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Oportunidade para o Desenvolvimento Sustentado do Nordeste

Política de tolerância zero

4. A REALIDADE DO TURISMO RECEPTIVO INTERNACIONAL NO NORDESTE DO BRASIL

4.1 Oportunidade para o Desenvolvimento Sustentado do Nordeste

O nordeste brasileiro é uma região de contrastes. De um lado estão as riquezas naturais do extenso litoral, o maior do Brasil. Por outro as regiões do semi- árido, com escassez de chuvas e áreas improdutivas.

Embora propício para o turismo, o litoral somente foi considerado como um produto promissor a partir da criação da Embratur, em 1966. No início dos anos 70, os gestores públicos entenderam que deveriam cuidar melhor dos potenciais turísticos da região e então passaram a buscar meios de desenvolvê-los dentro de um contexto profissional.

Com uma área de 1,5 milhões de metros quadrados, um extenso litoral de 3.300 quilômetros, uma natureza exuberante, condições climáticas favoráveis – o sol brilha o ano inteiro -, além de uma localização estratégica privilegiada em relação à Europa e aos Estados Unidos, o Nordeste tem se tornado um sonho de consumo desejado por turistas do mundo inteiro.

Tabela 7

Características demográficas e econômicas Nordeste x Brasil - 2005

Indicadores Nordeste Brasil N/B (%)

Área (km2) 1.561.177 8.547.404 18,3 Litoral (km) 3.300 9.198 35,8 População 51.019.091 184.184.264 27,70 Densidade (hab/km2) 32,7 21,5 163,0 Taxa de urbanização (%) 70,8 84,3 84,0 PIB (US$ milhões) 104.022 796.280 13,0 PIB (R$ milhões) 280.504 2.147.239 13,0 PIB Percapita (US$/hab) 2.038,88 4.323,27 47,1 PIB Percapita (R$/hab) 5.498,02 11.658,11 47,1 Fonte: IBGE (2007)

Como atividade econômica, a região Nordeste descobriria de fato a sua verdadeira importância no turismo somente a partir dos anos 90, quando foi inserido no plano governamental “Brasil em Ação” o Programa de Desenvolvimento do Turismo - PRODETUR/NE, tendo como objetivo primordial apoiar os investimentos e ações para gerar renda turística.

O despertar para essa nova realidade deu-se na verdade em 1991, quando a Embratur, percebendo que o turismo apresentava parcos resultados com o receptivo internacional, fez uma pesquisa para identificar os fatores considerados inibidores para o desenvolvimento da atividade turística brasileira. Os resultados revelaram que a região Nordeste tinha um potencial para competir com as demais regiões, visto que entre 11% e 35% dos turistas estrangeiros que visitavam o Brasil demonstravam preferência pelas capitais nordestinas (CASSIMIRO FILHO, 2002). Os problemas, no entanto, residiam na precariedade da infra-estrutura, baixa qualificação da mão-de-obra, pouca promoção no exterior e carência de recursos para financiamento dos empreendimentos privados.

Considerando que a palavra de ordem no mundo dos negócios é a otimização de investimentos, o setor de turismo do Nordeste não poderia fugir à regra, superando a fase amadora e introduzindo conceitos de estratégias a médio e longo prazo. Assim é que, foi adotada uma política específica de desenvolvimento do turismo, que recebeu a denominação de PRODETUR/NE I. Na primeira etapa do programa foram concebidas as seguintes realizações: Mais de 1 milhão de pessoas beneficiadas com a instalação de redes de saneamento básico; Implantação e melhoria de 1.020 km de rodovias; Recuperação de 700 mil m2 de patrimônio histórico; Desenvolvimento institucional de 142 órgãos estaduais (estruturação/capacitação); Preservação e proteção de 70.416 hectares de meio ambiente; Construção e modernização da infra-estrutura em 7 aeroportos (BNB, 2006).

Os investimentos totais programados para a primeira fase do PRODETUR/NE I foram de US$ 800 milhões em obras de infra-estrutura básica da região, dos quais US$ 220 milhões foram aplicados na ampliação e modernização de 8 aeroportos (Fortaleza, Recife, Natal, Salvador e outros). Posteriormente esses valores foram reduzidos, devido à necessidade de um enquadramento diante da

nova realidade econômica do país, passando para um total de US$ 670 milhões, com o BID assumindo uma contrapartida de 60% do financiamento e os estados e governo federal com a responsabilidade dos 40% restantes (BNB, 2006).

