• Nenhum resultado encontrado

Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 159-162)

CAPÍTULO 2 – CONTORNOS E FUNDAMENTOS DA AÇÃO COLETIVA PAS-

2) Hipóteses de cabimento

2.4 Fundamentos

2.4.3 O microssistema das ações coletivas

2.4.4.3 Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional

Ainda que todos os fundamentos apresentados para o cabimento da ação coletiva passiva sejam rechaçados, ao menos esse, de cunho constitucional, não pode ser descartado, considerando-se que toda e qualquer interpretação deve estar em consonância com o conteúdo da Carta Magna.

452 ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales, cit., p. 89.

453 TAVARES, André Ramos. Elementos para uma teoria geral dos princípios, cit., p. 27. 454 ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales, cit., p. 89.

Logo, o grande respaldo para validar a tese do cabimento das ações coletivas passivas está na observância do princípio da inafastabilidade do controle

jurisdicional,456 também denominado direito de ação ou acesso à justiça,457 previsto

no artigo 5.º, XXXV, da Constituição Federal de 1988 que prescreve: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

Discorrendo a respeito do conteúdo desse princípio, Nelson Nery Junior assevera que: “o jurisdicionado tem direito de obter do Poder Judiciário a tutela jurisdicional adequada. A lei infraconstitucional que impedir a concessão da tutela

adequada será ofensiva ao princípio constitucional do direito de ação”.458

E Gregório Assagra de Almeida complementa aduzindo que: “tal princípio constitui, no âmbito dos princípios e garantias constitucionais processuais, o

fundamento primário do direito processual coletivo comum”.459

Também é importante destacar que esse princípio está inserido no Título II, “Dos direitos e garantias fundamentais”, Capítulo I, “Dos direitos e deveres individuais e coletivos”, e a inserção topográfica desse princípio traz algumas implicações de suma relevância.

O fato de estar situado entre os direitos e deveres individuais e coletivos significa dizer que deve haver observância desse princípio inclusive quando se tratar de tutela coletiva, pois, do contrário, estar-se-ia negando a judicialização do

456 Com esse entendimento: DIDIER JÚNIOR, Fredie. O controle jurisdicional da legitimação coletiva e as ações coletivas passivas (o art. 82 do CDC), cit., p. 104; MAIA, Diogo Campos Medina.

Fundamentos da ação coletiva passiva, cit., p. 107-113; VIOLIN, Jordão. Ação coletiva passiva,

cit., p. 33-42.

457 Adotando essas expressões como sinônimas: NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo civil

na Constituição Federal, cit., p. 130-132.

458 Idem, ibidem, p. 133.

conflito, ou, em palavras mais claras, estar-se-ia negando o direito de ação. Nesse sentido Fredie Didier Júnior e Hermes Zaneti Júnior afirmam que:

Atualmente, vale frisar, a norma constitucional que garante o acesso

à Justiça garante-o tanto aos direitos individuais como aos coletivos, basta fazer uma interpretação literal do título do capítulo em que está inserido o dispositivo: “direitos e deveres individuais e coletivos”. Daí que a fórmula correta, que expressa toda a intenção da verba constitucional, pode ser traduzida em: a lei não excluirá da apreciação

do Poder Judiciário lesão ou afirmação de lesão a direito individual ou coletivo (art. 5.º, XXXV da CF/88). Não só direito individual e não só

uma ação para cada direito, mas direitos coletivos e todas as ações cabíveis para assegurar a sua adequada e efetiva tutela.460

Outra decorrência dessa inserção topográfica é que, por se tratar de um direito fundamental, exatamente em razão de ocupar posição hierárquica superior no nosso ordenamento jurídico, a regra é a de que sua aplicabilidade se dê de forma

imediata, consoante dispõe o artigo 5.º, § 2.º, da Constituição Federal.461

Tratando-se de ação coletiva passiva isso quer significar que em razão da ausência de disposição legal sobre o assunto, e considerando que o direito fundamental de acesso à justiça deve ser observado, esse princípio atuará diretamente no caso concreto. Nessa esteira, preciosas são as observações de Ingo Wolfgang Sarlet, ao asseverar que:

A falta de concretização não poderá, de tal sorte, constituir obstáculo à aplicação imediata pelos juízes e tribunais, na medida em que o Judiciário – por força do disposto no art. 5.º, § 1.º, da CF –, não apenas se encontra na obrigação de assegurar a plena eficácia dos direitos fundamentais, mas também autorizado a remover eventual lacuna oriunda da falta de concretização, valendo-se do instrumental fornecido pelo art. 4.º da Lei de Introdução ao Código Civil, de acordo

460 DIDIER JÚNIOR, Fredie; ZANETI JÚNIOR, Hermes. Curso de direito processual civil, cit., p. 27. Com entendimento semelhante: VENTURI, Elton. Processo civil coletivo, cit., p. 89.

461 Artigo 5.º, § 2.º “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.”

com o qual: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”.462

E continua o referido autor:

Negar-se aos direitos fundamentais esta condição privilegiada significaria, em última análise, negar-lhes a própria fundamentalidade. Não por outro motivo – isto é, pela sua especial relevância na Constituição – já se afirmou que, em certo sentido, os direitos fundamentais (e a estes poderíamos acrescentar os princípios fundamentais) governam a ordem constitucional.463

Portanto, é forçoso concluir que a ausência de disposição legal expressa sobre ação coletiva passiva não constitui óbice intransponível para a sua existência, visto que os direitos e garantias fundamentais possuem aplicação imediata e a ação coletiva passiva está inserida nesse seleto rol por ser o mecanismo que garante a jurisdicionalização dos conflitos em todas as suas vertentes, isto é, a coletividade

situada no pólo passivo da relação jurídica processual.464

Assim, tem-se que esse é o argumento mais contundente para rechaçar a teoria daqueles que entendem ser impossível acatar a tese da existência da ação coletiva passiva no ordenamento jurídico brasileiro por falta de regramento legal expresso.

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 159-162)