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A opinião pública e as pesquisas

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Capítulo III – O USO DA COMUNICAÇÃO MERCADOLÓGICA

2. AS RELAÇÕES PÚBLICAS COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO À SERVIÇO DO MARKETING

2.3. A opinião pública e as pesquisas

A atividade de Relações Públicas, segundo Penteado (1984, p. 12), se profissionalizou em 1954, mas, 80 anos antes, nos Estados Unidos, em 1873, se consolidava o poder da opinião

pública. A atividade surgiu, em uma época desordenada nas empresas, para informar os públicos, criando imagens positivas e tentando controlar a opinião pública. O autor cita como sendo o trabalho do profissional de relações públicas, apresentar fatos e, através deles, conquistar opiniões. Penteado (1984, p. 24) cita que, “da informação de que dispomos [os profissionais de relações públicas], forma-se e nasce a opinião” e ainda completa que a essência das Relações Públicas é “formar opiniões latu sensu, ou [...] ajudar a estimular a informação de certas opiniões”.

“Opinião pública” é mais um entre tantos termos que tem sido muito debatido entre os autores das mais diversas áreas, mas principalmente entre os profissionais de relações públicas. Seu conceito leva em consideração uma série de fatores que vai desde a formação da massa até as repercussões que podem causar em assuntos polêmicos, principalmente envolvendo política. Segundo Andrade (1983. P. 22), a opinião pública é formada através das informações que os públicos recebem, muitas vezes dos meios de comunicação de massa. Para ele, ela se forma “no calor das discussões dos componentes do público”.

No séc. XVII e XVIII pensadores como Hobbes, Locke, Voltaire e Hume já discutiam o assunto e expandiam suas opiniões. Hobbes chegou a dizer que o mundo estava sendo governado pela opinião, sendo completado por Hume com a afirmação de que é somente na opinião que o governo se fundamenta.

Atualmente as pesquisas continuam. Profissionais têm gastado tempo considerável na busca de certezas em relação ao que podemos chamar de “ferramenta” de persuasão, especialmente por apresentar conseqüências no âmbito institucional.

Andrade (1983, p.12) observa que os seres humanos “respondem, consciente ou inconscientemente, às influências de outras pessoas e às exigências do grupo”. Trecker (1968, p. 46) afirma que os grupos influenciam a maneira como as pessoas aprendem: “as pessoas adquirem, em grande parte, suas atitudes, cre nças e sentimentos nos grupos a quem pertencem e dos quais participam. Se conhecermos o grupo a quem pertence uma pessoa podemos prever sua conduta”. Partindo do princípio de que um indivíduo sozinho não possui tamanho poder, se comparando a um grupo, o poder da opinião pública gera muita preocupação em diversos setores da sociedade, que buscam o apoio dela a todo custo.

Liderar essa opinião pública é o desejo de muita gente e um dos artifícios mais utilizados nesta busca é a propaganda. Uma das características das manifestações grupais, é o “agir com a

emoção” e, sabendo disso, alguns propagandistas preparam campanhas estratégicas com o objetivo de ganhar o apoio desses grupos. Andrade (1989, p. 54) destaca que a propaganda pode conduzir o público a um comportamento mais emocional que racional bastante semelhante ao da massa ou multidão. Este fator “não-racional” dificulta a formação genuína da opinião pública.

Harwood L. Childs (1967, p. 160-176) defende a idéia de que as propagandas deveriam apresentar-se de forma mais ética perante a sociedade e enfatiza que é função delas esclarecer e auxiliar na formação de opiniões a respeito de assuntos importantes, principalmente no âmbito governamental. A propaganda exerce poder perante a opinião pública, mas o autor enfatiza que esta poderia ser usada para melhores fins, já que o direito à informação e emissão de opiniões é para todos. Muitas vezes, a propaganda faz com que esses direitos sejam suprimidos de uma forma tão sutil que nem mesmo é percebido.

A mídia tem sido considerada por muitos uma manipuladora da opinião pública. Uma pesquisa realizada nos EUA a respeito do grau de credibilidade da mídia perante seus públicos, mostrou que a maioria da população não apresenta um grau mínimo de informação para conseguir distinguir o que lhes é passado pela mídia. Concluiu-se que, mesmo aquelas pessoas que são consideradas bem informadas e com alto grau de raciocínio, apresentam dificuldades em distinguir informações falsas de propaganda (CROSSEN, 1996, p. 18-19).

Para estudar o papel que cabe à opinião pública em uma democracia, devemos aceitar os fatos, considerando a opinião pública como ela é. Não se pode pressupor a existência de condições que não existem, nem considerar que as massas estão informadas, quando elas não estão; que tem possibilidades de pesar com inteligência os diferentes pontos de vista, quando elas não têm; que as emoções estão controladas, restringindo-se ao seu papel apropriado, quando isso não ocorre (CHILDS, 1967, p. 169).