Os volumes mais expressivos de recursos foram aplicados nos estados da Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, objetivando a redução do déficit de infra-estrutura básica, cujos valores descritos na tabela seguinte, são correspondentes aos recursos provenientes do BID e as respectivas contrapartidas de cada estado.

Tabela 8

PRODETUR I, valores aplicados na BA, CE, RN e PE

Financiamento e contrapartida local (US$ 1.000)

Bahia 215,011

Ceará 141,767

Rio Grande do Norte 38,240 Pernambuco 41,975 Fonte: BNB (2006)

Outro detalhe importante desse programa são os efeitos multiplicadores das obras de infra-estrutura no Nordeste, gerando investimentos privados na ordem US$ 7 bilhões, abrangendo desde a construção de pousadas e restaurantes, à concepção de complexos turísticos com padrão internacional.

Estima-se que os investimentos realizados pelo PRODETUR/NE I e iniciativa privada geraram cerca de 3,8 milhões de empregos, possibilitando ainda um crescimento de 81% do fluxo turístico na região, o que representa 11,8 milhões de turistas no período compreendido entre 1994 a 1999 (BNB, 2006). A experiência adquirida com a execução do PRODETUR/NE I permitiu a utilização de novos conceitos e estratégias na estruturação da segunda fase, tais como: Definição de áreas a serem beneficiadas pelas ações do Programa, dentro do conceito de Pólos Turísticos; Planejamento participativo, integrado e sustentável para o desenvolvimento do turismo nos pólos selecionados; Foco em ações visando benefício da população local – desenvolvimento humano e social; Priorização de ações que visam à Mitigação de Passivos Ambientais, associados a alguns projetos do PRODETUR/NE I; Priorização de ações necessárias para complementar os investimentos da primeira fase; Fortalecimento da gestão municipal (BNB, 2006).

Na segunda etapa do programa, que recebeu o nome de PRODETUR/NE II, e ainda está em fase de implantação, foi prevista inicialmente a aplicação em investimentos na US$ 400 milhões, sendo US$ 240 milhões do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, e US$ 160 milhões em contrapartida federal, que serão complementadas, onde necessários, pelos estados. Para obtenção de tais recursos, tantos os Estados quanto as Prefeituras contempladas no programa terão que apresentar ao BID o Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentado – PEDITS, justificando os investimentos e assumindo o compromisso de realizá-los integralmente (BNB, 2006).

A expectativa é que o PRODETUR/NE II repita, no mínimo, os resultados alcançados na primeira etapa, sendo que a sua inserção nas fases primeira e segunda do Plano Nacional de Turismo possibilitou a abertura de caminhos, para o início de uma jornada concreta e definitiva no desenvolvimento do potencial turístico do Nordeste em moldes modernos e competitivos.

O aperfeiçoamento do programa proporcionou um novo desenho na forma de priorização dos investimentos e ações em áreas das municipalidades dos pólos de turismo, que representam as regiões com vocação turísticas já identificadas na fase primeira. O objetivo estratégico é consolidar e complementar as ações necessárias para tornar o turismo sustentável nessas áreas, em benefício da população local, que hoje somam 14 áreas de pólos turísticos, as quais estão demonstradas no figura 1.

Figura 2

Pólos turísticos PRODETUR II

No que diz respeito à aplicação dos novos investimentos, o processo da contratação de subempréstimos dos recursos destinados ao financiamento da segunda etapa do PRODETUR foi concluído em 2006 entre o BID e BNB, com o comprometimento total dos recursos de financiamento estabelecido conforme tabela a seguir:

Tabela 9

Contratos de subempréstimos PRODETUR/NE II (Us$ 1.000)

Estado Valor do financiamento

Piauí 15.000

Minas Gerais 27.500

Pernambuco 75.000

Ceará 60.000

Bahia 39.000

Rio Grande do Norte 21.300

TOTAL 237.800

Fonte: Banco do Nordeste do Brasil – BNB (2006)

Os estados de Alagoas, Espírito Santo, Maranhão, Paraíba e Sergipe, embora não tenham figurado como beneficiários do financiamento do PRODETUR/NE II, integram o programa, porém com recursos da União, através do Ministério do Turismo, devendo executar as ações constantes do PDITS, com os gastos distribuídos na contrapartida global do programa.

