivo de pesquisa (MARCONI; LAKATOS, 2001, 2004), que se inicia pela

percepção de uma lacuna dos conhecimentos, em torno dos quais se estabelece hipótese. Assim, por meio de processo de inferência dedutiva, testa-se o que se previu em termos de ocorrências no âmbito do que se hipotetizou.

Em nossa experiência, particularmente, a lacuna que se levanta envolve, como objeto de estudo, os conhecimentos de docentes no que tange à sua prática de sala de aula, que abrangem atividades com os gêneros e as sequências textuais prototípicas de base, considerando os aspectos pragmáticos, textuais e linguísticos, com projeção na composição dos alunos.

Para tornar mais objetivo nosso procedimento metodológico, seguimos na direção de dois eixos: meios de verificação do objeto de estudo e procedimento de análise.

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