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Capítulo 2 – REVISÃO DE LITERATURA

2.3. Articulação entre Contextos Formais e Não Formais de Educação em Ciências

2.2.3. Orientações

Torres (2012) aponta quatro razões e/ou evidências para que visitas a museus e centros de ciência  sejam  integradas  no  currículo.  Primeiro,  estes  espaços  “permitem  que  os  alunos  acedam  a  

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17 recursos e/ou dispositivos sobre temas específicos, aos quais não  conseguem  aceder  na  escola”   (p.  69).  Segundo,  a  escola  “deve  promover  hábitos  de  visita  aos  contextos  de  educação  não  formal   em Ciências”   (p.   69).   Terceiro,   as   experiências   vivenciadas   nestes   espaços   “geram   atitudes   positivas face à Ciência e à sua aprendizagem, fatores preponderantes no sucesso escolar e profissional   e   na   aspiração   a   carreiras   científicas”   (p.   69).   Por   último,   as   exposições   científicas,   frequentemente,   “apresentam   aspetos   históricos   e   culturais   que   favorecem   a   compreensão   da   natureza da Ciência, da Tecnologia e interações  com  a  Sociedade”  (p.  70).  

Allard, Boucher, e Forest (1994) consideram que uma visita a um museu pode motivar os alunos a iniciar um processo de aprendizagem semelhante ao processo de investigação, procurando respostas para uma determinada questão. Este processo assenta em quatro etapas: i) formulação de uma questão; ii) recolha de dados; iii) análise de dados; iv) síntese dos dados.

Na primeira etapa, os alunos centram-se, inicialmente, na observação do objeto ou atividade e, de seguida, formulam questões sobre o mesmo e/ou definem um problema e, sempre que possível, formulam também hipóteses. Esta etapa decorre na sala de aula, em que os alunos formulam questões a que dão resposta através da visita ao museu. Além disso, preparam de que modo irão realizar a recolha de dados. Na segunda etapa, que deverá ter lugar no museu, os alunos recolhem dados para dar resposta às suas questões. Os alunos usarão objetos materiais de modo a recolher os dados que necessitam. Na terceira etapa, os alunos deverão analisar os dados e ser encorajados a responder às suas questões, verificando as suas hipóteses. Na última e quarta etapa, os alunos desenvolvem conclusões, completando assim a sua investigação. Nesta fase, os alunos deverão apresentar aos outros as suas conclusões.

Tendo por base a ideia anteriormente apresentada, Allard e seus colaboradores (1994) desenvolveram um modelo de utilização dos museus com fins educativos, apresentado no quadro seguinte.

Quadro 1 – Modelo de utilização dos museus com fins educativos.

Momento Espaço Fase Processo Foco

Antes Escola Preparação Formulação de questões Interrogação do objeto

Durante Museu Realização Recolha e análise de dados Observação do objeto

Depois Escola Prolongamento Análise e síntese Apropriação do objeto

De acordo com estes autores, o processo de aprendizagem dos alunos envolvidos numa visita a um museu assenta num processo cognitivo (formulação de questões, recolha, análise e síntese de dados) sobre um objeto (interrogação, observação e apropriação) que envolve três etapas ou momentos (antes, durante e depois da visita), e ainda dois espaços (a escola e o museu). A este respeito os autores salientam o facto das etapas não serem estanques, uma vez

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que, por exemplo, a formulação de questões pode ser realizada no momento da visita propriamente dita.

