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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-EMPÍRICA 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

3.5 ORGANIZAÇÃO INTENSIVA EM CONHECIMENTO

As empresas de base tecnológica inovadoras requerem, cada vez mais, saber usar conhecimento e transformar o capital humano (conjunto dos conhecimentos existentes na cabeça das pessoas) em capital estrutural (conjunto dos conhecimentos existentes nas bases de conhecimento das empresas), como forma de sobreviver e de crescer nos mercados onde estão inseridas.

Tal transformação exige que as empresas desenvolvam diferentes maneiras e convergências de conhecimento. Para que isso aconteça, é necessário o estabelecimento de um processo sinérgico entre a organização e os trabalhadores do conhecimento, objetivando estimular a execução de atividades e a realização de tarefas que façam uso intensivo do conhecimento. As organizações que conseguem alcançar esta sinergia são tidas como organizações intensivas em conhecimento.

Nadai e Calado (2005) referem-se às organizações que usam e aplicam os ativos intangíveis constantemente na entrega da proposição de valor aos clientes. Tais ativos são, normalmente, resultantes das atividades e tarefas intensivas em conhecimento. A percepção, sob este referencial, orienta para o primeiro elemento essencial dessas organizações, qual seja, a execução de atividades intensivas em conhecimento contidas nos processos de negócio, e a realização de tarefas intensivas em conhecimento no transcorrer dos projetos.

Sveiby (1999) afirma serem estas organizações estruturas onde a maioria dos empregados possui elevado grau de educação profissional. Nestes locais, a produção consiste em soluções de problemas incomuns e complexos, por intermédio de um ou mais processos de informação, que se materializam por documentos técnicos redigidos e defendidos oralmente. O autor pontua que, para estas organizações, os clientes são tratados individualmente.

Segundo Choo (2003), as organizações intensivas em conhecimento motivam o capital humano a interagir entre si, especialmente durante a realização das tarefas, de maneira a possibilitar a aquisição, o uso e o compartilhamento dos conhecimentos. Esta interação é mais observada no ambiente interno de tais organizações, contudo, também pode ser percebida nas relações entre as empresas num ambiente externo às organizações. Vale a pena destacar que as

interações entre os colaboradores do conhecimento no ambiente interno são eivadas da cultura vigente nas empresas.

Choo (2003) assevera que as organizações intensivas em conhecimento caracterizam-se por privilegiarem os resultados das tarefas em detrimento da forma como elas são realizadas. Elas também mantém comprometimento constante com o capital humano envolvido nas tarefas, deixando as decisões serem tomadas pelos responsáveis por cada atividade executada ou tarefa realizada só escalando para outros níveis de decisão, quando impossível avançar. Tais organizações têm nas competências e nas interações sua principal base para a sobrevivência e o crescimento empresarial.

Araújo Júnior (2008) complementa informando que nas organizações intensivas em conhecimento, o conhecimento tem importância estratégica, assim como o relacionamento profissional entre os colaboradores do conhecimento. Elas fazem uso maciço das tecnologias da informação e da comunicação, relacionando-se naturalmente com o ambiente globalizado e internacionalizado.

Essas organizações classificam-se, no entendimento de Alvesson (2004), em organizações de serviços profissionais, tendo por exemplo clássico as empresas de consultoria e de engenharia, bem como em organizações de pesquisa e desenvolvimento (P&D) como, por exemplo, as empresas de base tecnológica. Para estas empresas, o conhecimento, especialmente o novo, é a mais importante fonte geradora de competitividade (NADAI, 2006).

Os valores destas organizações estão intimamente ligados à experiência pessoal e social, à informação, e à geração e uso intensivo do conhecimento. O alicerce destes valores repousa sobre o domínio tecnológico e sobre a propriedade intelectual, evidências irrefutáveis da existência da aprendizagem organizacional. Pode-se inferir que as organizações intensivas em conhecimento são, essencialmente, facilitadoras dos processos de aprendizagem organizacional.

Essa facilitação, característica de tais organizações, é promovida por grupos de iniciativas e modelos de gestão agrupados em algumas categorias, dentre elas: ambiente de trabalho propício; estímulo à formação de grupos multidisciplinares; motivação à boa documentação dos processos, projetos e procedimentos; e gestão baseada na autonomia dos trabalhadores do conhecimento.

Para Angeloni e Fernandes (2000), um segundo elemento, também essencial, caracteriza fortemente as organizações intensivas em conhecimento. Trata-se da aprendizagem organizacional que permite às organizações transformarem-se a cada projeto que se envolvem com

vistas à sua sobrevivência e crescimento. As autoras identificam, por outro lado, um entrave significativo, qual seja, os gestores organizacionais que, em última instância, comandam as pessoas. Sem o apoio dos gestores organizacionais, inexistem atividades e tarefas intensivas em conhecimento.

Os fundamentos de Davel e Tremblay (2004) chamam a atenção, particularmente para esta pesquisa. Informam os autores que as organizações intensivas em conhecimento implementam formas de gestão que fazem melhor uso da estrutura organizacional, dos processos, da cultura vigente na empresa e, sobretudo, das pessoas.

Observam que estrutura organizacional tem poucos níveis e não define formalmente, e em detalhes, as atribuições de cada unidade organizacional. Acerca dos processos, verificam autonomia para a tomada de decisões, assim como elevado nível de comprometimento com os resultados, baseados nos relacionamentos interpessoais e na confiança deles decorrentes.

Relativamente à cultura vigente, percebem que as atividades e tarefas são orientadas para serem efetivas aos clientes. As boas práticas são fruto do desenvolvimento em conjunto das pessoas reunidas em comunidades, interagindo entre si. No que diz respeito às pessoas, os autores registram a sua elevada qualificação.

Assim, a julgar pelos elementos que influenciam qualitativamente na caracterização de uma organização como intensiva em conhecimentos, pode-se inferir que as atividades e tarefas intensivas em conhecimento determinam, em maior ou menor grau, na aprendizagem organizacional que, por sua vez, induz na constante reorganização estrutural para fazer frente as incertezas dos ambientes mercadológicos onde estão inseridas as empresas.