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Capítulo II – Revisão Bibliográfica

3. Ordenamento do Território

Segundo o Dicionário de Geografia (Baud, Bourgeat & Bras, 1999) o ordenamento do território “corresponde, na maior parte dos casos, à vontade de corrigir os desequilíbrios de um espaço

nacional ou regional e constitui um dos principais campos da Geografia aplicada. Pressupõe, por um lado, uma perceção e uma conceção de conjunto de um território e, por outro lado, uma análise prospetiva”.

A Carta Europeia do Ordenamento do Território (DGOTU, 1988) refere que o ordenamento do território “é, simultaneamente, uma disciplina científica, uma técnica administrativa e uma política

que se desenvolve numa perspetiva interdisciplinar e integrada tendente ao desenvolvimento equilibrado das regiões e à organização física do espaço segundo uma estratégia de conjunto”.

A persecução dessa estratégia faz-se, segundo um outro Dicionário de Geografia (Batouxas & Viegas, 1998) “através da elaboração de planos a diferentes níveis e nos diferentes setores

económicos, tendo em vista um crescimento e um desenvolvimento económico e social, com base nos respetivos recursos naturais e humanos, e com objetivos e estratégias bem definidos”.

Em Portugal, o ordenamento territorial ganhou força com o início da democratização do país em 1974 e, posteriormente, com a adesão à União Europeia, em 1986 (Pereira, 2009). Ainda na década de 1980, a Lei de Bases do Ambiente, Lei nº 11/87, de 7 de abril13, referia-se ao ordenamento do território enquanto “processo integrado da organização do espaço biofísico, tendo como objetivo o

uso e a transformação do território, de acordo com as suas capacidades e vocações, e a permanência dos valores de equilíbrio biológico e de estabilidade geológica, numa perspetiva de aumento da sua capacidade de suporte de vida”.

A estruturação de um sistema de planeamento multinível e articulado deu-se apenas com a Lei nº 48/98, de 11 de agosto (alterada pela Lei nº 54/2007, de 31 de agosto) que consagrou a Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e de Urbanismo (LBPOTU).

O ordenamento do território deverá possuir um conjunto de características fundamentais, nomeadamente, assegurar a participação das populações interessadas e seus representantes, integrar as diferentes políticas setoriais, respeitar as especificidades regionais em termos territoriais e administrativos, e ser prospetivo, ou seja, orientado para o futuro (DGOTU, 1988).

Segundo a Carta Europeia do Ordenamento do Território (DGOTU, 1988), o ordenamento do território deve perseguir objetivos como o desenvolvimento socioeconómico equilibrado das regiões e melhoria da qualidade de vida das populações, a utilização racional do território e a gestão dos recursos naturais numa perspetiva de proteção do ambiente, a participação das populações no processo de decisão, a coordenação entre entidades e entre diferentes interesses das populações e uma efetiva implementação das políticas e das medidas de ordenamento.

Em Portugal, estas preocupações resultaram na Lei nº 48/98, de 11 de agosto (alterada pela Lei nº 54/2007, de 31 de agosto) que consagrou a Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e de Urbanismo (LBPOTU). Segundo esta, o ordenamento do território refere-se a “ações

promovidas pela Administração Pública, visando assegurar uma adequada organização e utilização do território nacional, na perspetiva da sua valorização, designadamente no espaço 13 Alterada pela Lei n.º 13/2002, de 19 de fevereiro

europeu, tendo como finalidade o desenvolvimento económico, social e cultural integrado, harmonioso e sustentável do País, das diferentes regiões e aglomerados urbanos”.

Ainda segundo a LBOTU, “O Estado, as Regiões Autónomas e as autarquias locais devem

promover, de forma articulada, políticas ativas de ordenamento do território e de Urbanismo”.

Enquanto princípios gerais da política do ordenamento defende-se a sustentabilidade e solidariedade intergeracional, assegurando às gerações futuras um território corretamente ordenado; a utilização ponderada e parcimoniosa dos recursos naturais e culturais; a coordenação e compatibilização com outras políticas setoriais; a subsidiariedade, aproximando o nível decisório do cidadão; a justa repartição dos custos e benefícios decorrentes da aplicação dos instrumentos de gestão territorial; o reforço da participação dos cidadãos na elaboração, execução, avaliação e revisão dos instrumentos de gestão territorial; a responsabilização perante danos que ponham em causa a qualidade ambiental; articulação entre a iniciativa pública e a iniciativa privada na concretização dos instrumentos de gestão territorial; e a estabilidade dos regimes legais e o respeito pelas situações jurídicas validamente constituídas.

