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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.4 A Teoria das Representações Sociais, os Tipos e as Funções

2.4.1 Origem e Conceito

De acordo com Aroldo Rodrigues et al., no livro “Psicologia Social”, em 1924, foi

publicado o primeiro manual de Psicologia Social pelo Americano Floyd H. Allport, contendo experimentos relativos a fenômenos psicossociais, possuindo uma orientação nitidamente psicológica (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2009).

A Psicologia Social é considerada como uma área de aplicação da Psicologia para estabelecer uma ponte entre a Psicologia e as Ciências Sociais (Sociologia, Antropologia), tendo como objeto de estudo o comportamento dos indivíduos na interação social.

Segundo Lane (2006):

O enfoque da Psicologia Social é estudar o comportamento de indivíduos no que ele é influenciado socialmente. E isto acontece desde o momento em que nascemos, ou mesmo antes do nascimento, enquanto condições históricas que deram origem a uma família, a qual convive com certas pessoas, que sobrevivem trabalhando em determinadas atividades, as quais já influenciam na maneira de encarar e cuidar da gravidez e no que significa ter um filho. Esta influência histórica-social se faz sentir, primordialmente, pela aquisição da linguagem. As palavras, através dos significados atribuídos por um grupo social, por uma cultura, determinam uma visão de mundo, um sistema de valores e, consequentemente, ações, sentimentos e emoções decorrentes (LANE, 2006, p. 2).

Esta área busca compreender a relação entre o indivíduo e a sociedade. É considerada uma grande área de conhecimento da Psicologia, que tem como objetivo o estudo dos

fenômenos sociais, aqui entendida na sua dimensão subjetiva, ou seja, a “[...] compreensão dos

fenômenos sociais a partir da análise da subjetividade que vai sendo construída ou modificada no decorrer da atuação e inserção social dos sujeitos e, ao mesmo tempo, vai constituindo os

fenômenos” (BOCK et. al.,2003, p.41).

Seguindo este pensamento, de acordo com Ferreira, “[...] o binômio indivíduo-

sociedade, isto é, o estudo das relações que os indivíduos mantêm entre si e com a sua sociedade

ou cultura, […] com o pêndulo oscilando ora para um lado, ora para o outro” (FERREIRA,

Na literatura, aparecem três abordagens da Psicologia Social ao longo de sua evolução histórica, conhecidas mundialmente, sendo elas: a Psicologia Social Psicológica, Psicologia

Social Sociológica e Psicologia Social Crítica6.

Na América do Norte, mais especificamente nos Estados Unidos, do século XIX até 1920, adotou-se a Psicologia Social Psicológica, com ênfase para estudos intraindividuais, destacando-se por uma abordagem individualista, em que os sujeitos passam por processos nos quais respondem a estímulos sociais.

Vários estudiosos se dedicaram a essas temáticas, como Fritz Heider (1896-1988) que desenvolveu a teoria da atribuição, descrevendo as maneiras pelas quais as pessoas explicam o comportamento de outras ou delas mesmas com fatores externos. O psicólogo Solomon Asch (1907-1996) estudou a influência de condições sociais na formação e modificação de juízos e opiniões, em que a influência social ocorre quando as ações de uma pessoa resultam na ação de outra, ou seja, o indivíduo passa por um conflito cognitivo que se origina das informações adquiridas por ele e por aquelas transmitidas pelo ambiente social em que vive. (GOMES,

2004). Leon Festinger (1919-1989) elaborou a teoria da dissonância cognitiva, em que o “[...]

organismo humano tenta estabelecer harmonia interna, consistência ou congruência entre suas

opiniões, atitudes, conhecimento e valores [...]” (SAHAKIAN, 1980, p. 319).

Após grandes questionamentos referentes aos conceitos e metodologia, questionava- se a relevância e a capacidade de generalização, então a cognição social passa a ser o estudo principal da Psicologia Social na América do Norte. Assim, destaca-se entre os temas principais da Psicologia Social, a cognição social, atitudes, processos grupais ou a neurociência social.

