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4. ALTERNATIVA DE SOLUÇÃO

4.1. SOLUÇÕES ANTERIORMENTE ADOTADAS PELO GOVERNO FEDERAL

4.1.2. O TRIPÉ DA CIDADANIA DE SÃO CARLOS

Tal como aconteceu no Governo Federal, o primeiro componente do tripé a ser implementado em São Carlos foi o conselho participativo. Instituído por meio da Lei 15.073 de 18 de outubro de 2009, de autoria do vereador Lineu Navaro, o Conselho Municipal dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais tem por objetivos “deliberar, contribuir a normatização e acompanhar e fiscalizar políticas” (São Carlos, 2009: 1), por meio do acompanhamento das ações da administração direta e indireta, emissão de pareceres técnicos sobre projetos de lei e programas municipais, comentários oficiais sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias e fiscalização da aplicação de leis estaduais e nacionais de interesse da comunidade LGBT.

O conselho deveria ser composto por representantes governamentais da coordenadoria de cultura, das secretarias de saúde, educação, cidadania e assistência social; e da Câmara Municipal, equiparados numericamente com os membros da sociedade civil eleitos em cada conferência municipal e respeitando o mínimo de cinquenta por cento de pessoas autodeclaradas com a identidade de gênero feminina. Na avaliação de seus membros, além de um espaço institucional de diálogo entre governo e sociedade civil, o conselho acabou servindo de espaço institucional, principalmente voltado para a instrução de gestores e

cidadãos a respeito de direitos45. João Biancolin, representante do poder público no conselho

desde a sua criação, pondera:

“Foi um espaço de formação pra gente também. Porque a gente ia tendo informações novas, por exemplo, a Lei 10.94846 é de 2001, muita gente não tinha e não tem ainda conhecimento dela.”

45O que converge com as avaliações feitas por conselheiros, trazidas por Szwako (2012) em “Aprendendo com os conflitos: tendências e riscos nas dinâmicas conselhistas”.

O segundo componente do tripé da cidadania a ser instituído foi entendido como sendo um órgão responsável por implementar uma política LGBT, uma vez que, originalmente, a proposta apresentada para o poder público consistia-se em um centro de referência com serviços especializados. No entanto, a ideia teria sido adaptada para o contexto local por meio do Decreto 295 de 1º de julho de 2011, que criou a Divisão de Políticas para a Diversidade Sexual. Tal Divisão foi responsabilizada, pelo suporte institucional, para o funcionamento do Conselho e as eventuais políticas locais que pudessem ser implementadas pelo poder público, como é destacado na sua normatização:

“Inc. 13 A Divisão de políticas para a diversidade sexual terá as seguintes atribuições: I – Coordenar a elaboração do Plano municipal de políticas para a diversidade sexual; II – Organizar e coordenar a realização das conferências municipais e demais eventos ligados à área, em especial as desenvolvidas no mês da Diversidade; III – Acompanhar e coordenar administrativamente o Conselho da diversidade sexual; e IV – Acolher denúncias de homofobia e encaminhar aos órgãos competentes.” (São Carlos, 2011)

Alocada47 no Departamento de Assistência Social da Secretaria Municipal de

Cidadania e Assistência Social, a Divisão também seria a responsável por coordenar a elaboração de um Plano de políticas, o terceiro componente do tripé da cidadania. Alexandre Sanches, que na época era presidente da ONG Visibilidade do conselho e foi nomeado para o cargo de chefia da Divisão, relata que:

“A partir de então, de fato, a prefeitura começou a fazer e pensar políticas públicas. Eu fui convidado a ser chefe da Divisão de agosto de 2011 até o final do mandato do PT na cidade. A gente teve muito trabalho na implementação do serviço, mas conseguimos fazer capacitações em quase todas as secretarias do município (...) e um dos principais trabalhos da Divisão foi montar o Plano Municipal de Políticas para a Diversidade Sexual. Fizemos a II Conferência e, através dela, o plano municipal que está em vigor até hoje”.

Com a Divisão, a II Conferência Municipal, no ano de 2011, teve os seus trabalhos direcionados para a elaboração do I Plano Municipal de Políticas para a Diversidade Sexual. Os eixos temáticos da edição anterior foram mantidos e acrescentados dois novos grupos de discussão: um para a área de educação e outro para as propostas de geração de trabalho, emprego e renda. Com uma média de quinze propostas por eixo temático, a conferência representou um maior direcionamento de ações específicas para os segmentos que compõem a sigla LGBT, como o reconhecimento de uso do nome social pela administração pública e ações específicas para a atenção da saúde de mulheres lésbicas. Em fevereiro de 2012, o

47Para isso, a Divisão de Controle Populacional do Departamento de Defesa e Controle Animal da Secretaria Municipal de Serviços Públicos foi extinta.

conselho municipal realizou uma reunião extraordinária e aberta para toda a população cuja única pauta era a sistematização das propostas locais da conferência, que seriam encaminhadas já no formato de um projeto para o poder executivo.

Os conselheiros deliberaram por colocar, na íntegra, todas as propostas aprovadas durante a conferência nas ações previstas pelo Plano Municipal de políticas, que foi publicamente apresentado e homologado pelo prefeito Barba durante a 4ª Parada do Orgulho LGBT. A partir de então, a cidade de São Carlos passou a ser entendida como uma referência48 na instituição de políticas LGBTs, por completar a criação de um tripé da cidadania LGBT local no ano de 2012, pouco tempo após o Governo Federal. Entretanto, nas entrevistas, foi dado destaque a outro item que também teria auxiliado na constituição de uma política LGBT local: a gestão de um ponto de cultura pela ONG Visibilidade.

Isso porque os pontos de cultura da cidade pertenciam ao “Programa Cultura Viva” do

Ministério da Cultura, fazendo parte de uma política de incentivo

à construção e manutenção de espaços físicos de apoio à cultura por meio de convênios de prestação de serviços com o MinC. A flexibilidade na submissão, aprovação e desenvolvimento de propostas para a gestão desses espaços teria permitido com que a ONG desenvolvesse atividades não apenas no âmbito da cultura junto com a comunidade LGBT local e indivíduos em situação de vulnerabilidade socioeconômica, como também voltadas para a capacitação profissional, suporte à política municipal de HIV/AIDS e implementação de algumas das propostas contidas no Plano Municipal LGBT. Assim, durante os anos de 2012 e 2013, a ONG assumiu parcialmente os serviços de um Centro de Referência.