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Capítulo II – Revisão Bibliográfica

1. Turismo

1.4. Turismo de Natureza – TN

O turismo de natureza (TN) é uma atividade praticada em áreas naturais ou predominantemente naturais, incluindo áreas rurais pouco alteradas, e que podem ou não ser classificadas como áreas protegidas. As motivações principais prendem-se com fruição do contato da natureza, a observação e interpretação da paisagem, podendo ser passivo ou incluir atividades desportivas e de aventura (Graburn, 1983; Mckercher, 2002; Macouin & Pierre, 2003 em Silva, 2013).

O turismo de natureza é regulamentado pelo Decreto-Lei n.º 56/2002, de 11 de março6, e pelo Decreto Regulamentar n.º 2/99 de 17 de fevereiro. O Decreto-Lei n.º 47/99, de 16 de fevereiro define turismo de natureza como “o produto turístico composto por estabelecimentos, atividades e

serviços de alojamento e animação turística e ambiental realizados e prestados em zonas integradas na rede nacional de áreas protegidas”. O Decreto-Lei n.º 56/2002, de 11 de março7

referia que incluía serviços de hospedagem prestados quer em “empreendimentos turísticos de

turismo no espaço rural” quer em “Casas de natureza”.

Com o Decreto-Lei n.º 39/2008, de 07 de março8, o turismo de natureza deixa de estar confinado a áreas protegidas. Este decreto classifica como empreendimentos de turismo de natureza os que “se

destinem a prestar serviços de alojamento a turistas, em áreas classificadas ou noutras áreas com valores naturais”.

O Decreto Legislativo Regional n.º 12/2009/M de 6 de maio, que adapta à Região Autónoma da Madeira o Decreto-Lei n.º 39/2008, de 7 de março, refere que os empreendimentos de turismo de habitação, empreendimentos de turismo no espaço rural e moradias turísticas podem ser considerados como empreendimentos de turismo de natureza devendo “obedecer aos requisitos de

instalação, classificação e funcionamento previstos para a tipologia adotada”.

Atualmente, não existe na RAM nenhum estabelecimento com essa classificação. Apesar disso, existe na RAM um conjunto de áreas protegidas a que os turistas podem aceder a partir de alojamento de outras tipologias. A título de exemplo, o Parque Natural da Madeira cobre dois terços da ilha e é na sua totalidade visitável (www.pnm.pt em 15 maio de 2013).

6 Alterou o Decreto-Lei n.º 47/99, de 16 de fevereiro 7 Altera o regime jurídico do turismo de natureza.

8 Regime jurídico da instalação, exploração e funcionamento dos empreendimentos turísticos

O turismo de natureza aparece frequentemente associada ao ecoturismo. A OMT (2002), por exemplo, define o ecoturismo como todas as formas de turismo baseadas na natureza cuja motivação principal é a observação da natureza e das culturas locais, dirigida principalmente a pequenos grupos e que minimiza impactos sobre o meio. Também é frequente associar estas formas de turismo a turismo sustentável mas este não é uma forma particular de turismo mas sim um modelo que se deveria aplicar a qualquer tipo de turismo (OMT & UNEP, 2005).

É também frequente a sobreposição com conceitos como turismo ativo, turismo de aventura ou turismo rural, o que se deve ao fato de muitas vezes se realizarem em áreas comuns e à diversidade de atividades que se podem combinar no mesmo local, numa mesma estada. A título de exemplo, a prática de turismo numa área rural que se localize dentro de uma área protegida constitui turismo de natureza (considerando a localização) mas poderão praticar-se atividades de turismo de aventura ou turismo desportivo (considerando as atividades realizadas).

Existe uma multiplicidade de áreas, incluindo áreas rurais, que não sendo classificadas como protegidas, possuem, no entanto, valores naturais cujas características ambientais resultam por vezes de um processo de humanização de baixa intensidade que preserva uma paisagem percebida como contendo valores naturais intrínsecos. No caso concreto das áreas rurais, a classificação entre TER ou TN pode depender apenas de estar ou não dentro de área protegida.

No que se refere às motivações, ainda que exista um nicho de mercado específico em que a contemplação da natureza e educação ambiental em áreas naturais e protegidas são efetivamente a principal motivação de viagem, a maioria das viagens resulta de uma combinação de motivações, que reforça a sobreposição de produtos atrás referida, e conduz a uma mistura heterogénea de segmentos de mercado que atraem pessoas com diversas motivações (CCE, 2002).

Segundo Weaver, Faulkner, & Lawton (1999) a maioria do turismo inclui motivações e experiências relacionadas com a natureza ainda que frequentemente sejam complementares à motivação principal. Do mesmo modo, a maioria dos visitantes em áreas naturais não pretende apenas contemplar a natureza pelo que será importante a oferta de outras atividades, preferencialmente de baixo impacto ambiental.

A crescente importância deste tipo de turismo decorre de uma alteração no perfil da procura e nas características da oferta. À medida que os destinos massificados se tornam, para muitos consumidores, menos apelativos, emergem preocupações ecológicas e maior consciência ambiental nos mercados emissores, bem como a valorização de espaços naturais e atividades desportivas em contato com a natureza. Procuram-se espaços não massificados, experiências com elevado conteúdo de autenticidade – artesanato, gastronomia e tradições. Também o aumento e qualificação da oferta e a promoção na internet deram o seu contributo (THR, 2006; TP, 2007; IESE, 2008).

O Decreto-Lei n.º 47/99, de 16 de fevereiro relaciona o desenvolvimento do TN com “resposta ao

surgimento de outros tipos de procura, propondo a prática de atividades ligadas ao recreio, ao lazer e ao contacto com a natureza e às culturas locais, cujo equilíbrio, traduzido nas suas paisagens, conferem e transmitem um sentido e a noção de «único» e de «identidade de espaço», que vão rareando um pouco por todo o nosso território.”

O turismo promove a criação e distribuição de riqueza, frequentemente complementar a outras atividades, e tem havido um grande investimento na criação e adaptação de infraestruturas tendo a oferta de alojamento e animação aumentado bastante nos últimos anos (IESE, 2008). A sustentabilidade é particularmente importante em áreas naturais, mas, como vimos, o turismo em áreas naturais pode causar impactos negativos devido a consumo de recursos naturais, perturbação da fauna e flora, poluição, ruído e aumento do risco de incêndio (CCE, 2002).