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Organização territorial da vertente em “baixa”

A resolução da problemática da vertente em “baixa” é o principal desafio para o período 2007-2013, desafio esse cuja resposta implica a solução concertada de três aspectos fundamentais:

• A infra-estruturação indispensável à consecução dos objectivos de atendimento às populações é essencial

para a optimização das capacidades de atendimento instaladas na vertente em “alta” e, consequentemente, para a viabilização dos sistemas integrados instalados nesta vertente no âmbito do PEAASAR 2000-2006;

• O modelo de organização e gestão que ofereça as melhores garantias de realização dos investimentos neces-

sários nos prazos previstos e que facilite a obtenção dos financiamentos que os suportam;

• A adopção de sistemas tarifários que assegurem a sustentabilidade dos sistemas em “baixa”, ainda que

concebidos na base do necessário compromisso entre a incorporação dos custos incorridos na prestação do serviço, a capacidade económica das populações e a necessidade de desincentivar o desperdício do recurso. Ou seja, no fundo, conciliar os objectivos estratégicos de universalidade, sustentabilidade e protec- ção ambiental.

O volume de investimentos considerados necessários para o período 2007-2013 é, como se referiu anterior- mente, da ordem dos 2 200 milhões de euros, montante que corresponde aproximadamente ao volume de investimentos no sector apoiados pelo FEDER nos três períodos de programação precedentes.

Sendo embora a instalação e exploração das redes em “baixa” da competência e responsabilidade dos municí- pios, esse facto não exclui que no âmbito desta Estratégia se formulem propostas destinadas a viabilizar a resolução dos problemas em aberto, uma vez que está também em causa a eficácia da aplicação dos fundos comunitários relativos

ao período 2007-2013 e o cumprimento das directivas comunitárias cuja responsabilidade impende sobre o Estado Português.

Há várias razões que podem ajudar a compreender o atraso na resolução do problema, designadamente:

• Um número significativo de municípios aderiu às soluções plurimunicipais, e particularmente aos sistemas

multimunicipais, na perspectiva de integração nesses sistemas das vertentes em “baixa” do abastecimento de água e de saneamento de águas residuais tendo como objectivo fundamental garantir a viabilidade dos sistemas de maior risco; nestes sistemas, por um lado, a construção das redes em “baixa” era condição indis- pensável ao cumprimento dos pressupostos de viabilidade técnica, económica e financeira do contrato de concessão do sistema em “alta”, e, por outro, os investimentos associados a essa construção ultrapassavam claramente a capacidade de investimento dos municípios envolvidos;

• A mudança de orientação política na matéria, com a decisão de não levar por diante a integração das

“baixas” nos sistemas multimunicipais, numa altura em que os municípios já tinham canalizado parte do seu esforço de investimento para outras áreas, veio deixar até hoje sem solução muitas deficiências que se verificam nesta vertente;

• A desadequação, por motivos históricos conhecidos, das tarifas praticadas num número significativo de

municípios não lhes permite gerar receitas suficientes para fazer face aos investimentos em causa, factor a que se associam as limitações existentes à sua capacidade de endividamento.

Em consequência, embora com algumas excepções, os investimentos têm tido um carácter pouco sistemático, realizado directamente pelos municípios isoladamente, ou seja, sem uma lógica de integração territorial, ao contrário do que aconteceu na “alta”. Em alguns casos, ainda em número reduzido se considerarmos o universo dos municípios existentes, os investimentos têm sido realizados por empresas do sector privado com base em concessão dos serviços e outras modalidades de privatização material da gestão (empresas municipais de capitais maioritariamente públicos), seguindo uma lógica maioritariamente municipal.

O problema será dificilmente resolúvel em tempo útil se não for adoptada uma estratégia clara e cuja implemen- tação deverá ser iniciada ainda em 2007 e sustentada pelos apoios a fundo perdido provenientes do QREN.

A estratégia proposta assenta nos seguintes princípios:

• Integração territorial das soluções numa lógica plurimunicipal, à semelhança do que já se verifica na vertente

em “alta”, e envolvendo as componentes de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais, permitindo a geração de economias de escala e de gama e a resolução solidária e articulada do atendimento na área de intervenção de cada sistema;

• Preferencialmente, coincidência com a área geográfica dos sistemas em “alta” de um ou mais sistemas

integrados em “baixa”, definidos de acordo com critérios de viabilidade técnica, económica e financeira e respeitando as afinidades locais, e dimensionados de forma a estimular o aparecimento de novas alternativas no sector privado, designadamente a nível regional; eventual integração da “alta” e da “baixa”, nas condi-

• Respeito pelas soluções físicas e institucionais já implementadas no terreno, não se prevendo, portanto, a

integração dos sistemas concessionados e outros já privatizados, excepto nos casos em que as partes contra- tantes livremente decidam de outra maneira;

• Total liberdade aos municípios de não integrarem os novos sistemas plurimunicipais, ficando no entanto

obrigados a atingir os resultados a que estão legalmente vinculados;

• Adopção de modelos de gestão empresarial que ofereçam garantias de eficácia na implementação e gestão

dos sistemas;

• Adopção do princípio de remuneração aos municípios integrantes do sistema em função do esforço de

infra-estruturação já efectuado, sempre que tal se revele necessário para garantia de tratamento equitativo de todos os parceiros envolvidos;

• Adopção de um regime tarifário uniformizado na área de intervenção de cada sistema, estabelecido em

função de critérios de sustentabilidade económica, social e ambiental, por referência a um intervalo tarifário;

• Em qualquer caso, os subsídios ao investimento deverão ser definidos em função do objectivo de sustenta-

bilidade dos tarifários praticados e ser concedidos em base contratual que definirá os objectivos a atingir no âmbito da implementação de cada sistema.

A adopção desta estratégia na vertente em “baixa” parece ser a forma mais adequada para dar resposta aos problemas em aberto, na medida em que:

• Permite a resolução do problema da vertente em “baixa” de forma solidária, evitando-se assim que se

resolvam individualmente apenas as situações mais atractivas do ponto de vista de um eventual envolvi- mento do sector privado, ficando por resolver as situações de menor rentabilidade, com prejuízo para as populações abrangidas;

• Contribui para a viabilização do investimento em “alta”, no qual os próprios municípios são parte interes-

sada, dotando o sistema em “baixa” dos meios para repercutir no cliente final os custos de funcionamento de ambas as vertentes;

• Incentiva, quer as entidades operando na “alta”, quer as entidades operando na “baixa”, a um mais estrito

cumprimento das suas obrigações contratuais, estimulando a optimização do processo.

Assim, a par da possibilidade da integração vertical de todos os serviços em sistemas multimunicipais nas condi- ções que adiante se referem, admite-se alternativamente a criação de sistemas plurimunicipais na vertente em “baixa” com participação do Estado, como as vias mais adequadas de resolver os problemas em aberto, devendo a sua confi- guração física e o respectivo modelo de gestão serem equacionados com os municípios interessados em obediência às regras nacionais e comunitárias aplicáveis.

Não se vislumbrando qualquer razão para um tratamento diferenciado, também para a vertente em “baixa”, para assegurar o mesmo nível de recuperação de custos, transparência e igualdade de tratamento no estabelecimento de

tarifas, e independentemente do modelo de gestão adoptado, devem ser definidas bases de concessões e regulamentos tarifários e de serviço comparáveis aos estabelecidos para os sistemas multimunicipais, nomeadamente no que se refere a níveis de serviço e requisitos operacionais e económico-financeiros.