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Organização das Escolas Profissionais e modelo pedagógico

CAPÍTULO I – Enquadramento teórico e político-normativo

2. Ensino profissional em Portugal

2.2 Organização das Escolas Profissionais e modelo pedagógico

Sendo então consideradas um modelo de ensino inovador (Antunes, 2004; Azevedo, 2014), importa perceber o que de novo estas escolas vieram trazer ao ensino em Portugal, ao nível da sua organização e modelo pedagógico.

As Escolas Profissionais foram criadas com autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira, em que a regulação no Ministério a Educação se combinou com a iniciativa autónoma de várias instituições da sociedade portuguesa. Com efeito, nos quatro primeiros anos, estas instituições passaram de 0 a 168, com mais de duzentos novos parceiros sociais, sendo as autarquias municipais, apoiadas por vários tipos de associações, as que mais se comprometram neste processo (tabela 4).

Tabela 4 - Escolas Profissionais e número de promotores por tipologia das entidades 1989 1990 1991 1992 1993 TOTAL Câmaras Municipais 14 18 19 15 11 77 Administração Pública 6 10 8 6 4 34 Empresas Privadas 23 21 6 9 6 65 Associações 33 19 17 8 2 79 Associações Empresariais 11 8 10 12 1 42 Sindicatos/Associações Sindicais 4 8 0 3 2 17 Outros 4 2 1 5 0 12 TOTAL 95 86 61 58 26 326

Fonte: DES, retirado de Azevedo (2014, p. 422)

Os seus cursos foram designados por Cursos Profissionais (CP), predominantemente orientados para a vida ativa, tendo como preocupação responder às carências do mercado de trabalho, a nível local e regional, pelo que se procurou que os cursos lecionados em cada escola/centro de formação estivessem relacionados com as caraterísticas e necessidades da região em que se inseriam. Ainda hoje se verifica a mesma articulação.

A sua conclusão permite uma qualificação profissional, inicialmente de nível III e, atualmente, de nível IV, bem como um diploma de conclusão do 12.º ano de escolaridade, não impedindo o prosseguimento de estudos superiores, mediante a realização dos exames nacionais do ensino regular, nas disciplinas específicas de acesso.

Os CP ministrados em escolas profissionais são regulamentados e reconhecidos pelo Ministério da Educação, embora a sua criação seja normalmente resultado da iniciativa da sociedade civil, pelas instituições acima apresentadas.

Fazendo uma breve análise do Decreto-Lei n.º26/89 de 21 de janeiro, o artigo 3º enuncia as finalidades da criação das escolas profissionais, que passam por:

31 - preparar os jovens para a vida ativa;

- fortalecer a aproximação da escola e do mundo do trabalho, facultando aos alunos contato com a realidade profissional e munindo-os de experiência profissional, através da formação em contexto de trabalho. Esta que assume particular relevo, constituindo uma vantagem competitiva, e se desenvolve através de práticas de observação no decurso de visitas de estudo a empresas, de estágios curtos, estudos e projetos de desenvolvimento ou produção de serviços e bens e desenvolvimento experimental (Franco, Pardal, Ventura, & Dias, 2004);

- prestar serviços à comunidade, promovendo uma valorização recíproca;

- dotar o país e a região, onde está inserida, de recursos humanos adequados ao seu desenvolvimento;

- preparar o jovem para a vida ativa ou prosseguimento de estudos numa modalidade de qualificação profissional.

O artigo 9º do mesmo Decreto-Lei enuncia, igualmente, algumas orientações relativamente à organização dos CP, a saber:

- estas deverão organizar-se, preferencialmente, em módulos de duração variável, segundo níveis de escolaridade e qualificação profissional, progressivamente mais elevados;

- o plano de estudos deve incluir componentes de formação sociocultural, científica e tecnológica e técnica, em proporção variável consoante os níveis de qualificação profissional;

- o curso incluirá realização de estágios, dependendo a sua organização e forma das possibilidades oferecidas localmente;

- poderá haver ligação, no desenvolvimento da formação, com empresas e centros de formação profissional;

- o plano de estudos da cada escola profissional é submetido anualmente pela sua direção, à aprovação pelos Ministérios da Educação e Emprego e Segurança Social.

Em suma, foram vários os elementos inovadores desta modalidade de ensino, designadamente a criação destas escolas mediante a realização de um contrato-programa entre e Estado e um conjunto de parceiros locais, a sua autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira, a articulação com as comunidades onde estariam inseridas e com as carências do mercado de trabalho, a estrutura modular do seu currículo, que incluía a realização de estágios em empresas e o facto da sua conclusão permitir a inserção imediata no mercado de trabalho, sem invalidar o prosseguimento de estudos no ensino superior.

Deste modo, tal como nos refere Azevedo (2014, p. 425), em 1989, o nível secundário de ensino e de formação passava assim a ter como principais características:

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- Após os nove anos de escolaridade básica (três ciclos de 4+2+3 anos), a oferta concentrar- se-ia em três tipos de instituições: as escolas secundárias (com cursos gerais e cursos tecnológicos), as escolas profissionais (com CP) e os centros de formação profissional (com cursos de formação em alternância);

- Todos os cursos teriam a duração de três anos (no caso da formação em alternância, admitia-se a possibilidade de alargar alguns meses este período) e todos, sem exceções, teriam três componentes formativas no quadro de um currículo comum (formação geral ou sociocultural, formação específica ou científica e formação técnica ou tecnológica);

- Os cursos conduziriam, no seu final, a diplomas diferentes, mas todos eles seriam equivalentes em termos educativos e para efeitos de prosseguimento de estudos no ensino superior, constituindo esta a grande diferença entre o anterior ensino técnico-profissional.

Segundo Azevedo (2010, p. 3), este tipo de ensino baseia-se numa inovação educacional/curricular - os ciclos de estudo e o sistema modular. Os alunos progridem por módulos - ―pequenos conjuntos de aprendizagens que têm que ser alcançadas por todos‖ - e não por disciplinas anuais, cujas vantagens são, para Orvalho (2003), cit. por Azevedo (2010):

i) ―responsabilizar mais os alunos pelo desenvolvimento dos seus itinerários de aprendizagem e favorecer a aquisição de mais confiança e autonomia pessoal;

ii)inovar pedagogicamente, pois amplia‐se imenso o campo de construção criativa de soluções flexíveis e adequadas a cada escola e curso, e a cada caso individual, mobilizando todos os recursos disponíveis, na escola e na comunidade envolvente;

iii)potenciar o sucesso educativo, pois a avaliação e a progressão escolar sustentam‐se em saberes e competências efectivamente adquiridos, incrementam a recuperação de quaisquer ―atrasos‖ e evitam o arrastamento do insucesso;

iv)desenvolver nas escolas competências e ambientes pedagógicos fundamentados, autónomos, flexíveis e criativos.‖(Ibidem)

Considera-se, portanto, que o aluno nunca é deixado para trás, a aprendizagem é centrada nele, no seu ritmo de aprendizagem e é-lhe fomentado o sentido de responsabilidade individual e cooperação. Além deste facto, nesta modalidade de ensino, os alunos são postos em contacto direto com a comunidade local, em regime de estágios e experiências de trabalho, das quais resulta uma Prova de Aptidão Profissional (PAP), que é um projeto de trabalho que deve ser elaborado e defendido no final do curso (com duração de 3 anos), para a sua conclusão. Nesse momento, aos alunos é-lhes conferido um diploma de técnico, que confere equivalência ao nível secundário e permite ingressar no mundo do trabalho ou candidatar-se ao prosseguimento de estudos de nível superior, realizando os exames nacionais.

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