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Capítulo II 2 Revisão de Literatura

2.3. Opções de conversão de energia e seus impactos

Os métodos mais usados para a avaliação dos impactos causados por uma opção de conversão de energia consistem em três estágios: a identificação dos fatores intervenientes, predição dos efeitos e o de interpretação dos resultados. Na fase da identificação, são levantados os sistemas existentes (físico, biológico e social) e determinados os componentes relevantes do projeto, do ponto de vista de sua influência no meio. Um dos métodos de identificação desses impactos é o de elaboração de indicadores de impacto (MÜLLER, 1995).

Na fase de predição, avaliam-se as alterações do meio, possíveis de serem causadas pelo projeto, segundo seu significado quanto aos aspectos qualitativos

(importância) e quantitativos (magnitude, quantidade ou volume). A predição baseia-se, em geral, em equações e modelos matemáticos relacionados com os indicadores ambientais, amparados por testes e experimentações comprobatórias (calibração). Sendo o modelo testado, sua aplicação gera índices que definem o estado atual e o estado do meio depois de impactado pela opção de geração de energia. Tendo os padrões referenciais, em forma de indicadores ou conjunto de parâmetros, eles seriam a meta a ser perseguida e os limites da intensidade de alterações que poderiam ser introduzidas pelo projeto de desenvolvimento proposto (MÜLLER, 1995).

Na fase de interpretação ou de avaliação final, destacam-se as áreas que receberão impactos e sua origem, possibilitando determinar a incidência dos custos e benefícios em termos físicos, biológicos e sociais. Essa avaliação pressupõe julgamento que será mais precisa quanto mais efetiva tiverem sido as fases precedentes (MÜLLER, 1995).

Através de uma perspectiva ambiental, a comparação de opções de fontes geradoras deve estar baseada em uma análise que considere todos os impactos gerados durante o ciclo de vida do processo de produção para cada alternativa disponível. A avaliação do ciclo de vida (Life-Cycle Assessment) se dá numa perspectiva de âmbito mais amplo, porque segue cada opção do começo ao fim, avaliando os impactos ambientais de todos os passos do processo, incluindo a extração de recursos, processamento e transporte de combustíveis, construção de Parque Eólica, produção da eletricidade e disposição do resíduo (IHA, 2003). Todo uso de fontes de energia modifica o meio ambiente e traz conseqüências muitas vezes irreparáveis.

No manual de inventário hidrelétrico da ELETROBRAS (1997), o impacto ambiental é definido como uma alteração causada por um aproveitamento ou conjunto de aproveitamentos sobre o sistema ambiental. Nesse contexto, entende-se por sistema ambiental o conjunto dos elementos existentes (físico-bióticos, socioeconômicos) na área de estudo, incluindo seus atributos ou qualidades, as funções que exercem nos processos e suas interações. Impacto ou efeito ambiental pode ser também definido como o resultado de uma ação sobre um ser, uma comunidade ou uma região. Refere-se às modificações observadas entre o processo dinâmico anterior, e o novo estado criado pela ação introduzida. Os impactos ambientais são considerados frente a um objetivo pretendido, relativamente ao estado final produzido, positivos ou negativos. O princípio de custo-benefício, que deve incluir tanto os valores quantitativos como os qualitativos, é um dos adotados para avaliar o balanço entre os efeitos positivos e os negativos de

uma ação proposta e serve para orientar a decisão quanto a efetuá-la ou não (MULLER, 1995).

A avaliação dos impactos ambientais deve contemplar a identificação das alterações desfavoráveis e a identificação das ações que evitem a ocorrência total ou parcial dos impactos (controle), das ações que reduzam as conseqüências dos impactos (mitigação) e das ações que compensem os impactos quando a reparação é impossível (ELETROBRÁS, 1997). Dada a grande variedade de fontes de energia primárias e tecnologias de conversão, ao se comparar às vantagens ambientais relativas a cada uma delas, algumas questões difíceis de responder são também levantadas. Através de uma perspectiva ambiental, a comparação de opções de fontes geradoras deve estar baseada em uma análise que considere todos os impactos gerados durante o ciclo de vida do processo de produção para cada alternativa disponível.

A identificação e caracterização dos elementos dos patrimônios existentes na área de implantação de um parque eólico permitirão determinar quais as medidas necessárias para sua proteção e preservação durante a fase de construção e exploração. A desvantagem mais usualmente atribuída à energia eólica seria a falta de energia firme. No caso de operação integrada, a energia firme de um parque eólico corresponde à geração observada ao longo do período crítico dos dados históricos utilizados para simulações (ELETROBRAS, 1996).

Outro conceito utilizado em otimização de sistemas interligados é o de energia garantida de um Parque Eólico, que pode ser definido como sendo um valor de referencia tal que o fluxo de receita de compra e venda de energia, respectivamente, nos períodos deficitário e superavitário, valorizado pelo custo marginal de operação, resulte nulo para um período suficientemente longo (ELETROBRAS, 1996).

A inserção de um Parque Eólico em um sistema Interligado não deve afetar o desempenho nem a otimização; portanto, com base nesses pressupostos se podem calcular seus benefícios energéticos, os quais são avaliados com base nos conceitos de energia firme e energia garantida (COPEL, 1997).

Em 1998 foram realizados, na Universidade de Roskilde, na Dinamarca, estudos com simulações em resolução horária para dois cenários de inserção de energia eólica no Sistema Elétrico Dinamarquês interligado ao Sistema Elétrico Europeu. No primeiro cenário, que considerou uma inserção de energia eólica correspondente a 37% do consumo na Dinamarca, demonstraram que essa situação poderia ocorrer sem prejuízo da segurança e estabilidade do sistema, pois haveria uma complementaridade entre o

sistema eólico Dinamarquês e o sistema hidrelétrico da Suécia e Noruega (MEIBOM, SVENDSEN & SORENSEN, 1999).

O segundo cenário considerou uma inserção de energia eólica no sistema elétrico Nórdico (incluindo Alemanha, Bélgica e Holanda) de aproximadamente 100% do consumo da Dinamarca. Os resultados obtidos demonstraram que o segundo cenário seria também viável tecnicamente no que se refere à segurança a estabilidade do sistema regional, desde que houvesse investimentos em linhas de transmissão da Dinamarca para a Suécia, porém essa alteração acresceria o custo médio da energia em 37%. Sabendo-se, porém, que a inserção de energia eólica da Dinamarca substituiria térmicas na Suécia, reduzindo as emissões de CO2, e o preço da energia poderia diminuir se

ganhos ambientais decorrentes fossem computados (HOLTTINEN, 2004).