Num programa educativo que os mesmos autores desenvolveram são consideradas atividades de pré-visita, visita e pós-visita. No que diz respeito às atividades que precedem a visita, os autores consideram três categorias. As atividades da primeira categoria dizem respeito aos conhecimentos necessários para que uma visita seja efetiva, enquadrados, por isso, no currículo. As atividades da segunda categoria, que apresentam como propósito articular o currículo com o que é apresentado no museu, focam-se nas questões que os alunos irão formular e que suscitam a necessidade da visita. Estas devem, assim, despertar a curiosidade e interesse dos alunos para a visita. Por último, as atividades da terceira categoria são respeitantes a aspetos organizacionais da visita. Relativamente à visita propriamente dita, estes autores consideram que devem ser considerados vários aspetos. Em primeiro lugar, as atividades que os alunos irão desenvolver no museu devem ser planificadas. Em segundo lugar, os alunos deverão ser incentivados a recolher os dados necessários para dar resposta à questão formulada. Em terceiro lugar, os alunos deverão igualmente ter a oportunidade de explorar os espaços livremente. Quantos às atividades que prosseguem a visita, de modo que a visita seja integrada no seu processo de aprendizagem, os alunos deverão iniciar a análise dos dados.

Tendo em conta a revisão de literatura efetuada (Cuesta, Díaz, Echevarría, Morentin, & Pérez, 2000; Guisasola & Morentin, 2005; Guisasola & Morentin, 2007; Torres, 2012), de modo a articular contextos de educação não formal e formal, importa referir alguns aspetos que devem ser considerados, de modo a que a visita a um centro de Ciência seja efetiva. Nesse sentido, é referido que a atuação do professor deve desenrolar-se   em   cinco   fases:   i)   “Fase   1   – Estabelecimento  dos  objetivos  da  visita”  ;;  ii)  “Fase  2  – Seleção, análise e visita prévia ao Centro de   Ciência”;;   iii)   “Fase 3 – Preparação da visita – atividades   antes   da   visita;;   iv)   “Fase   4   – Realização da visita – atividades  durante  a  visita”;;  v)  “Fase  5   – atividades  após  a  visita”  (Torres,   2012, p. 76).

Assim, em primeiro lugar, é necessário que a visita seja planificada em termos das aprendizagens esperadas (Guisasola & Morentin, 2005), tendo em conta a idade e o número dos alunos e, ainda, os conteúdos curriculares (Torres, 2012).

Em segundo lugar, é referida a importância das atividades a serem realizadas previamente à visita, de modo a compreender melhor as ideias prévias dos alunos e, deste modo, favorecer as aprendizagens dos alunos (Cuesta et al., 2000).

Por outro lado, tal como mencionado anteriormente, é importante que os professores integrem a visita na planificação das suas aulas e, como tal, devem assegurar que os conceitos que irão ser trabalhados durante a visita sejam familiares para os alunos (Guisasola & Morentin, 2007). Nesse sentido, é necessário que os professores tenham ao seu dispor recursos didáticos que facilitem a visita e orientem as aprendizagens dos alunos. A este respeito, é referido que um dos objetivos principais das atividades a serem desenvolvidas previamente é motivar os alunos

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19 tendo por base questões problemáticas que sejam relevantes para os alunos, estejam relacionadas com o programa de Ciências e possam ser respondidas através da experimentação dos módulos dos museus ou centros de ciência (Guisasola & Morentin, 2005).

Por último, é sugerida a importância do papel do professor na gestão dos tempos e dos espaços durante a realização da visita (Guisasola & Morentin, 2005). A este respeito, segundo os mesmos autores, investigações sobre visitas de estudo sugerem que os alunos se distraem a partir de uma hora de atividade em salas de museu e recomendam que estes não estejam mais de uma hora em interação com os diferentes módulos. Nesse sentido, é importante, numa fase inicial, dar tempo aos alunos para que estes se familiarizem com o espaço e só depois dar início à realização das atividades. Cuesta e seus colaboradores (2000) distinguem dois tipos de visita: a visita guiada e a visita por descoberta. A visita guiada é efetuada com o auxilio de um monitor do museu ou do próprio professor, enquanto que na visita por descoberta, os visitantes circulam livremente pelas salas, individualmente ou em grupo, sendo esta mais frequente nos museus e centros de ciência.

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