• Nenhum resultado encontrado

O stresse ocupacional é um problema perceptível, sendo resultado da incapacidade de lidar com as fontes de pressão laboral. Tem como consequências problemas de saúde física, mental e satisfação no trabalho, afectando o indivíduo e as organizações.

RIBEIRO (2007: 289) refere a definição de ROSS e ALTMAIER de 1994, em que por stresse ocupacional “...entende-se o que resulta da interacção do trabalhador

(com as características que lhe são próprias) com as condições de trabalho, de tal modo que as exigências resultantes desta interacção ultrapassam a capacidade do trabalhador para lidar com a situação”.

O autor refere ainda as classes de stresse psicossocial, de SHWARTZ 1983, no processo de conceitualização do stresse ocupacional, assim identifica:

 Excesso de trabalho ou estagnação no trabalho;

 Ambiguidade extrema ou rigidez relativamente às tarefas a realizar;  Conflito grande ou pequeno entre papeis profissionais;

 Muita responsabilidade ou pouca responsabilidade;

 Impedimento de progresso, competição negativa ou ausência de competição;  Mudanças constantes e variações diárias ou excesso de rotina;

 O contacto continuo com pessoas que são viciadas em trabalho, que fazem da carreira o único projecto de vida ou isolamento social;

 Excessiva identificação com a empresa e dependência emocional dela;  Interacção entre o estádio da carreira e o estilo de gestão;

6.1 – RISCO PROFISSIONAL

constante na realidade dos profissionais recém formados. Condições físicas degradadas, situações bio-psico e sociais difíceis dos doentes, uma realidade dura em contraste com o sonho de salvar vidas, de sucesso e realização profissional. Existem factores organizacionais indutores de stresse sobre os quais nos deveríamos debruçar mais, com o objectivo de resolução na origem. As condições físicas dos serviços hospitalares, a iluminação, o ruído, a temperatura ou a ventilação constituem alguns dos factores de origem física indutores de stresse. As características de tarefa dos profissionais de saúde como o tipo de tarefas desenvolvidas, a sobrecarga de trabalho, o trabalho por turnos, o ritmo de trabalho ou o uso de novas tecnologias, constituem os stressores ligados à tarefa. O profissional de saúde também é alvo de tensões, quando reflecte sobre qual o seu papel na organização. Por vezes os seus objectivos não se encontram na mesma linha dos objectivos organizacionais, existem conflitos de papel ou o papel desempenhado não é o esperado, pelo próprio ou pela organização.

Em sincronia com vários autores, a responsabilidade do papel desempenhado pelos profissionais de saúde, uma vez que tem a seu cargo a vida de outras pessoas emerge como o factor de maior stresse.

Assim é lícito afirmar que o stresse não é por si só um risco, mas sim o seu conjunto de factores indutores. Estes factores indutores são frequentemente manipulados pelas instituições de saúde, promovendo conflitos ou deficiências na comunicação entre os profissionais e assim causando stresse ocupacional, totalmente desnecessário.

Uma instituição hospitalar tem obrigatoriamente que considerar todos os factores stressantes para os profissionais, não esquecendo que indivíduos saudáveis e em equilíbrio são uma força motivadora e progressista, o que resulta em evolução da organização. Para que tal aconteça é fundamental valorizar o stresse ocupacional e criar redes de apoio, para a sua mediação.

6.2 – CULTURA ORGANIZACIONAL

Para mediar as fontes de stresse profissional, é importante que ocorra uma mudança organizacional. FELDMAN citado por PACHECO (2007: 34) refere que

“...a cultura organizacional é uma colecção de meios que se desenvolveram no contexto da organização mas que interagem com os aspectos sociais e culturais”.

É importante que exista um sentido para aquilo que os profissionais fazem, através da existência de normas e uma distribuição de papéis coerente.

De enorme importância é o clima de trabalho, que é o resultado do conjunto de práticas e procedimentos, relações estabelecidas, quer sejam laborais ou afectivas. PACHECO cita MASLACH 2007: 34) descrevendo o clima de trabalho constituído

por “... Dimensões como autonomia, degraus da estrutura, sistema de recompensa e o suporte”.

A existência de coerência entre as dimensões confere ao profissional ferramentas para enfrentar situações stressantes, de forma eficaz.

8.3 - LEGISLAÇÃO

A preocupação com as doenças profissionais surgiu na legislação da maioria dos países, incluindo Portugal, intimamente ligada à dos acidentes de trabalho, quer com a dupla designação, quer na formulação integrada de riscos profissionais. Os acidentes de trabalho e as doenças profissionais são, em regra, considerados como uma eventualidade a proteger no âmbito dos instrumentos normativos internacionais de segurança social, como é o caso da Convenção n.º 102 da Organização Internacional do Trabalho e do Código Europeu de Segurança Social.

As bases legais de cobertura dos riscos profissionais encontram-se definidas pela Lei n.º 2127, de 3 de Agosto de 1965, pelo Decreto n.º 360/71, de 21 de Agosto, que a regulamenta, e por numerosa legislação complementar, que se baseiam no tradicional princípio da responsabilidade patronal, com transferência obrigatória do risco para empresas seguradoras, associadas à entidade empregadora. (Ver Anexo VI).

1 – Todos os trabalhadores têm o direito à prestação de trabalho em condições de segurança, higiene e de protecção da saúde.

2 – Deve assegurar-se que o desenvolvimento económico vise também promover a humanização do trabalho em condições de segurança, higiene e saúde.

3 – A prevenção dos riscos profissionais deve ser desenvolvida segundo princípios, normas e programas.

4 – O desenvolvimento de programas e a aplicação de medidas a que se refere o número anterior devem ser apoiados por uma coordenação dos meios disponíveis, pela avaliação dos resultados quanto à diminuição dos riscos profissionais e dos danos para a saúde dos trabalhadores, e ainda, pela mobilização dos agentes de que depende a sua execução, particularmente os empregadores e os trabalhadores. Indo mais longe existe alguma legislação comunitária pertinente e que se deve ter em conta:

A directiva-quadro (89/391/CEE) diz que “A entidade patronal é obrigada a

assegurar a segurança e a saúde dos trabalhadores em todos os aspectos relacionados com o trabalho.”

As directivas 90/270/CEE e 92/85/CEE vão mais longe ao referirem que existe necessidade de ter em consideração o stresse mental.

O guia de 1996 da Comissão Europeia que faz uma avaliação dos riscos no local de trabalho foca a necessidade de analisar os factores psicológicos, sociais e físicos que contribuem para a incidência de stresse no trabalho, a existência de interacção entre eles e a relação com outros factores organizacionais e de ambiente laboral. Tendo por base a humanização do trabalho em condições de segurança, seria importante a presença da especialidade de Psicologia nos serviços de saúde, pois é fundamental quer para os utentes quer para os profissionais. A sua importância encontra-se relacionada com a necessidade de incidir na prevenção do stresse profissional, colaborando activamente com o serviço de saúde ocupacional da organização. Esta colaboração deve actuar na promoção de ambientes de trabalho saudáveis, desenvolvendo métodos de avaliação de stresse ocupacional. Assim é importante identificar fontes de stresse para os técnicos de diferentes grupos profissionais (médicos, enfermeiros, auxiliares) no sentido de criar programas de prevenção.