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A primeira fase do processo defensivo, de uma forma teórica e analítica, portanto o equilíbrio defensivo, é o argumento fundamental de um bom ataque.

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Como destacado anteriormente, o jogo deve ser visto como um todo e qualquer equipa tem que ambicionar a inexistência de quebras de continuidade no seu futebol. Consequentemente, torna-se determinante um permanente raciocínio colectivo que deve estar transformado em hábitos exercitados e enraizados nos jogadores que permitam rapidamente «mudar de cassete» na constante alternância de momentos de jogo que o jogo vivencia.

A transição defesa-ataque tem de ter uma relação íntima com a organização ofensiva de determinada equipa, assim como a transição ataque- defesa tem que ter uma relação próxima com a organização defensiva. (Fernando Ferreirinha, 2008).

Cada momento deverá ter relação próxima não só com o momento que lhe sucede mas também com aquele que o antecede. Só assim o jogar harmónico de uma equipa é conseguido. Nesta medida, é necessário conceber o equilíbrio da equipa no jogo. Fala-se obviamente do equilíbrio defensivo no ataque e do equilíbrio ofensivo na defesa.

Para Lobo (2009) os cuidados e a atenção que falamos relativos ao momento de perda da posse de bola devem ser contemplados em antecipação, isto é, começam precavendo-se com a manutenção do equilíbrio defensivo a atacar. O mesmo se aplica na manutenção do equilíbrio ofensivo a defender.

O objectivo de qualquer equipa sem a posse de bola é conquistá-la e quando a tem o propósito passa a ser concretizar em golo. No entanto, devemos perceber que nem sempre é possível finalizar dessa forma, logo a equipa deve estar preparada (equilibrada) em momento de ataque para perder a posse de bola, e ao mesmo tempo, quando sem a posse de bola, estar preparada para atacar novamente (Fernando Ferreirinha, 2008).

Em concordância surge Luís Freitas Lobo (2009) ao afirmar que o mais frequente e provável de acontecer quando uma equipa detém a posse de bola é perdê-la. E como os casos de golo são raros, em função da quantidade de posses de bola que cada equipa tem, qualquer equipa que não contemple as consequências da perda da posse de bola (equilíbrio defensivo no ataque) e se

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desequilibre na cobertura de espaços neste momento, é uma equipa mal preparada.

Carvalhal (2002), tendo em conta os momentos de transição, classifica de extrema importância a equipa estar permanentemente equilibrada, quer a atacar que a defender. Carvalhal (2003: 1) esclarece: “no fundo, o jogo é feito de equilíbrios. Ninguém consegue atacar bem se não tiver a equipa equilibrada para defender (se não contemplar o equilíbrio defensivo no ataque) e ninguém consegue atacar bem se, a defender, a equipa não estiver preparada para atacar (se não contemplar um equilíbrio ofensivo na defesa). Os equilíbrios são importantíssimos. Estar com a equipa permanentemente equilibrada é meio caminho andado para se poder ganhar.”

Esta preparação prévia da perda da posse de bola nunca deve desvalorizar o momento de posse de bola e deve permitir que esta seja mantida, trabalhada e dinamizada para que possa criar problemas ao adversário.

Atacar contemplando uma possível perda de bola, isto é, estar a atacar, mas, ao mesmo tempo, ter a equipa organizada e equilibrada é essencial para se poder voltar a recuperar a bola. Essa é sempre a condição essencial de quem quer atacar, ter a posse de bola. Para que isso seja possível, no equilíbrio defensivo no ataque, é fundamental o posicionamento dos jogadores. Apesar de querer que todos os jogadores participem no processo ofensivo, nem todos têm as mesmas funções, ou seja, participar no processo ofensivo também é ajustar comportamentos e posições no sentido de manter a equipa equilibrada (Rui Quinta, 2003).

Carvalhal (2003) também atribui à ocupação racional dos espaços a base do que é o equilíbrio defensivo no ataque.

Jesualdo Ferreira (2003) concorda com os anteriores treinadores e afirma que defender bem é em primeiro lugar, a equipa estar bem posicionada no momento em que tem a posse de bola. E este equilíbrio posicional tem o mesmo intento voltar a recuperar a bola o mais rápido possível, como que defendendo com uma perspectiva ofensiva. Assim, para ter mais condições de sucesso deve-se criar um conjunto de mecanismos defensivos que têm o seu

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início quando a equipa conquista a posse de bola e entra em organização ofensiva.

