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4. ALTERNATIVA DE SOLUÇÃO

5.3. A TERCEIRA GESTÃO PETISTA

5.3.1. ONG VISIBILIDADE E O LOBBY PELO CONSELHO

Anteriormente à criação da ONG Visibilidade, em março de 2009, alguns de seus membros já eram bastante atuantes em movimentos sociais locais e inseridos em uma rede estadual de militantes. Como já citado, isso foi importante para que Alexandre e outros especialistas tivessem contato com ideias de soluções discutidas por essa rede e as trouxessem para o âmbito local, como na formulação das primeiras legislações sobre questões LGBTs e a sua atuação dentro da comunidade de políticas. Porém, para a instituição do primeiro componente do tripé da cidadania são carlense, o auxílio de outros militantes vinculados ao setorial LGBT do PT foi importante para que as atividades de pressão ostensiva da ONG fossem bem sucedidas.

Em abril, os primeiros integrantes da ONG participaram de um curso de formação para novos militantes e ativistas de movimentos sociais, ministrado por integrantes de grupos

organizados do movimento estadual66, que também pertenciam à coordenadoria executiva do

Fórum Paulista LGBT. No dia seguinte ao curso, a ex-vereadora Silvana Donatti, o presidente da ONG Visibilidade Alexandre Sanches e os membros da executiva se reuniram com o

recém-empossado presidente da Câmara Municipal, Lineu Navarro, para discutirem67

propostas para a criação de políticas LGBTs locais. O teor da reunião não foi abordado nas entrevistas, mas, a partir desse momento, a ONG passou a fazer um uso sistemático da tribuna livre na casa legislativa, sempre que possível apresentando a necessidade de combater a homofobia no município, e a pautar uma maior visibilidade das questões LGBTs na imprensa local. De tal forma que, no mês de agosto, Phamela Godoy, por meio da tribuna livre, cobrou publicamente os parlamentares presentes em plenário a instituição de um conselho de políticas na cidade e matérias vinculadas pela imprensa sobre a realização da 1ª Parada do Orgulho, retratando o evento, mas também os aspectos de discriminação e violência enfrentados pelos LGBTs. Na época, o vereador Lineu respondeu publicamente à ONG

66Paulo Tavares Mariante, então integrante do “Identidade – Grupo de Luta pela Diversidade Sexual de Campinas”; Alessandro Melchior, do “Grupo GADA de São José do Rio Preto”; Dario Neto; e Rick Ferreira. 67 Matéria vinculada pelo portal da Câmara Municipal de São Carlos, no dia 13 de Abril de 2009.

Visibilidade, afirmando que iria formalizar um projeto de lei e colocá-lo em discussão na câmara pelo seu comprometimento com as demandas trazidas pela sociedade.

A atuação da ONG, junto da ex-vereadora Silvana nos bastidores, foi importante porque, embora a maioria dos integrantes dessa coalizão em prol da política pertencesse à mesma sigla partidária, isso não significa que as questões LGBTs fossem ser desenvolvidas pela administração local. Os turnovers geram uma reorganização de interesses em disputa e “even enemies of change introduce their own proposals in an attempt to bend the outcomes as much as they can to their own proposals” (Kingdon, 2003: 161). Assim, a inclusão na pauta em regime de urgência e a aprovação do Conselho Municipal dos Direitos de LGBTs por unanimidade dos vereadores a poucos dias da realização da 1ª Parada acontececeram mediante um lobby com atores influentes na arena política local e dentro dos partidos que compunham a situação. Como ex-assessora de Silvana, ao discorrer sobre a criação do conselho, citou:

“Ele fez isso daí na pressão. Ele só fez isso porque ele era do PT, se não fosse não tinha feito isso não. Não tinha como ele falar ‘não’, vai falar que isso é preconceito? E a gente batia isso e dizia que... e ele contra. Aí eu falei ‘sabe o que nós vamos fazer? Vamos colher assinaturas, vamos fazer um projeto de lei popular, vai virar uma desgraceira isso aí’. Aí começou a ficar feio né, e batendo, batendo, batendo... aí não tinha jeito, teve que fazer. Teve que fazer não, quem fez o texto nem foi ele. O texto foi a gente que fez e ele só apresentou ‘é isso, é isso aqui o texto’. Você entendeu? Era só pra ele apresentar o projeto.”

Embora uma política local tivesse sido apresentada, debatida e assimilada por formuladores de políticas, foi necessária a conjunção de uma consistente pressão política e certo tempo para que ela pudesse florescer por completo. Pois, uma nova diretriz para os itens presentes na agenda é alcançada pela sua própria lógica, mas também pela articulação política em volta dela. Para Kingdon (2003), as pessoas facilmente se acostumam com antigas formas de pensar e agir, o que contribui para que, mesmo com o estabelecimento de novas diretrizes na agenda governamental, alterar os padrões de comportamento dos formuladores pode

requerer um maior esforço68, dado que “policy changes generally occur gradually,

incrementally, in small and nearly invisible steps” (Kingdon, 2003: 191).

Assim, a primeira gestão do conselho foi empossada apenas no ano de 2010, próximo à realização da 2ª Parada do Orgulho LGBT, em uma cerimônia oficial de posse com a presença do – então prefeito – Oswaldo Barba, o seu vice, a ex-vereadora Silvana Donatti e

68Do original: “Once that occurs, public policy in that area is never quite the same because succeeding increments are based on the new principle, people become accustomed to a new way of doing things, and it becomes as difficult to reverse the new direction as it was to change the old.” (Kingdon, 2003: 191)

alguns gestores de médio escalão do governo. Além disso, a cerimônia foi acompanhada de manifestações dos parlamentares que aprovaram uma moção de congratulação aos novos conselheiros municipais, submetida ao plenário da Câmara pelo vereador Lineu. O que serviu para dar destaque, seja entre as entrevistas concedidas por atores governamentais à imprensa, seja na moção aprovada pela câmara para a organização na cidade69 do 4º Fórum Paulista LGBT e da 2ª Parada do Orgulho LGBT, pelos conselheiros recém empossados.