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Ordenamentos jurídicos alienígenas

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 98-101)

CAPÍTULO 2 – CONTORNOS E FUNDAMENTOS DA AÇÃO COLETIVA PAS-

2.1 Ordenamentos jurídicos alienígenas

O debate em torno das ações coletivas passivas não se restringe ao ordenamento jurídico brasileiro, tendo em vista que diversos ordenamentos jurídicos alienígenas também têm se debruçado sobre o assunto, ainda que muitas vezes isso ocorra de forma tímida.

Cumpre destacar, mais uma vez, que o presente trabalho não tem por finalidade elaborar um estudo de direito comparado, pois essa tarefa fugiria do objetivo proposto neste trabalho, que é traçar os fundamentos da ação coletiva passiva no ordenamento jurídico brasileiro, além do que isso demandaria um estudo ainda mais aprofundado e pormenorizado.

Não obstante isso, reconhecemos a importância da comparação jurídica

para o aprimoramento e incorporação de institutos jurídicos, 292 mas nos propomos

292 Nessa ótica Cândido Rangel Dinamarco assinala: “A ciência processual civil brasileira vive, em tempos presentes mais do que nunca, uma grande necessidade de tomar consciência das realidades circundantes, representadas pelos institutos e conceitos dos sistemas processuais de outros países, para buscar soluções adequadas aos problemas da nossa Justiça. Isso é conseqüência de quatro ordens de fatores identificados: a) na necessidade de coletivização da tutela jurisdicional numa sociedade de massa; b) na crise de legitimidade por que passa o Poder Judiciário e conseqüentes propostas de seu controle externo; c) na assimilação de institutos novos pela própria lei do processo (especialmente as técnicas da tutela coletiva, o processo monitório e as medidas urgentes de antecipação de tutela no processo cognitivo); e d) na crescente aproximação entre culturas e nações soberanas (o fenômeno Mercosul)”. Processo civil comparado. Revista de

nesse tópico a tão-somente demonstrar que o tema possui relevância e é objeto de

estudo em diversos outros países.293

a) Estados Unidos da América

É praticamente impossível abordar o tema das ações coletivas passivas sem que se faça uma referência direta e imediata às defendant class action do direito norte-americano, visto que serviram como fonte de inspiração e sustentação jurídica para que o assunto fosse colocado em pauta no Brasil, motivo este que também justifica um maior detalhamento desse instrumento processual se comparado com a abordagem que será feita nos demais países.

As denominadas plaintiff class actions, que são as ações coletivas ativas, de acordo com o magistério de Mary Kay Kane, referem-se às ações em que:

[...] uma ou mais pessoas demandem ou sejam demandadas em interesse próprio ou de outros indivíduos que declaradamente possuam queixas similares ou tenham sido prejudicadas em situações semelhantes.294

Já as defendant class actions se perfazem quando uma ação é proposta

“contra um grupo de réus representados em juízo por um de seus membros”.295

293 Fazendo um verdadeiro estudo de direito comparado entre vários institutos processuais civis coletivos brasileiros com o de outros países: FERRARESI, Eurico. Ação popular, ação civil pública

e mandado de segurança coletivo – instrumentos processuais coletivos. Rio de Janeiro: Forense,

2009.

294 Tradução livre da autora. No original: “[...] one or more persons to sue or be sue don behalf of themselves and other individuals who allegedly possess similar grievances or have been harmed in a similar way”. KANE, Mary Kay. Civil procedure in a nutshell. 4. ed. St. Paul: West Group, 1996. p. 252.

295 VIANA, Flávia Batista. Algumas considerações sobre as class actions norte-americanas, cit., p. 108.

Outra possibilidade de ação coletiva passiva é vislumbrada por Antônio Carlos Oliveira Gidi, embora reconheça tratar-se de hipótese de difícil ocorrência prática. Observe:

[...] é possível que em uma ação individual o réu interponha reconvenção com o fim de alcançar uma sentença declaratória da legalidade da sua ação contra todas as pessoas atingidas pela sua ação e nomeando o autor da ação individual representante dos demais.296

As ações coletivas ativas são comumente encontradas na prática judiciária norte-americana, mas isso não impede a ocorrência das defendant class actions, em qualquer seara do direito, muito embora seja mais recorrente nas questões relativas a apólices, caso em que os adquirentes, com a alegação de fraude, objetivam responsabilizar um grande número de corretoras de valores; violação de patentes, situação em que o detentor da patente procura validá-la em desfavor dos infratores; e direitos civis, a fim de que os agentes públicos dêem validade às leis ou aos direitos constitucionais.297

É necessário assinalar que, geralmente, esse grupo réu é composto por pessoas jurídicas, e as sentenças provenientes dessas ações podem ter natureza declaratória, mandamental ou indenizatória, apesar de a maior incidência ocorrer para garantir efeito erga omnes às decisões declaratórias ou injuntivas em desfavor de grupos que cometeram ilícito civil ou para interpretar ou determinar a validade

de um documento ou norma.298

296 GIDI, Antônio Carlos Oliveira. A class action como instrumento de tutela coletiva dos direitos – as ações coletivas em uma perspectiva comparada. 2003. Tese (Doutorado do Programa de Pós- Graduação em Direito Processual Civil) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, p. 470.

297 KLONOFF, Robert H. Class action and other multi-party litigation in a nutshell, cit., p. 255.

298 GIDI, Antônio Carlos Oliveira. A class action como instrumento de tutela coletiva dos direitos, cit., p. 469.

Ultrapassadas essas considerações iniciais, é importante reafirmar299 que o regramento das defendant class actions encontra previsão legal expressa na Rule 23 (a), assim como acontece com as ações coletivas ativas (plaintiff class action). Disso resulta que os procedimentos300 para que as ações se processem são os mesmos, além de possuírem os mesmos objetivos de acesso à justiça, economia processual e evitar decisões contraditórias ou incompatíveis.

Por conseguinte, passaremos a uma análise, ainda que superficial, do processamento das class actions, fazendo pequenas anotações quando se tratar

de defendant class action, pois o fato de o grupo figurar no pólo passivo da relação

jurídica processual impõe algumas particularidades. Acompanhe.

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 98-101)