Em síntese, parece confirmar-se que o equilíbrio defensivo no ataque é fundamentalmente a existência permanente de um equilíbrio posicional no seio da equipa, através da ocupação cuidada e inteligente dos espaços no ataque, no sentido de permitir uma reacção rápida à perda da posse de bola, com vista ao domínio dos momentos de transição ataque-defesa e à rápida recuperação da posse de bola.

Esta visão tendencialmente ofensiva (na medida em que se procura sempre deter a posse de bola) é defendida por Jesualdo Ferreira (2003: 2) que atesta que “os jogadores têm de ter a consciência de que têm que defender bem para atacar mais. Portanto, quando a equipa está em posse de bola, o seu posicionamento deve ser de tal ordem que, prevendo que vai perder a bola – porque isso acontece – lhe permita um imediato ataque à bola e ao adversário. De ataque ao adversário e ataque à bola, isto é, continuar a atacar. A ideia de atacar continua, no sentido de a ganhar rapidamente. E, se a equipa não estiver preparada para este segundo ou esta fracção de segundo que acontece entre o ter a bola e o perder a bola, se não tiver capacidade para rapidamente responder a essa situação, seguramente andará muito mais tempo atrás da bola e em zonas que não interessam, por serem próximas da própria baliza.”

A recuperação rápida da bola (e o seu treino) é uma condição fundamental para que se possa colocar muita gente na zona de finalização sem que os riscos aumentem drasticamente em termos defensivos. O caminho para poder ter essa filosofia de jogo ofensiva, e não expor demasiado os jogadores a fazer longas distâncias da zona defensiva até à zona ofensiva e depois a recuperar novamente até à zona defensiva, é tornar a equipa agressiva onde esta detém mais unidade, ou seja, pressionando na zona ofensiva (Carvalhal, 2003).

Existem porém alguns treinadores e comentadores que consideram que estar a preparar o momento de perda de posse de bola enquanto a equipa a detém seria incutir nos jogadores uma mentalidade derrotista e de fracasso.

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Guilherme Oliveira (2003a) discorda e argumenta em sentido contrário pois, na sua opinião, a sensação de segurança, caso a equipa perca a bola (porque mais tarde ou mais cedo isso vai acontecer), fornecida pelo equilíbrio defensivo no ataque permite aos jogadores serem mais confiantes e conscientes que esse é o meio para recuperarem novamente a bola imediatamente após a perderem. Acrescenta ainda que essa constante organização e «preocupação» defensiva não são nunca castradoras e, pelo contrário, concedem à equipa condições para ser mais confiante uma vez que vai mais vezes ter sucesso nas suas acções defensivas no intento de recuperar sempre a posse de bola e quase não deixar de atacar.

Outro aspecto é destacado por José Mourinho (2003) – os jogadores – uma vez que, segundo este, existem alguns jogadores que, pelas suas características, condicionam a equipa a adoptar um tipo de comportamentos coincidentes.

Concordamos com Mourinho ao afirmar que dentro desta lógica comportamental não podemos esquecer que existem jogadores com os quais é mais fácil atingir este tipo de comportamentos, pela sua cultura táctica e sentido posicional. No entanto, não se pode deixar de referir que estas características dos jogadores não são exclusivamente inatas mas também são treináveis, isto é, podem ser modeladas através de uma exposição prolongada a um determinado contexto. Neste sentido, o treinar de determinada forma, sem equívocos, assume uma relevância extrema na forma como os jogadores vão actuar em jogo.

Ainda dentro da mesma lógica Jesualdo Ferreira (2003) diferencia os jogadores entre aqueles que participam activamente no processo ofensivo (que na sua perspectiva normalmente não ultrapassam os 50%) e aqueles que participam de uma forma muito activa no processo de recolocação e reposicionamento, para que, no momento em que a equipa perde a posse de bola, existam condições para a ganhar rapidamente. Isso é fundamentado, pelas questões de espaço, principalmente, com a questão do domínio dos princípios de jogo.

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Faria (2003) perante esta perspectiva de busca constante pela posse de bola assegura que apenas um bom equilíbrio posicional no momento da perda da posse permite que a transição defensiva seja realizada com pressão imediata sobre a bola.

O equilíbrio defensivo no ataque está relacionado em primeira instância com a disposição dos jogadores no campo que transfere possibilidades de ligação entre esses jogadores no sentido de encurtarem distâncias, de diminuírem o espaço entre linhas e, a partir daí, criarem zonas de pressão junto da bola (Garganta, 2003).