• Nenhum resultado encontrado

8 ORGANIZAÇÕES HOSPITALARES

As instituições de saúde especialmente os hospitais e centros de saúde, constituem ambientes de trabalho causadores de stresse, como se verificou anteriormente pelos factores indutores e também pela existência de vários níveis de autoridade e especialização profissional, ou seja, grande heterogeneidade nos profissionais e interdependência de responsabilidades.

Na organização os grupos têm um carácter formal, em que as relações estabelecidas entre os profissionais são definidas por normas de comportamento e regras de procedimentos pré-estabelecidas. Assim estes grupos são percepcionados pelos seus membros como uma forma de atingir objectivos pessoais, sociais e também profissionais.

A partilha de objectivos pelo grupo também se reflecte no modo como este interage, entre si e com a instituição, tendo em consideração se os objectivos da instituição se adequam aos do grupo e aos de cada indivíduo.

Para CAETANO (2001:337) “...equipa é mais do que grupo”. Assim os grupos tornam-se equipas quando ocorrem processos sinergéticos entre si, existindo um sentimento de implicação grupal.

De acordo com SAVOIE e BEAUDIN, CAETANO (2001:338) refere que a interdependência entre os membros e o seu carácter formal distingue um agregado de uma equipa de trabalho funcional dentro da organização.

Na maioria das instituições de saúde, encontramo-nos perante grupos de trabalho, que não funcionam como equipa, não partilham os mesmos objectivos, não tem afinidades entre si, enfim são pessoas completamente diferentes. Na concepção de equipas de trabalho em saúde é importante reunir interesses. As pessoas não devem participar em projectos para os quais não se encontram motivados. Os serviços onde trabalham devem proporcionar realização profissional. Hoje em dia quando um profissional de saúde escolhe um serviço ou especialidade, deve

conhecer a realidade, as dificuldades e as vantagens. O serviço deve ser adequado ao profissional, mas o profissional também deve ser adequado ao serviço.

O trabalho em equipa é essencial para as instituições de saúde. Permite o aumento do rendimento, promove a comunicação interpessoal e interdisciplinar, uma vez que as equipas são compostas por vários grupos profissionais (p.ex: equipa multidisciplinar no bloco operatório), deste modo é valorizada a sinergia dos elementos da equipa.

As organizações estão inseridas dentro de um ambiente e interagem com este ambiente recebendo influências e influenciando.

As pessoas que actuam nas organizações são agentes que contribuem para esse intercâmbio constante. Os valores das pessoas por sua vez conduzem à formação da cultura da organização. Esta é a raiz das decisões estratégicas de uma organização.

A cultura não é uma constante, num mesmo tempo e num contexto isolado.

Segundo Barker citado por CAETANO (2001:174) “ a cultura é uma manifestação

da identidade organizacional, sendo que para qualquer categoria de identidade existe um conjunto de valores correspondente”.

Identidade e cultura organizacional são conceitos diferentes, mas encontram-se em constante intercâmbio, assentam em perspectivas distintas de atribuição de sentido. A identidade organizacional diz-nos quem somos e a cultura organizacional reflecte aquilo a que damos valor na organização.

“ A cultura é apreendida, transmitida e partilhada. Não decorre de uma herança biológica ou genética, porém resulta de uma aprendizagem socialmente condicionada. A cultura organizacional exprime então a identidade de uma organização” CAETANO (2001:174).

A estrutura da organização hospitalar também é decisiva no bem-estar dos profissionais. Estruturas muito hierarquizadas em que a informação dificilmente chega ao grupo operacional, pode gerar incompreensões e insatisfação. Estruturas em que o centro decisor está mais próximo do operativo, existe mais interacção, troca de informação, maior percepção do feedback e uma compreensão mútua em

Neste sentido para que a decisão estratégica seja eficaz deve compreender a existência de suporte social para os profissionais de saúde, sendo necessário que este conceito faça parte da cultura da organização.

8.1 – COMUNICAÇÃO NA EQUIPA DE SAÚDE

O relacionamento interpessoal é o resultado dos fluxos comunicacionais entre pessoas. Uma comunicação deficiente induz a relacionamentos stressantes e vice- versa. Na equipa de saúde ocorrem frequentemente falhas na comunicação uma vez que existem estratos profissionais diferentes, para além das diferenças pessoais. Por outro lado o facto de existir coesão grupal condiciona uma comunicação clara e precisa e ainda alguma afinidade, independentemente das diferenças pessoais que podem mesmo ser uma mais valia, na medida em que trazem experiências de vida diferentes e pressupõem a existência de suporte social.

Em equipas de trabalho a emergência de líderes é parte integrante da dinâmica de grupos. A liderança bem sucedida é aquela que é capaz de atingir os objectivos da instituição e simultaneamente satisfazer os anseios dos profissionais.

A liderança emerge na equipa quando um dos seus elementos tem a capacidade de influenciar os restantes. O tipo de liderança é influenciado de acordo com a maturidade do líder segundo HERSEY e BLANCHARD. Assim quanto maior é a maturidade do líder maior é a partilha da liderança com os seus subordinados.

Numa equipa de saúde multidisciplinar, os líderes emergem de acordo com o estrato profissional e com a área predominante em cada momento. Assim durante uma cirurgia são vários os líderes que emergem: o cirurgião que lidera o acto cirúrgico, o enfermeiro que lidera a equipa de enfermagem, o anestesista que lidera quando executa técnicas anestésicas. No entanto os vários líderes de cada estrato podem emergir em simultâneo uma vez que se tratam de actividades interdependentes. Esta simultaneidade pode trazer consigo conflitos de papel.

