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ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS BÁSICOS PARA ALFABETIZAR

1 CONCEITOS BÁSICOS E PARADIGMAS TEÓRICOS DO PROCESSO DE

2.2 ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS BÁSICOS PARA ALFABETIZAR

De acordo com Batista et al. (2008), existem cinco eixos fundamentais de trabalho, que devem ser considerados para a prática do professor alfabetizador no

processo de alfabetização-letramento nos três primeiros anos do Ensino Fundamental:

1. Compreensão e valorização da cultura escrita;

2. Apropriação do sistema de escrita;

3. Leitura;

4. Produção escrita;

5. Desenvolvimento da oralidade.

No eixo compreensão e valorização da cultura escrita uma das capacidades a serem desenvolvidas nos alunos é conhecer, utilizar e valorizar modos de produção e de circulação da escrita na sociedade, que de acordo com Batista et al. (2008, p.

19):

A cultura escrita diz respeito às ações, valores, procedimentos e instrumentos que constituem o mundo letrado. A compreensão da cultura escrita, pelos alunos, vem de um processo de integração no ambiente letrado, seja através da vivência numa sociedade que faz uso generalizado da escrita, seja através da apropriação de conhecimentos da cultura escrita especificamente trabalhados na escola.

Compreender o mundo da escrita favorece o processo da alfabetização dos alunos e como conseqüência, pode resultar na aprendizagem da língua escrita na escola. Este eixo deve ser trabalhado desde o início do percurso de alfabetização, promovendo um trabalho simultâneo entre alfabetização e letramento.

Outra capacidade a ser trabalhada neste eixo, segundo Batista et al. (2008) é conhecer os usos e funções sociais da escrita. Trabalhar essa capacidade é proporcionar aos alunos a clareza com relação às diversidades de usos e funções da escrita, tornando-o capaz de fazer escolhas corretas em suas práticas sociais de leitura-escrita, como por exemplo, organizar o cotidiano, sendo necessário utilizar agendas, listas de compras, cadernos de receitas, e-mails, dentre outros.

Conhecer os usos da escrita na cultura escolar é outra capacidade fundamental para a trajetória escolar do aluno e conhecê-los significa saber para que servem e como são usados. E “[...] saber usar os suportes e instrumentos de escrita presentes na cultura escolar é um conhecimento que se articula com outros saberes sobre a cultura escrita” (BATISTA et al., 2008, p. 20). As crianças precisam apropriar-se desse conhecimento no início do processo de alfabetização.

Neste eixo devem-se desenvolver as capacidades necessárias para o uso da escrita no contexto escolar. Para isso, o aluno precisa saber usar os objetos de escrita presentes na escola e desenvolver capacidades específicas para escrever.

Saber manusear, usar de maneira adequada o caderno, saber segurar e manipular o lápis de escrever, caneta, sentar de forma correta na carteira para ler e escrever, entre outros. No entanto, “O uso do material escolar de escrita [...] inclui, além das capacidades cognitivas, uma habilidade motora específica, que exige conhecimento e treinamento” (BATISTA et al., 2008, p. 22).

Já o segundo eixo, apropriação do sistema de escrita, busca desenvolver a compreensão das regras que orientam a escrita e a leitura no sistema alfabético, e aos poucos o domínio da ortografia. O aluno deve adquirir a capacidade de compreender diferenças entre escrita e outras formas gráficas, sendo fundamental no início do processo de alfabetização. É necessário que seja trabalhado sistematicamente e consolidá-lo no período inicial da alfabetização, para que o mesmo “[...] faça a diferenciação entre as formas escritas e outras formas de expressão” (BATISTA et al., 2008, p. 23).

O alfabetizando também precisa dominar os tipos de convenções gráficas no sistema de escrita. Primeiro precisa compreender a orientação e o alinhamento da escrita da língua portuguesa, proporcionando ao mesmo compreender que a escrita e leitura obedecem a uma orientação, sendo ela de cima para baixo e da esquerda para a direita.

[...] a sequência das letras nas palavras e das palavras nas frases obedece a uma ordem de alinhamento e direcionamento que é respeitada como regra geral e que tem consequência nas formas de distribuição espacial do texto no seu suporte (BATISTA et al., 2008, p. 25).

