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Organizações como Sistemas Adaptativos Complexos

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.2 Teoria da Complexidade

2.2.2 Organizações como Sistemas Adaptativos Complexos

A complexidade é caracterizada em uma organização quando não ocorre uma relação entre os colaboradores em qualquer momento, resultante das limitações da capacidade de interconectá-los (LUHMANN, 1998). “A complexidade obriga à seleção, obrigação à seleção significa contingência e contingência significa risco” (LUHMANN, 1998, p. 19).

De acordo com Morin (2005) o pensamento complexo das organizações inicia-se com a falência do modelo clássico, assentada nos pilares da ordem, separabilidade e razão absoluta. Com isso surge o seguinte questionamento: “como as organizações podem se conduzir num universo onde a ordem não é absoluta, ou a separabilidade é limitada, e onde a lógica comporta buracos?” (MORIN, 2005, p. 197)

Nobrega (1996), afirma que as organizações de hoje só evoluem se aprenderem a funcionar como sistemas que trazem em sua estrutura a própria mudança, ou seja, se forem adaptativas, e para isso, é preciso aprender a mudar. Agostinho (2003) afirma que o paradigma mecanicista e seus descendentes mostram-se ineficientes na solução de problemas

organizacionais pelo fato de não conseguirem de dar conta do grau de incerteza e de fluidez que a economia e a sociedade vivem hoje.

A complexidade da organização esta presente na sua característica de ser simultaneamente, transformação e formação. De acordo com Morin (2005), a transformação passa a ser o modo pelo qual as partes de um todo perdem qualidades e adquirem outras novas e o modo da diversidade desordenada em diversidade organizacional, ou seja, a transformação da desordem em ordem.

Segundo Morin (2005), a organização produz ordem que, por sua vez, mantém a organização que a produziu; a ordem transforma a improbabilidade da organização em probabilidade local, em resistência contra as desordens do interior (degradação) e do exterior (riscos, agressões).

Stacey (1996) propõe uma estrutura aplicada a um sistema complexo direcionada para as organizações. De acordo com o autor, as organizações são redes que consistem de um grande número de agentes – pessoas – que interagem uns com os outros de acordo com um conjunto de regras de comportamento; a ciência da complexidade explora a natureza das redes determinísticas e adaptativas, os sistemas complexos adaptativos são redes formadas por um grande número de agentes de acordo com esquemas que contém partes tanto dominantes como recessivas.

Pode-se definir que as empresas são sistemas adaptativos complexos e também são criativas e inovativas quando ocupam um espaço para a novidade na divisa do caos ou desintegração. As pessoas atuam em um sistema de organização com conceitos e ações que ao fim, acabam por minar o sistema legitimado no sentido que o transformam (STACEY, 1996).

Para Lee et al (2012), um SAC é constituído por um grande número de agentes que interagem entre si com liberdade para agir de forma que nem sempre são previsíveis, mas o que torna o sistema complexo, não é a quantidade de agentes, mas a maneira que eles interagem, em adaptar-se uns aos outros. Segundo Sherif (2006), o sistema deriva a sua complexidade a partir da diversidade e o nível de interação entre os agentes.

Sendo uma organização composta de processos e pessoas que interagem entre si e com o ambiente por meio de sua cadeia de relacionamentos, aprendendo, criando regras, adaptando-se e evoluindo, Leite, Bornia e Coelho (2004) identificaram algumas características básicas de um SAC que podem ser identificadas em uma organização. O quadro 11 apresenta os conceitos de cada característica.

Características Sistema Adaptativo Complexo Organização

População de agentes Possui uma variedade de tipos de agentes com localização, memória, autonomia, aprendem e interagem.

É o conjunto composto pelas pessoas da empresa e suas relações com fornecedores, clientes e concorrentes.

Interação Base de um SAC, com a interação dos agentes dentro do sistema, surgem as propriedades emergentes.

Relacionamentos entre fornecedores, clientes e pessoal interno. Configura-se em relacionamentos de muitos para muitos.

Conectividade É a conectividade entre a agregação de agentes que determina a complexidade e a estrutura do SAC.

A empresa possui uma conectividade entre seus parceiros como forma de manter reunida uma estrutura de pessoas.