Na Europa e nos primórdios da Psicologia Social, o estudo centrou-se na abordagem Psicológica, porém, na década de 70, os estudos se voltaram para a Psicologia Social Sociológica, com ênfase nas relações intergrupais, nas coletividades e na estrutura social. Os principais temas abordados foram as relações de identidade social e as Representações Sociais. Com o passar do tempo, essa abordagem difundiu-se e atualmente é bastante utilizada e aplicada, reconhecida como válida no contexto Europeu.

Na América Latina, inicialmente, a ênfase da Psicologia Social voltava-se para o indivíduo, numa abordagem Psicológica; na década de 70, adotou uma abordagem diferente devido ao contexto social vivido nestes países, de conflitos e desigualdades sociais, de

6 Não se trata de três disciplinas distintas, e sim de três abordagens relacionadas à mesma disciplina utilizadas

problemas sociais, políticos e regimes militares, dando origem à Psicologia Social Crítica com o surgimento de respeitáveis nomes como Martin-Baró, que exigiam uma nova visão e

comprometimento com a realidade social, em que a tarefa do psicólogo Social é contribuir “[...]

para a construção de identidades pessoais, coletivas e históricas […] levar à mudança

social” (FERREIRA, 2010, p. 58).

No Brasil, assim como na América Latina, a abordagem da Psicologia Social voltou- se à corrente Norte-Americana e, no final da década de 70, psicólogos sociais romperam com essa corrente e adotaram a Psicologia Social Crítica, utilizando os mais variados temas voltados aos problemas sociais, como a violência doméstica, pobreza, crianças de rua, desigualdade e exclusão educacional. Tal abordagem considera o ser humano como um ser histórico e social, em que, indivíduo e sociedade, se influenciam mutuamente.

Portanto, diante do exposto, se verifica que a teoria das representações foi um dos temas principais abordados, na Europa, pela Psicologia Social, inaugurando uma vertente

psicossociológica, “[...] que condena a tradição americana por se ocupar dos processos

individuais, vistos a partir da influência de um “social” difuso e vago, constituído pela presença real, imaginária ou implícita de outros indivíduos” (ALLPORT apud BOCK, et. al., 2003, p.72).

Moscovici (2012) resgatou o conceito de representação coletiva elaborada pelo

sociólogo Émile Durkheim. Este sociólogo dizia que “[...] os fenômenos coletivos não poderiam

ser explicados em termos de indivíduo, pois ele não pode inventar uma língua ou uma religião.

Esses fenômenos são produto de uma comunidade, ou de um povo” (GOMES, 2004, p. 123),

enquanto que as Representações Sociais estão na interface do psicológico e do social. Segundo Jodelet:

[...] as Representações Sociais devem ser estudadas articulando-se elementos afetivos, mentais e sociais e integrando – ao lado da cognição, da linguagem e da comunicação – a consideração das relações sociais que afetam as Representações Sociais e a realidade material, social e ideativa sobre a qual elas têm de intervir (JODELET, 2001, p. 26).

A Teoria das Representações Sociais é considerada um campo de estudo da Psicologia Social. Ela foi criada pelo romeno Serge Moscovici, que se naturalizou francês, utilizando-a

pela primeira vez, em 1961, na defesa de sua tese cujo trabalho intitulado “Psicanálise, sua

imagem e seu público”, publicado na França. Ele realizou um estudo sobre a representação

Seu objetivo foi analisar a relação entre os conhecimentos produzidos pela Psicanálise enquanto ciência e a maneira como ela era apreendida por várias camadas da população. Também enfatizou as diferenças entre os modelos científicos e os não científicos envolvendo a psicanálise, relacionando as Representações Sociais ao saber elaborado pelo senso comum,

referindo-se à “[...] formação de um outro tipo de conhecimento adaptado a outras necessidades,

obedecendo a outros critérios, num contexto social específico” (MOSCOVICI, 2012, p.25).

A representação social situa-se na intersecção entre o individual e o social tentando introduzir uma articulação entre a experiência individual e os modelos sociais e resultando num modo particular de apreensão do real. Moscovici (2012) faz uma articulação entre o individual e o social, enfatizando a necessidade de se fazer da representação uma ponte entre esses dois mundos. Por meio dessa conexão entre o individual e o social é que ocorre uma interligação de dois universos de pensamento que Moscovici (2011) introduz, sendo estes: o universo

consensual e o universo reificado, que serão esclarecidos no próximo tópico.