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3.2 C ONSTRUINDO A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

Uma visão sobre a evolução da consciência ambiental em Portugal a partir de 25 de Abril de 1974.

3.2 C ONSTRUINDO A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

Em Portugal a consciência ambiental desenvolveu-se principalmente durante a década de 90 do século XX, onde ocorrem inúmeras actividades de participação popular, educacional e acções

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governamentais associadas ao ambiente, mas no entanto foi a partir da década de 70 que a consciência ambiental começou a ter visibilidade institucional.

A primeira estrutura desenvolvida pelo estado português dedicada às questões do ambiente foi a Comissão Permanente de Estudos, denominada por Comissão Nacional do Ambiente – CNA, que era dependente da Junta Nacional de Investigação Cientifica e Tecnológica – JNICT, criada em 1971 por Marcello Caetano. O seu desenvolvimento está relacionado com a preparação de Portugal para a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano de 1972, em Estocolmo. De forma a fazer progredir os preparativos para a Conferência, a Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa marcam a reunião um ano antes em Praga, conhecida como Simpósio de Praga, na qual Portugal participa com a Monografia Nacional sobre os problemas relativos ao ambiente. Podemos considerar que é este o primeiro documento oficial que define as problemáticas ambientais que Portugal apresentava naquele período.

Segundo Correia da Cunha o programa de acção da Comissão Nacional do Meio ambiente elaborado no final de 1971, apresenta como objectivos gerais, uma politica nacional de ambiente e equaciona a inevitabilidade do seu aparecimento na preparação e execução do IV Plano de Fomento106. No âmbito deste documento as principais acções directas a desenvolver no âmbito nacional seriam:

 Luta contra a poluição;  Melhoria no ambiente humano;  Defesa dos meios rurais:  Protecção dos recursos naturais

Estas acções iriam ser completadas com as medidas indirectas, tais como educação ambiental, campanhas de informação, desenvolvimento de estruturas administrativas adequadas, entre outras.

A Comissão Nacional do Ambiente – CNA surgem as primeiras realizações públicas e trabalhos de investigação dedicados ao estado do ambiente em Portugal (no relatório de 1972, a Comissão Nacional do Ambiente propõe a constituição de um grupo de trabalho para o estabelecimento de um Atlas Nacional do Ambiente. Desta entidade nascem os primeiros corpos técnicos especializados que vêm a viabilizar a operacionalização dos futuros serviços públicos do ambiente. (MELO e PIMENTA, 1993)

A Comissão Nacional do Ambiente desenvolve-se de forma qualitativa na elaboração de seus trabalhos e promove a primeira comemoração do Dia Mundial do Ambiente, em 5 de Junho de 1973, com um programa diversificado, chamando atenção para algumas iniciativas como: a sessão solene na Gulbenkian, sessões de sensibilização educacional em algumas escolas do país, edição da publicação “O Mundo é a Nossa Casa”, montagem de exposições ambientalistas e o encerramento de uma parte do trânsito na baixa Pombalina.

106 IV Plano de Formento – A partir da década de 1950, a politica de desenvolvimento económico global do país foi alvo

173 Já sabemos que a Comissão Nacional do Ambiente foi desenvolvida para que Portugal participasse na Conferência de Estocolmo, embora as condições de uma política ambiental fosse executada de uma mínima maneira. O Departamento de Obras Publicas e Económicas durante o período que antecedeu o 25 de Abril de 1974 era o responsável pelas questões ambientais. Desta forma, podemos concluir que a administração pública neste período estava direccionada para os domínios económicos e do desenvolvimento das cidades, privilegiando os investimentos nos sectores económicos esquecendo a questão ambiental.

A política orçamental dos governos de todo o período do Estado Novo era dominada por evitar défices orçamentais à custa do sacrifício de despesas essenciais como: educação, saúde e segurança social, efectuando apenas investimentos, ainda que controlados na infra-estrutura económica. (SILVA LOPES, 1996)

Com o desenvolvimento de uma política baseada nos grandes projectos de obras públicas e com um forte dirigismo económico é lógico que não houve muito espaço para as preocupações ambientais. Levando em consideração os estímulos externos para o aprofundamento da investigação em áreas ambientais, alguns progressos foram realizados à escala nacional no sector dos recursos hídrico

Em 1975 é criada a Secretaria do Estado do Ambiente pelo Decreto-lei 550/75 de 30 de Setembro integrada na estrutura do Ministério do Equipamento Social e Ambiente. No mesmo Decreto-lei, também é estruturada a Comissão Nacional do Ambiente, que continua a exercer funções no sector da informação e concretização ambiental, com o destaque para a criação do Serviço Nacional de Participação das Populações, liderado por João Evangelista que viria impulsionar as propostas educativas e uma concretização de uma política regional e local ambiental.