Em decorrência desta visão geral a respeito da opinião pública, que não possui as devidas características para decidir de forma racional sobre qualquer assunto, vê-se hoje uma tentativa de controle pela mídia. Pode-se notar esse fato, principalmente, em épocas de eleição quando certas emissoras de TV são “compradas” em prol de determinado candidato e deixam transparecer este fato claramente. “Cada vez mais, as informações que usamos para comprar, escolher, aconselhar,

absorver e medicar vêm sendo criadas, não para expandir nosso conhecimento, mas para promover um produto ou [...] uma causa” (CROSSEN, 1996, p.10).

Andrade (1989, p. 48 e 49) mostra que o processo da opinião pública é totalmente intelectual. Ele se inicia por meio de uma controvérsia e segue com a discussão lógica a respeito de uma solução para esta controvérsia. Então, várias pessoas se reúnem para discutir, de forma racional e ampla, buscando uma atitude comum, que será expressa por uma opinião coletiva. Para chegar até a opinião pública, é necessário que as considerações racionais predominem em relação às emocionais. O autor enfatiza o fato de que há alguns fatores como, a hereditariedade, as pressões, meio cultural, educação, etc., que dificultam a formação de uma opinião pública verdadeira, mas afirma que os acontecimentos que geram a controvérsia atingem todas as pessoas.

A quantidade de informações que é passada à sociedade por meio da mídia todos os dias é grande e são muitos os meios de comunicação usados para “informar” a população, como, por exemplo, a televisão, o rádio, os jornais impressos, além da internet, meio de comunicação que mais cresce atualmente e que pode ser considerada uma arma poderosa de persuasão. As informações correm livres pelas páginas da internet e podem ser acessadas a qualquer hora da noite ou do dia. Estes instrumentos têm facilitado a comunicação, principalmente entre governo e sociedade, mas a qualidade e veracidade das informações podem ser questionáveis.

No âmbito mercadológico é importante conhecer e analisar tendências. Para isso, muitas empresas realizam as pesquisas de opinião pública que geralmente são separadas por dois tipos: quantitativas e qualitativas.

Discorrendo de forma simplista, a pesquisa quantitativa é baseada nos números. Os números aumentam a credibilidade de determinados fatos e por esta razão, pesquisas desse tipo vêm sendo muito usadas na comprovação de notícias, passando aos receptores da mensagem maior grau de credibilidade. Segundo Crossen (1996, p. 8), os números também são importantes ferramentas de persuasão e em decorrência disso, o uso das pesquisas quantitativas é bastante empregado na divulgação de informações que são consideradas importantes e para obter uma aceitação mais fácil por parte da opinião pública.

A pesquisa quantitativa pode ser realizada através de experimentos ou entrevistas. Geralmente os instrumentos utilizados para a realização da pesquisa quantitativa são questionários, escalas ou inventários. Esse tipo de pesquisa está intimamente ligado à estatística,

dependendo de dados e amostras pré-estabelecidas que garantam a veracidade das informações obtidas. Já a pesquisa qualitativa é mais flexível. Baseia-se na observação de fatos, histórias de vida ou somente em documentos. Diferente da pesquisa quantitativa, ela pode ser feita com um número menor de pessoas, dispensando assim a pré-definição de uma cota específica para que o resultado possa ser considerado aceitável. É uma pesquisa indutiva e seu resultado é mais amplo, podendo ter diversas interpretações.

Quando se vai abrir um novo negócio ou oferecer um novo produto ao mercado, a pesquisa de opinião pública pode servir de ponto norteador para o projeto. Saber o que o público quer, o que ele acha sobre determinado produto, o que ele gostaria que mudasse, aumentam as chances do produto ou serviço em questão apresentar resultados positivos. Nesse caso, as pesquisas qualitativas e quantitativas não apresentam concorrência entre si. Elas se completam, fornecendo resultados mais precisos, se realizadas de maneira correta, pois manipular pesquisas é fácil e não são poucas as empresas que as “encomendam”.

As pesquisas têm por finalidade conhecer os públicos, os seus desejos, características, interesses, opiniões, tendências, motivação e comportamento. Neste sentido, elas podem desempenhar o papel de importantes instrumentos das Relações Públicas, com os quais o profissional de relações públicas precisa estar familiarizado (PENTEADO, 1984, p. 110).

Uma das dificuldades das pesquisas de opinião pública citada por Crossen (1996, p. 19), diz respeito à formulação das perguntas. A autora afirma que pesquisadores têm se dedicado na busca da pergunta perfeita, aquela que “não presuma, não induza e não atinja”, mas até agora não se achou o formato de pergunta completamente neutra. Além disso, por mais neutra que a pergunta seja, ainda há o risco do entrevistado, por fatores diversos, como, por exemplo, orgulho ou vergonha, não responder a pesquisa de forma sincera, comprometendo os resultados da pesquisa. Por isso a conduta do entrevistador perante o entrevistado é importante para que as respostas não sejam influenciadas.

Concluindo, a busca pelo apoio da opinião pública - devido ao seu grande poder de interferências - é incessante e a briga está longe de terminar. Saber o que o público deseja na hora de lançar um novo produto ou serviço no mercado garante melhores resultados de aceitação.

As pesquisas de opinião são importantes e dão veracidade aos fatos, mas desde que sejam aplicadas de maneira séria em busca de um resultado realmente verdadeiro.

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