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CAPÍTULO 4 AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS COMO CATEGORIA DE ANÁLISE

4.1 A origem do conceito

Embora o conceito de representações sociais não seja novo na sociologia, foi Serge Moscovici que desenvolveu a Teoria das Representações Sociais, a partir do conceito de representações coletivas de Émile Durkheim. “Foi Durkheim o primeiro a propor a expressão ‘representação coletiva’” (MOSCOVICI, 1978, p. 25).

No entanto, as representações sociais, de acordo com Moscovici (1978), vão além da idéia restrita da visão sociológica da representação coletiva.

O conceito de representação social tem origem na Sociologia e na Antropologia, através de Durkheim e Lévi-Bruhl. Também contribuíram para a criação da teoria das representações sociais, a teoria da linguagem de Saussure, a teoria das representações infantis de Piaget e a teoria do desenvolvimento cultural de Vygotsky.

Mesmo sendo um conceito oriundo da sociologia, é na psicologia social que a teoria é desenvolvida por Moscovici, sendo aprofundada por Denise Jodelet, entre outros.

A psicologia social vem recuperando a lacuna do social desde a década de 1960, uma vez que a psicologia, definida como ciência do comportamento, estudava o indivíduo fora do contexto sócio-histórico-cultural.

As proposições da teoria das representações sociais foram sistematizadas por Moscovici em 1961, em sua obra original La psycanalise son image et son public, traduzido em 1978 com o título A representação social da psicanálise. Esta obra deu início a algumas discussões acerca de como o homem constrói a realidade e como o conhecimento científico é transformado pelo homem.

A psicologia social estuda as representações sociais na sua área de estudo, tendo como foco principal a relação indivíduo-sociedade. Ela reflete sobre como os grupos e os indivíduos constroem seus conhecimentos a partir do convívio social e como interage sujeito- sociedade/sociedade-sujeito para construir a realidade. Para Moscovici (1978), os indivíduos têm a necessidade de explicar a realidade, por isso criam representações sociais, que são, ao mesmo tempo, construídas e adquiridas.

Moscovici (1978) partiu da premissa que nem a sociologia nem a psicologia eram capazes de explicar os fenômenos coletivos humanos, uma vez que a primeira buscou explicar os fenômenos numa perspectiva apenas coletiva e a segunda apenas individual. Portanto, a teoria das representações sociais, formulada por Moscovici, na psicologia social, tem como principal objetivo, “[...] incluir no seu campo de estudo, a par dos comportamentos que os indivíduos e os grupos possuem e utilizam a respeito da sociedade, dos outros, do mundo, e

também a organização específica desse conhecimento” (1978, p. 81). Os saberes do cotidiano vão sendo construídos nas relações entre os indivíduos que elaboram representações, as quais passam a influenciar os comportamentos e as relações sociais.

Para explicitar de forma mais clara a teoria das representações sociais, Moscovici faz uma longa trajetória em suas obras para melhor compreendermos o conceito, tendo em vista que a realidade das representações sociais é embasada em uma série de conceitos sociológicos e psicológicos que perpassam toda a sua construção. Moscovici (1978) vai sistematizando o conceito de representações sociais sob diferentes prismas. As representações sociais são definidas por Moscovici (1978) como formas de conhecimento prático, sendo consideradas como uma teoria do senso comum que reúne uma sucessão de opiniões, explicações e afirmações produzidas a partir do cotidiano e que se elaboram coletivamente nas interações sociais, sujeito-sujeito e sujeito instituição, num determinado tempo e cultura. Ainda segundo o autor, as representações sociais constituem-se num instrumento para análise dos aspectos sociais, e são uma forma de compreender a relação cotidiano/sociedade e de valorização da participação do indivíduo na reelaboração de significados para os fenômenos da vida cotidiana.

Nesse processo de interação social, o sujeito, ao se socializar, vai elaborando e ressignificando os conhecimentos que estão presentes na sociedade. Moscovici afirma: “[...] toda representação é de alguém tanto quanto de alguma coisa” (1978, p. 27). Nessa ótica, como diz Moscovici (2001), quando representamos alguma coisa ou algum conhecimento, não significa que estamos produzindo apenas nossas próprias idéias e imagens, mas estamos criando e transmitindo um produto elaborado progressivamente em diferentes lugares, segundo regras variadas.

Moscovici (1978) atribui três dimensões às representações sociais: a) informação, b) campo de representação ou imagem, c) atitude. A informação constitui a sistematização que um grupo tem de um dado conhecimento sobre um objeto social; o campo de representação ou imagem; como o próprio Moscovici diz, “[...] remete-nos à idéia de modelo social, ao conteúdo concreto e limitado das proposições atinentes a um aspecto preciso do objeto da representação” (1978, p. 69) e “a atitude logra destacar a orientação global em relação ao objeto da representação social” (1978, p. 70).

Na teoria das representações sociais, o processo de comunicação entre indivíduos e grupos é construído e elaborado a partir de significados que – em forma icônica, simbólica, imaginativa – dão sentido às interações, possibilitando a atuação do sujeito no mundo material

As representações sociais são elaboradas principalmente a partir da intercomunicação de dois níveis de pensamento: os universos consensuais e os reificados. O universo consensual é considerado como de domínio tanto do indivíduo como do coletivo, e caracteriza-se na vida cotidiana, produzido pela própria interação social. Já no universo reificado a realidade é retratada independente da consciência do indivíduo, sendo definido no espaço científico. O autor mostra como o saber científico (universo reificado) transforma-se em senso comum, sendo incorporado ao universo consensual (MOSCOVICI, 1978).

Para Moscovici “se a representação social é uma ‘preparação para ação’, ela não o é somente na medida em que guia o comportamento, mas, sobretudo na medida em que remodela e reconstitui os elementos do meio ambiente em que o comportamento deve ter lugar” (1978, p. 49). Daí porque três etapas caracterizam essa teoria: o pensar, o sentir e o atuar.