Interdependência Os subsistemas estão conectados por ações interdependentes. Ação de um agente interfere na ação do outro e vice-versa.

Os setores da empresa são conectados. A ação de um setor depende da ação de outro para controlar os próprio resultados.

Autonomia Confere aos agentes consciência de suas habilidades, informações e possibilidade de atuação em determinadas situações.

As pessoas são tomadores de decisão, orientados por suas próprias capacidades de julgamento, considerando o que apreendem da interação com o ambiente.

Controle Surge não no sentido de hierarquia, mas no sentido do autônomo enxergar suas limitações e buscar na interação sua superação e evolução.

A empresa possui um sistema de controle para coordenar o funcionamento do todo.

Regras Os agentes dotados de autonomia produzem regras informais como forma de relacionar os objetivos das empresas com os objetivos individuais.

Existência de regras para facilitar as rotinas e determinar os deveres e direitos das pessoas envolvidas.

Auto-organização A interação entre os colaboradores cria uma organização sem um prévio planejamento.

Processo de adaptação ao ambiente externo, através da interação entre os agentes como fonte de aprendizado, criatividade e inovação.

Fluxo de informações Recurso principal para a

inteligência do SAC,

proporcionando o reconhecimento de repetição de padrões e informações novas.

A empresa possui um fluxo de informações que permite gerenciar e criar conhecimentos.

Gestão em conjunto Surgimento das propriedades do SAC, o complemento perfeito entre o todo e as partes.

Gestão participativa

Incerteza Grande número de

interdependências de possibilidades de configurações.

As condições externas a empresa não são totalmente conhecidas.

Quadro 11- Características comuns de um SAC e uma organização Fonte: adaptado de Leite, Bornia e Coelho (2004)

Em seus estudos sobre o comportamento de organizações complexas, Anderson (1999) identificou quatro elementos presentes em um modelo de SAC, com implicações interessantes para os teoristas organizacionais.

1- Agentes com esquemas: em uma organização, os agentes podem ser pessoas, grupos, ou coalizões de grupos. O comportamento de cada agente é orientado por uma estrutura cognitiva que determina as ações dos agentes (ANDERSON, 1999). 2- Redes auto-organizadas sustentadas pela importação de energia: o comportamento

de um agente depende do comportamento (ou estado) dos agentes em um sistema, conectados por laços de feedback (ANDERSON, 1999).

3- Co-evolução para a era do caos: a co-evolução ocorre em um processo de interação simultânea e continua, ajudando os agentes de um sistema a se adaptarem e evoluírem (ANDERSON, 1999).

4- Recombinação e evolução do sistema: a forma de como ocorre a interconexão dos agentes, pelo processo de entradas, saídas e transformação, influenciará o fluxo dos resultados dentro do sistema (ANDERSON, 1999).

Segundo Fialho e Coelho (2002) as organizações que trabalham com o pensamento de um sistema complexo, desenvolvem agentes com habilidades de se auto-organizarem rapidamente e redirecionarem esforços de toda a organização ou parte dela. Tais agentes utilizam a ciência da complexidade para se transformarem com o ambiente, buscando novas possibilidades e redirecionando as ações da organização a partir dessa leitura do ambiente.

Silva e Rebelo (2003) afirmam que vislumbrar as organizações como sistemas adaptativos complexos é uma tarefa desafiadora. De acordo com os autores,

para que esse modelo seja institucionalizado, todos os seus agentes, principalmente seus gestores, devem estar conscientes de que a complexidade preconiza a visão de um novo homem organizacional, que é multidimensional, que tem vontades, desejos e que deve participar da vida organizacional (SILVA; REBELO, 2003, p. 785).

Diante do exposto, pode-se concluir que as organizações modeladas a semelhanças de sistemas adaptativos complexos:

- São redes dinâmicas e abertas, formadas por agentes, ativos e autônomos, que conscientes de sua interdependência, investem significativamente na qualidade de suas relações, que aprendem e adaptam seus comportamentos a partir das pressões de seleção do ambiente;

- Possuem uma identidade determinada por um conjunto de regras, pressupostos, valores e princípios, e utilizam-se do feedback das informações do seu desempenho e das condições do ambiente de negócios para aprender e se adaptar.