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Atualmente, o quilombo é cercado por pastos, fazendas, sítios e condomínios, restringindo o território e dificultando a expansão de moradias bem como a disponibilidade de espaço para a realização das festas, oficinas e encontros da comunidade. De acordo com uma liderança, muitos daqueles que têm o “umbigo plantado” no Matição20 não podem construir suas casas lá e constituírem suas famílias

na comunidade por falta de espaço21. As casas são praticamente todas de alvenaria, restando ainda algumas construções de adobe anexadas às moradias já existentes como cômodos externos. As casas de adobe foram aos poucos sendo substituídas pelas de alvenaria a partir da segunda metade dos anos noventa. A maioria das casas é cercada de vegetações ornamentais, árvores frutíferas e hortas. Muitas possuem criação de animais domésticos como galinhas, cachorros, gatos, porcos, coelhos. Algumas casas são delimitadas por cercas de arame.

As casas não possuem redes de esgoto, possuem fossas. A distribuição de água é realizada através de um poço artesiano e alguns moradores possuem cisternas próprias para compensarem o abastecimento precário. A energia elétrica está presente em todas as casas.

Residem no quilombo 35 famílias em um total de 176 moradores em 34 residências. As casas estão dispostas ao longo da estrada que liga a comunidade à sede de Jaboticatubas de um lado e de outro à comunidade de São Sebastião do Campinho. Sete grandes lotes foram subdivididos e novas moradias foram construídas pelos filhos e netos dos irmãos Siqueira: Jair de Siqueira; Dante de Siqueira; Júlio de Siqueira; Nilse de Siqueira; Elza de Siqueira; Silvio de Siqueira; Isaura de Siqueira; Divina de Siqueira e Silvia de Siqueira (ver ANEXO IV). No entanto, entre as residências existem lotes pertencentes a pessoas de fora da comunidade que ali construíram sítios.

FOTOGRAFIA 1- Estrada de Mato do Tição Rua Benjamim José de Siqueira. Antes e depois do asfaltamento.

20 O quilombo recebe essa outra denominação simplificada “Matição”. 21

(TV Comunitária de Belo Horizonte, entrevista com Lindomar João dos Santos disponível em:

FONTE: Arquivo da pesquisadora

A Rua Benjamim José de Siqueira é a estrada principal que liga Mato do Tição a Jaboticatubas e a São Sebastião do Campinho. De tempos em tempos, a prefeitura passava uma máquina para diminuir os buracos e em algumas ocasiões festivas, o carro pipa molha a estrada para diminuir a poeira nos tempos de seca. Desde novembro de 2014, a rua foi parcialmente asfaltada por demanda dos moradores comunidade. Segundo eles os transtornos eram ocasionados pela poeira em tempo de seca e pela lama em tempos de chuva.

Não existe transporte coletivo para a sede ou quaisquer outras localidades do município. Quando necessitam de deslocamento, os moradores utilizam motos, bicicletas, carros próprios (que são poucos), carona no ônibus escolar ou muitas vezes fazem os deslocamentos caminhando. Na entrada da estrada de Jaboticatubas para o quilombo existe uma placa oficial com logomarcas do Governo do Município, do

Governo do Estado e do Governo Federal com a inscrição “Comunidade Quilombola Mato do Tição”.

Na comunidade não existem escolas, as crianças se deslocam para bairros do município em transporte escolar fornecido pela prefeitura. A partir dos quatro anos, as crianças já começam a frequentar escolas públicas.

A maioria dos moradores de Mato do Tição trabalha na construção civil dentro e fora do município, em serviços domésticos nos sítios e fazendas próximas, na fábrica de roupas e de doces bem próximas ao quilombo. Também alguns são autônomos: motoristas, manicures, artesãos (fabricando doces, sabão, cestaria, biscoitos), existe uma funcionária pública municipal que atua como ACS (Agente Comunitária de Saúde). Muitos idosos conseguiram a aposentadoria rural.

Através da Associação Quilombola, os presidentes elaboram projetos culturais como ponto de cultura, prêmio mestres tradicionais, dentre outros. Além da presença de ONGs e grupos de estudantes e professores universitários que também desenvolvem projetos na comunidade.

FOTOGRAFIA 2 – Casa de Dona Divina

Fonte: arquivo da pesquisadora

A apresentação do quilombo para aqueles que o visitam se faz visível para todos. Ao entrarmos em suas terras, nos deparamos com uma placa na qual a comunidade apresenta o seu nome. Essa placa está afixada na casa da D. Divina Siqueira, 88 anos, matriarca da comunidade e liderança religiosa - uma das referências para os quilombolas e visitantes.