Os estados do Ceará, Bahia e Rio Grande do Norte foram pró-ativos e iniciaram em 2006 a execução das ações em todas as áreas contempladas no Plano Nacional de Turismo 2007/2010, antecipando-se aos estados de Pernambuco, Piauí e Minas.

Numa versão mais atual, fruto de uma estratégia do PNT 2007/2010, o Ministério do Turismo definiu os 65 destinos brasileiros prioritários para o desenvolvimento turístico nacional, classificados como “as 65 Maravilhas do Brasil”.

Da região Nordeste estão inseridos os seguintes destinos, e cuja meta é fazer com que até o final de 2008 possam atingir o padrão de qualidade

internacional: Pernambuco – Recife, Ipojuca (Porto de Galinhas) e Fernando de Noronha; Piauí – Teresina, Parnaíba (Delta), São Raimundo Nonato (Serra da Capivara); Rio Grande do Norte – Natal, Tibau do Sul (Pipa); Sergipe – Aracaju; Bahia – Salvador, Lençóis, Maraú, Mata de São João e Porto Seguro com Arraial D’Ajuda, Trancoso, e Caraíva; Ceará – Fortaleza, Jijoca de Jericoacoara, Aracati e Canoa Quebrada, Nova Olinda e Cariri; Maranhão – São Luis e Barreirinha; Paraíba – João Pessoa.

Pelo que ser percebe, a exploração do turismo no Nordeste está concentrada especialmente no litoral, contudo em toda região há abundância de recursos naturais que podem e devem ser usados como atração turística. Os encantos do Nordeste têm exercido fascínio junto aos investidores, que apostam na consolidação da região como um bom destino turístico. Por isso, um número cada vez maior de portugueses, espanhóis, italianos e outros estrangeiros têm descoberto que a região reúne condições favoráveis para se tornar um dos destinos mais atraentes do mundo, culminando, portanto, na realização de crescentes investimentos imobiliários privados.

Segundo levantamento feito pelo Anuário de Turismo Exame, a região responde por 74% dos investimentos (na maioria estrangeiros) no setor hoteleiro previstos para os próximos anos em todo o Brasil, com a promessa de expressiva geração de empregos, conforme tabela 10.

Tabela 10

Setor hoteleiro – previsão até 2010

Investimentos por região Geração de empregos

R$ milhões – até 2010 Estado N° empregos % Nordeste 4,998 74% 1. Bahia 23.765 57,8 Sudeste 905 13% 2. Ceará 4.766 11,6 Centro-Oeste 499 7% 3. Pernambuco 3.253 7,9 Norte 199 3% 4. Goiás 2.279 5,5 Sul 190 3% 5. Rio 2.110 5,1 Total 6.792 6. S. Paulo 1.353 3,3

Fonte: Anuário de Turismo Exame 7. Amazonas 573 1,4

2006/2007 8. Sergipe 515 1,3

9. S. Catarina 395

10. Outros 2.096 5,1

Outro fator relevante sobre o fenômeno do desenvolvimento do turismo na região, é que essa atividade tem provocado uma nova realidade para a economia do Nordeste e que vai além da redução das desigualdades sociais. Não só promove a fixação da mão de obra, mas contribui significativamente para uma melhora na qualidade de vida das pessoas que vivem nessa mesma região, que passam a desenvolver importantes atividades, tais como produção de alimentos e hortifrutigranjeiros, agropecuária, indústria de construção civil, dos serviços em geral.

Os outrora emigrantes da seca se tornam cada vez mais raros, porque a velocidade da expansão da indústria do lazer tem aberto crescentes oportunidades de trabalho no Nordeste, possibilitando não só a retenção da mão de obra, mas uma qualificação orientada dentro de padrões internacionais.

4.2 Evolução do Turismo Receptivo Internacional nos Estados da Bahia, Ceará