O relacionamento entre colegas é importante na definição de um bom clima de trabalho, promovendo um maior envolvimento com a organização e aumentando o rendimento individual e de grupo, sendo uma condição essencial ao bem-estar e segurança no trabalho.

8.2 – EQUIPAS MULTIDISCIPLINARES

O grau de homogeneidade ou heterogeneidade de um grupo, no que se refere às suas características demográficas, sociológicas ou psicológicas, influência os processos de interacção e finalmente no desempenho da equipa. A heterogeneidade é defendida como característica vantajosa no envolvimento em tarefas intelectuais relacionadas com a resolução de problemas. Equipas com objectivos, características de personalidade comuns e com elevada compatibilidade, dispendem menor energia às inteirações de carácter social e afectivo. O nível de satisfação, motivação e consequentemente o desempenho é eficaz e eficiente. No entanto a interação prolongada de uma determinada equipa resulta em processos de liderança informal. O líder ou líderes emergentes podem condicionar de forma positiva ou negativa a qualidade do desempenho.

Num bloco operatório cada profissional desempenha uma função distinta mas interdependente. Assim temos o Anestesista cuja função será realizar todas as técnicas anestésicas necessárias para a anestesia e analgesia do paciente e o Enfermeiro de Anestesia que colabora directamente com o Anestesista na realização daquelas técnicas sendo o enfermeiro de referência para o paciente, ou seja, é aquele com quem o doente estabelece uma relação de confiança na véspera da cirurgia, no decorrer da Visita Pré-operatória de Enfermagem. O Cirurgião principal é sobre quem recai a responsabilidade da cirurgia e o 1º Ajudante função de outro cirurgião ou de um Interno da Especialidade. Na equipa de Enfermagem desempenham funções um Enfermeiro Circulante, e um Instrumentista. Estes dois profissionais tem como responsabilidade reunir todo o material necessário para a cirurgia e garantir a sua correcta utilização por forma a que a segurança do paciente não seja colocada em risco. Completando a equipa multidisciplinar temos a Auxiliar de Acção Médica que embora não se encontre em permanência na sala operatória tem sobre aquela a responsabilidade na sua higienização, bem como o transporte e transferência do paciente, no pré e pós-operatório.

8.3 – HOSPITAL PULIDO VALENTE E.P.E.

Para contextualizar melhor o presente estudo, é fundamental conhecer a instituição hospitalar e o serviço, onde aquele terá o seu desenvolvimento.

O serviço em estudo é o Bloco Operatório do Hospital de Pulido Valente E.P.E., hospital pertencente à Unidade Setentrional. A Unidade de Saúde Setentrional A é constituída pelo Hospital de Santa Maria EPE, Hospital Pulido Valente EPE e pelos Centros de Saúde de: Alvalade, Benfica, Loures Lumiar, Odivelas e Pontinha desde 2006.

O hospital Pulido Valente é uma instituição com três áreas de acção principais: a vertente pneumológica, a vertente médica e a vertente cirúrgica.

Com o objectivo de conhecer um pouco o clima organizacional, nada melhor que conhecer a história da instituição.

A Rainha D. Amélia, figura impulsionadora da luta contra a tuberculose, cria a Assistência aos Tuberculosos e propõe a construção de um Hospital para tratamento destes doentes. Com a sua contribuição financeira pessoal e a de pessoas influentes da época – nas quais se destacava o grupo das Senhoras de Caridade - inicia-se a construção do Hospital do Repouso, que será inaugurado já depois da Implantação da República (1910).

Apesar da sua já longa existência, a actividade cirúrgica teve o seu início na década de 60 no século XX.

O Dr. Décio Ferreira realiza as primeiras intervenções cirúrgicas de “coração aberto”, cria um aparelho para circulação extra-corporal e faz, experimentalmente, transplantações cardíacas em cães.

FONTE: In fotos.sapo.pt/pslumiar/pic/00042/fpd

Acompanhando estas transformações, a denominação do Hospital foi sendo alterada passando de Sanatório D. Carlos I, Sanatório Popular de Lisboa, Centro Sanatorial do Lumiar, incluindo os Sanatórios D. Carlos I e Rainha D. Amélia, localizados em edifícios independentes, até em 1975 passar a denominar-se Hospital de Pulido Valente, com o estatuto de Hospital Geral Central.

Embora a Pneumologia continuasse a predominar como especialidade, a Medicina Interna, Gastrenterologia, Cirurgia Geral, Otorrinolaringologia, Cirurgia Torácica, Urologia, Dermatologia, Fisiatria e, mais recentemente, Obesidade Mórbida, Angiologia e Cirurgia Vascular e Oncologia Médica ganharam um peso importante no que se refere ao número de doentes e ocupação de camas.

FONTE: Hospital Pulido Valente E.P.E.

O serviço de bloco operatório já com vários anos e apenas três salas operatórias mudou de instalações há quatro anos para um serviço remodelado para o efeito com 6 salas operatórias. (Ver Anexo V).

FONTE: Hospital Pulido Valente E.P.E. FONTE: Hospital Pulido Valente E.P.E.

O horário de funcionamento para cirurgia programada ocorre entre as 8:00 e as 21:00, para a cirurgia de urgência o horário é de 24h existindo sala própria para o efeito.

O bloco operatório fica localizado no pavilhão D. Carlos, bem como todos os serviços cirúrgicos.

O surgimento de um novo serviço desde há quatro anos, constituiu um marco há muito desejado pelos profissionais a desempenhar funções naquele serviço, uma vez que as suas condições físicas e ambientais, já há muito que se encontravam ultrapassadas, ou até mesmo obsoletas.