Este conhecimento é de grande importância para que o educando possa se inteirar da escrita alfabética. Outro ponto importante à organização do sistema alfabético é com relação à linearidade da escrita, que possui características diferentes da linearidade da fala. É fundamental que no início da alfabetização, o aluno compreenda a diferenciação da linearidade na fala e na escrita, a fim de dominar a função de segmentação dos espaços em branco (delimitação de palavras) e da pontuação (frases). Reconhecer unidades fonológicas como sílabas, rimas,

terminações de palavras entre outros é um aspecto indispensável para que os alunos aprendam a ler e escrever com autonomia (BATISTA et al., 2008).

Sendo “[...] capaz de operar racionalmente com unidades sonoras de apreensão mais difícil – os fonemas – e com as complexas relações entre os fonemas e o modo de representá-los graficamente” (BATISTA et al., 2008, p. 27).

Esta capacidade deve ser introduzida, desenvolvida e consolidada no 1º ano do Ensino Fundamental.

É de grande importância que o alfabetizando em seu processo inicial conheça e identifique as letras do alfabeto, adquirindo o conhecimento de que cada letra tem relação com no mínimo um “som” da fala que pode ser representada na escrita.

Assim, ao dominar o nome das letras ele contribuirá para o processo de leitura e a compreensão da grafia das palavras. O aluno também precisa compreender as variadas formas gráficas das letras e como elas variam no valor funcional. Por mais que as letras variem graficamente, elas têm valores funcionais fixados.

Uma das implicações do princípio de identidade funcional das letras para o processo de alfabetização é que o aluno precisa aprender que não pode escrever qualquer letra em qualquer posição numa palavra, porque as letras representam fonemas, os quais aparecem em posições determinadas nas palavras (BATISTA et al., 2008, p. 29).

Para a apropriação do sistema de escrita, também é preciso conhecer e utilizar diferentes tipos de letras (de fôrma e cursiva). Os alunos devem ter contato com diversos tipos de letras que estejam presentes em variados impressos existentes na sociedade, assim possibilitará o desenvolvimento da compreensão da cultura escrita. As capacidades relativas à natureza alfabética do sistema de escrita devem ser introduzidas e trabalhadas no 1º ano do Ensino Fundamental. O sistema de escrita alfabética tem como princípio básico representar uma letra para cada som. Os alunos precisam adquirir a “[...] relação entre a escrita e a cadeia sonora das palavras que eles tentam escrever ou ler” (BATISTA et al., 2008, p. 31).

De acordo com Batista et al. (2008) para se apropriar do sistema de escrita é fundamental compreender que os fonemas são unidades de som, e são representados por grafemas na escrita. Para adquirir esta capacidade de relacionar fonemas e grafemas o aluno precisa aprender regras dessa correspondência, através de um trabalho explícito e sistemático do professor. “Ao dominar as relações fonema-grafema significa, em última instância, dominar a ortografia” (BATISTA et al.,

2008, p. 34). O ensino das regras ortográficas pode ter início no 1º ano para a compreensão do sistema de escrita, mas é provável que se estenda durante os outros anos do Ensino Fundamental, sendo este parte indissociável do processo de alfabetização.

A leitura, como terceiro eixo inclui capacidades relativas ao decifrar o código escrito e compreender o que se lê, construindo sentidos e significados, auxiliando o aluno a ter uma participação ativa nas práticas sociais. Para desenvolver a capacidade de decifração, é necessário decodificar palavras, ou seja, identificar as relações entre grafemas e fonemas, sendo este o princípio básico de construção do sistema de escrita e o leitor precisa compreendê-lo. Saber ler reconhecendo globalmente as palavras é outro método básico que ajuda a ler e a compreender, pois reconhecendo imediatamente as palavras, compreende seu significado instantaneamente. Para desenvolver a capacidade de leitura fluente são importantes alguns recursos, como o reconhecimento global e instantâneo de palavras, prever o que será lido em seguida, apoio no contexto linguístico e extralinguístico para formular hipóteses e a busca de compreensão (BATISTA et al., 2008).

No ensino da leitura o objetivo principal é a compreensão dos textos. Ler com compreensão inclui alguns pontos básicos como a compreensão linear, esta se refere à capacidade de reconhecer informações do texto e assim, construir junto a elas um sentido para o mesmo; produzir inferências, também é fundamental para a compreensão ao ler, trata-se de compreender informações não explícitas no texto.

Outro ponto importante é a familiaridade dos alunos com diversos gêneros textuais.

Segundo Batista et al. (2008, p. 44), “a capacidade de reconhecer diferentes gêneros textuais e identificar suas características gerais favorece bastante o trabalho de compreensão, porque orienta adequadamente as expectativas do leitor diante do texto”.