Os seus objetivos incluem a melhoria das condições de vida e de trabalho das pessoas; a distribuição equilibrada das funções territoriais; a criação de oportunidades diversificadas de emprego; a preservação dos solos com aptidão natural, agrícola e florestal; a adequação dos níveis de densificação urbana; a rentabilização das infraestruturas; a aplicação de uma política de habitação que permita resolver as carências existentes; reabilitação e revitalização dos centros históricos e património cultural classificado e a recuperação ou reconversão das áreas urbanas ilegais e degradadas.

Para compreensão da Política de Ordenamento do Território e Urbanismo existem ainda outros dois diplomas importantes: o Decreto-Lei n.º 46/2009 de 20 de fevereiro (alterou o DL n.º 380/99, de 22 setembro) que define o Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (RJIGT), e a Lei n.º 60/2007 de 4 de setembro (altera Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro) que estabelece o Regime Jurídico da Urbanização e Edificação.

A concretização das políticas de ordenamento concretiza-se em três âmbitos territoriais (nacional, regional e municipal) e é suportada diferentes tipos de instrumentos de gestão territorial (IGT).

O âmbito nacional é concretizado através dos seguintes instrumentos:

o O Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território; o Os Planos Sectoriais com incidência territorial;

o Os Planos Especiais de Ordenamento do Território (i.e. Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas e os Planos de Ordenamento de Albufeiras de Águas Públicas);

O âmbito municipal é concretizado através dos seguintes instrumentos:

o Os Planos Intermunicipais de Ordenamento do Território;

o Os Planos Municipais de Ordenamento do Território: Plano Diretor Municipal, Planos de Urbanização e os Planos de Pormenor (PDM, PP, PU);

Os instrumentos de natureza estratégica e programática, que vinculam a administração pública, incluem:

• Instrumentos de Desenvolvimento Territorial;

o Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território; o Planos Regionais de Ordenamento do Território;

o Planos Intermunicipais de Ordenamento do Território. • Instrumentos de Política Setorial

o Planos Setoriais (i.e. turismo, energia);

Relativamente a instrumentos de natureza operacional e regulamentar, que vinculam a administração pública e os particulares, contam-se:

• Instrumentos de Planeamento Territorial

o Planos Municipais de Ordenamento do Território;  PDM, PP, PU.

• Instrumentos de Natureza Especial o Planos Especiais de Ordenamento.

Na RAM, o Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial foi adaptado pelo Decreto Legislativo Regional n.º 8-A/2001/M, de 20 de abril, que adapta algumas disposições à realidade regional, exclui o âmbito nacional, mas mantém o fundamental. O Plano de Ordenamento do Território da RAM foi definido pelo Decreto Legislativo Regional n.º 9/97/M, de 18 de julho, que alterou o Decreto Legislativo Regional n.º 12/95/M, de 24 de junho.

A nível municipal, existe em todos os concelhos da RAM um Plano Municipal de Ordenamento do Território, compreendendo os Planos Diretores Municipais, os Planos de Urbanização e os Planos de Pormenor. Segundo o RJIGT, “os Planos Municipais de Ordenamento do Território são

instrumentos de natureza regulamentar, aprovados pelos municípios” e que “estabelecem o regime de uso do solo, definindo modelos de evolução previsível da ocupação humana e da organização de redes e sistemas urbanos e, na escala adequada, parâmetros de aproveitamento do solo e de garantia da qualidade ambiental”.

Entre os seus objetivos contam-se a expressão territorial da estratégia de desenvolvimento local e articulação das políticas sectoriais com incidência local, a definição de parâmetros de uso do solo e

espaços públicos, regras de preservação do património e critérios de localização das atividades económicas.

A nível setorial, refira-se o Plano de Ordenamento Turístico da RAM, aprovado pelo Decreto Legislativo Regional n.º 17/2002/M de 29 de agosto que “define a estratégia de desenvolvimento

do turismo na Região e o modelo territorial a adotar, com vista a orientar os investimentos, tanto públicos como privados, garantindo o equilíbrio na distribuição territorial dos alojamentos e equipamentos turísticos, bem como um melhor aproveitamento e valorização dos recursos humanos, culturais e naturais”.