Já havia visitado Dona Divina das outras vezes que fomos ao quilombo. Ela tinha muitos colares no pescoço, algumas medalhas e outros parecendo guias, uma touca branca na cabeça e sempre vestida com calças compridas e camisa masculina. Pedimos a benção e conversamos um pouco (Diário de campo, 24/11/2012).

FOTOGRAFIA 3– Altar da casa de D. Divina

FONTE: arquivo da pesquisadora

Na casa e no terreiro de Dona Divina são realizadas as principais festividades e encontros religiosos. Dentro da casa existe um quarto denominado pelos moradores de quarto santo. Nesse cômodo da casa as paredes são todas enfeitadas com flores, papéis coloridos, quadros de santos. Existe também um pequeno altar com imagens de santos católicos e de um preto velho, ali são guardados os tambores do Candombe denominados de Crivo, Santana e Requinta (GOMES e PEREIRA, 1992). Nesse espaço sagrado são feitas as orações, as benzeções e louvores. Espaço sagrado e aberto a quem queira fazer uma prece, pedir proteção, cura. Na sala da casa de D. Divina, vemos uma foto dela e do falecido marido com autoridades como Aureliano Chaves que foi governador de Minas e de um ex-prefeito de Jaboticatubas que aparecem junto a D. Divina durante a festa de São João. Essa é uma foto que não sabem precisar a data, mas que D. Divina mantém como lembrança de um momento importante, o reconhecimento das tradições culturais de Mato do Tição pelas autoridades políticas locais.

Fonte: arquivo da pesquisadora

Outro espaço de referência é onde está localizada a Capela de Nossa Senhora de Lourdes; um pequeno cômodo onde em anexo fica o escritório da Associação Quilombola de Mato do Tição. O Bar do Ley que funciona como uma espécie de centro cultural onde são realizadas as apresentações musicais, bingos, encontros festivos e outros. O bar possui equipamento de som, microfone e TV, nas paredes internas e externas estão estampadas imagens pintadas de D. Divina e Sr. Dante, que são atualmente as pessoas mais velhas da comunidade, e, também uma pintura representando o batuque e o Candombe. Há, ainda, um grande pátio onde se concentram os ensaios de carnaval, a festa da consciência negra, apresentações de grupos de outras localidades, brincadeiras das crianças, a missa dos santos padroeiros, barraquinhas e leilões para arrecadação de fundos para as festas e outras atividades.

Também nesse espaço existe uma antiga construção que pertenceu ao Senhor Benjamim Siqueira, uma das pessoas que deu origem a família Siqueira da qual descende a maioria dos moradores do local (a casa velha como dizem as crianças). Mais abaixo está a casa do Sr. João e D. Nilse Siqueira, pais de nove filhos, dentre eles Solano, liderança da comunidade. Ele realiza diversas ações culturais e políticas em prol do quilombo. Solano é um ativista das causas quilombolas e da preservação das tradições de sua comunidade.

Fonte: arquivo da pesquisadora

Existem dois bares dentro da comunidade nos quais se concentram tanto moradores como visitantes. Próximo ao Bar do Ley existe um telefone público, mas muitos moradores possuem telefones celulares que funcionam com algumas dificuldades de conexão.

Também no escritório da Associação Quilombola existem alguns computadores com acesso a internet. Foi criado um blog do grupo Tambor de Matição, que é um grupo musical composto por integrantes da comunidade existente desde 1996 com a gravação de um CD em parceria com o músico Léo Marques. O blog contém informações sobre o grupo musical e também sobre a comunidade e o Candombe22. Em 2010 o grupo venceu o edital da Fundação Palmares para propostas culturais com o projeto “Encontro de tambores afrodescendentes com a cultura popular”. O encontro foi realizado em 14 de agosto do referido ano, em São Luís (MA).

A religião católica é praticada pela maioria dos moradores, sendo que alguns são evangélicos e outros, além do catolicismo praticam a umbanda. Alguns moradores são católicos e umbandistas. A umbanda é uma religião que não é assumida declaradamente pelos moradores, mas é citada por algumas pessoas como uma das religiões presentes no Mato do Tição.

1.8. As Festas Como Afirmação de Identidade e Manifestação do Sagrado

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