O período de 1976 a 1978 foi atravessado por vários governos, os quais tinham como maior preocupação o combate à crise económica iniciada em 1973. No final da década de 70 do século XX, estava em causa uma balança comercial que se apresentava com o saldo negativo e uma imposição de cortes orçamentais com base num programa de recuperação económica, desta forma ficaria impossível pensar numa política ambiental.

Ao constituir o II Governo Constitucional em 1978, a Secretaria do Estado do Ambiente sob nova direcção (Secretaria de Estado do Ordenamento do Físico e Ambiente, SEOFA) transita para a tutela do Ministério da Habitação e Obras Publicas - MHOP. Ainda neste ano, já no III Governo Constitucional, os recursos hídricos e aproveitamentos hidráulicos foram integrados na SEOFA e, mais uma vez, as questões ambientais se submeteram a projectos de engenharia hidráulica

Fonte: DGOA, 1990. Na sua maioria liderados por engenheiros, os serviços do

MHOP privilegiam a construção, consolidação e reparação de obras hidráulicas e assim reduzem a política de ambiente aos grandes projectos públicos como afirma Ribeiro Talles “à política do betão”. (RIBEIRO TALLES, 1995)

Em 1980 a SEOFA fica a cargo do Primeiro-ministro. De resto, a organização do governo não é diferente ao período compreendido pelos anos que 1976 a 1977. Depois de várias denominações de acordo com os sucessivos governos, em 1981 (VII Governo Constitucional) é criado o Ministério da Qualidade de Vida que passa a coordenar a qualidade do ambiente, o desporto, o ordenamento e a defesa do consumidor, articulando e integrando um conjunto de competências que afectam o ambiente.

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É neste período que surge a Direcção Geral da Qualidade do Ambiente – DGQA que, inicialmente, apresenta como objectivo incentivar e desenvolver tecnologias de carácter pouco poluente.

Em 1985, a SEOFA é transformada em Secretaria do Estado do Ambiente e dos Recursos Naturais – SEARN e é integrada ao recém-criado Ministério do Plano e Administração do Território, destituindo o Ministério da Qualidade de Vida. Com todas as transformações a SEARN vê duplicado o seu orçamento e finalmente alarga as áreas de actuação para a Gestão dos Recursos Hídricos e Controlo de Áreas Protegidas.

Mesmo com todas essas alterações, as obras hidráulicas e de saneamento continuaram a deter grande parte do orçamento do MPAT. Só em 1988 que as antigas Direcções Gerais dos Recursos e Aproveitamento Hidráulicos e do Saneamento Básico, pertencentes ao antigo Ministério das Obras Publicas e depois tuteladas pelo MPAT, são extintas e o que resta delas é incorporado na Direcção Geral dos Recursos Naturais – DGRN.

A separação do ambiente e do ordenamento com a destituição do MQV e a consequente integração da SEARN no MPAT significou um “rude golpe para a política de ambiente” que se vinha construindo. No entanto, apesar da falta de visão ambiental dos recursos hídricos, foi de extrema importância a intervenção da SEARN na gestão de áreas protegidas e controlo da poluição. (RIBEIRO TELLES, 1995)

Segundo RAMOS PINTO, 2004, no ano seguinte, em 1986, a entrada de Portugal na União Europeia constituiu um marco decisivo para uma nova política ambiental e de consciência ambiental. Através da combinação de mecanismos e instrumentos político–jurídicos com linhas de financiamento comunitário, conduziram-se à publicação, em 1987, dois diplomas legais fundamentais, a Lei de Base do Ambiente (Lei 11/87 de 7 de Abril) e a Lei das Associações de Defesa do Ambiente (Lei nº10/87 de 4 de Abril) e ao inicio do processo de transição e integração de Directivas Comunitárias nas mais diversas áreas.

Com a criação do Instituto Nacional do Ambiente – INAMB em 1987, a Lei de Base do Ambiente, desenvolveu estruturas de formação e informação para a sociedade, que vem incrementar as práticas de conveniência ambiental em Portugal. Estas são o resultado de promoção de projectos de educação ambiental e de projectos em defesa do património natural e construído, além disso do apoio das organizações de defesa do ambiente, que também passam a desenvolver acções de sensibilização e consciência ambiental junto à sociedade. Dentre algumas acções do INAMB, algumas encontramos em pratica nos dias actuais, como:

 Campanha da bandeira azul das praias na Europa;

 Co-organização dos Encontros Nacionais de educação ambiental, que são realizados anualmente desde 1990;

 Apoio a projectos escolares de educação ambiental e as edições de publicações periódicas de educação ambiental.

Em 1987 foi realizado o Ano Europeu do Ambiente, onde foi observado o crescimento da sociedade civil nas questões relacionadas ao ambiente, tendo ocorrido uma maior intervenção por parte do INAMB.

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