Batista et al. (2008) enfatizaram que o quarto eixo aborda capacidades necessárias ao domínio da escrita, considerando desde as primeiras formas de registro alfabético e ortográfico até a produção autônoma de textos. A escrita tem o intuito de registrar e divulgar informações e conhecimentos, documentar compromissos, compartilhar sentimentos, emoções, vivências, para organizar rotinas etc., e essas funções estão em diversos gêneros textuais, em que diferentes grupos

e ambientes sociais possuem acesso. Para obter um processo de ensino-aprendizagem da escrita eficiente é preciso:

[...] tomar como ponto de partida e como eixo organizador a compreensão de que cada tipo de situação social demanda um uso da escrita relativamente padronizado. Essa relativa padronização, nascida dos usos e funções sociais, é que justifica o empenho do aluno para aprender as convenções gráficas, a ortografia, a chamada língua culta (BATISTA et al., 2008, p. 51).

Ao se trabalhar nesse sentido haverá uma contribuição aos alunos para a inserção no mundo letrado, na cultura escrita. Dentro do eixo produção escrita é necessário que os alunos desenvolvam capacidades relativas à produção de textos escritos de diversos gêneros, adequando o objetivo da escrita, seu destinatário e o contexto de circulação. Nestes textos as crianças precisam planejar a escrita sempre considerando o tema central e seus desdobramentos, como por exemplo, para que e para quem esta escrevendo e em qual situação o texto será lido. Segundo Batista et al. (2008, p. 50) “[...] esses elementos é que orientam o processo de escrita e é bom que os alunos aprendam a lidar com eles desde cedo”.

Organizar os próprios textos,de acordo com os padrões sociais mais aceitos é uma capacidade útil e relevante, sendo que os diversos gêneros textuais possuem uma estrutura padrão, que comportam alguma flexibilidade, mas são como pontos de referência e facilitam a leitura e a produção, orientam o trabalho de compreensão e redação. Sabe-se que na língua portuguesa há uma variedade linguística que não acontece apenas na fala, mas também na escrita. Relacionado a isso, os alunos precisam aprender a usar a variedade linguística apropriada à produção e circulação, fazendo escolhas adequadas quanto ao vocabulário e a gramática (BATISTA et al., 2008).

O aprendizado para utilizar recursos expressivos, estilísticos e literários adequados ao gênero e aos objetivos do texto é outra capacidade de uso da escrita que também pode ser ensinada e aprendida na escola. Para desfrutar da escrita eficiente e independente é preciso saber planejar, escrever, revisar, avaliar e reelaborar os próprios textos. O domínio destas operações começa com a orientação do professor, e depois vai interiorizando nos alunos tornando-se uma capacidade autônoma (BATISTA et al., 2008).

O desenvolvimento da oralidade é o quinto eixo, que de acordo com Batista et al. (2008), propõe respeitar os usos diversificados da língua portuguesa. Os alunos falantes de variedades linguísticas diferente da “língua padrão” possuem o direito de dominar esta que tem mais prestígio e é bem aceita nas práticas sociais; e por outro lado, também têm o direito ao reconhecimento do seu modo de falar, legitimando sua linguagem cultural.

Participar nas interações orais em salas de aula, escutando com atenção e compreensão, respondendo questões propostas pelo professor e expondo opiniões nos debates com os colegas e professores é uma das capacidades no desenvolvimento da língua oral, como afirma Batista et al. (2008, p. 54).

Formar cidadãos aptos a participar plenamente da sociedade em que vivem começa por facultar-lhe a participação na sala de aula desde seus primeiros dias na escola. Mas inclui, além disso, contribuir para que eles possam adquirir e desenvolver formas de participação consideradas adequadas para os espaços públicos.

Os alunos devem adquirir neste eixo o reconhecimento e respeito às diversas variedades da língua; empregar a variedade linguística de forma adequada nas diversas situações do cotidiano; as crianças precisam se preparar para falar adequadamente, tendo controle sobre o tempo da fala, expondo ideias concisas e organizadas, e ainda é preciso desenvolver a capacidade de ouvir com compreensão, sendo esta crucial para a participação do cidadão na sociedade (BATISTA et al., 2008).

Portanto, foram apresentadas algumas das capacidades que precisam ser alcançadas pelos alunos nos anos iniciais do Ensino Fundamental, sendo útil para orientar o professor alfabetizador.

2.3 O PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DE

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