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Origem dos jardins botânicos

A grande dificuldade ou quase impossibilidade de se formular um conceito universalmente satisfatório de jardim botânico torna igualmente complicada a tarefa de localizar o ponto exato de seu surgimento, muito embora historiadores de Botânica atestem como mais prováveis o ano de 1545 e as cidades de Pádua ou Pisa. Assim, “a origem dos jardins e da botânica na Europa perde-se no tempo histórico, sendo possível traçar algumas linhas essenciais dos seus inícios a partir da Idade Média” (CASTEL-BRANCO; CASTRO REGO, 1999, p. 91-92).

De fato, a partir de 1545, tem-se algumas tendências reconhecidas na evolução dos jardins medievais europeus que, em sua conformação

“eram subdivididos em sectores em que as espécies eram classificadas de modo compreensível e culturalmente aceitável, e que incluíam, em geral, um jardim de plantas de interesse culinário ou medieval, uma área dedicada a árvores e um pomar (hortarium, viridarium, pomarum) (CASTEL-BRANCO; CASTRO REGO, 1999, p. 91).

Para os autores, os jardins medievais, geralmente associados a ordens religiosas, “eram considerados lugares sagrados, misteriosos e privados, frequentemente limitados por muros altos (hortus conclusus) que os retiravam do contexto agrário e os reservavam para os escolhidos, criando-lhes a ilusão de habitarem um precioso microcosmo” (CASTEL- BRANCO; CASTRO REGO, 1999, p. 91). Assim,

[...] os jardins botânicos antigos são invariavelmente locais de grande beleza, constituindo um refúgio aprazível ao ruído e tensão da cidade. Oferecem frescura, calma, prazer e satisfação – a rison d’être de qualquer jardim – seja qual for a sua origem e objetivo.

Para além de constituírem uma fonte de prazer sensorial e um local de recreio, estes pequenos redutos de tranquilidade encerram valores mais abrangentes e significados mais profundos, acessíveis a qualquer pessoa que se disponha a observá-los (SALES, 1999, p. 9).

FIGURA 12 – Jardim Botânico do Rio de Janeiro – Criado no Século XIX Fonte: BLOG CHECK-IN, 2012.24

“A força intrínseca do jardim botânico não deixa margem para dúvidas quanto à obrigação de defender a história que encerra”, e de trazer ao público o seu desenvolvimento que, visto à luz do século XXI, encontra-se entrelaçado à educação e à ecologia, “consequência e forma moderna dessa mesma expressão da curiosidade científica e da celebração da natureza” (SOARES et al., 1999, p. 171).

1.3.1 O Horto Botânico de Pádua

Os jardins botânicos representaram um marco significativo no estudo das plantas, por possibilitar, entre outras conquistas, o fácil acesso ao campo experimental. Foi o que ocorreu em Pádua, com a criação do primeiro horto botânico ligado a uma universidade, de que se tem notícia no mundo. Assim,

Quando em 29 de julho de 1545, o Senado da Sereníssima República de São Marcos decretou o estabelecimento do primeiro jardim da Europa, esclareceu que o seu objectivo era o de criar um jardim didáctico para os professores e estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade (de Pádua) poderem estudar o “simples” (as plantas medicinais) nas suas conformações naturais. Aos “simples” juntavam-se os “compostos”, ou drogas, prescritas geralmente em forma de pós ou unguentos (pomadas) (CASTEL-BRANCO; CASTRO REGO, 1999, p. 91).

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A criação do horto botânico ocorreu a pedido do professor Francesco Bonafede, visando dotar de garantias a fabricação de medicamentos, haja vista imperar uma forte insegurança causada pela falta de identificação das plantas utilizadas em processos terapêuticos desde a Antiguidade, pois baseada em acertos e erros, o que, naturalmente, causava graves danos à saúde pública. Tanto que, “no decreto constitutivo do jardim referia-se que os doutores de medicina sabiam dos ‘infinitos erros e fraudes que se cometiam’ na utilização das plantas medicinais e da necessidade de produção regular dessas plantas medicinais” (CASTEL-BRANCO; CASTRO REGO, 1999, p. 93).

FIGURA 13 – Padua – Criado em 1545 para o cultivo de plantas medicinais era utilizado para as aulas práticas de Botânica em auxílio do curso de Medicina.

Fonte: PADOVA MEDIEVALE, 2011.25

Abrigando inicialmente cerca de 1.800 plantas, e desenhado com a elegância da arquitetura vitruviana – um quadrado inscrito num círculo –, “o Horto Botânico de Pádua desenvolveu-se muito rapidamente tendo já, em 1591, mil cento e sessenta e oito espécie de plantas, bem organizadas e classificadas” (CASTEL-BRANCO; CASTRO REGO, 1999, p. 93).

FIGURA 14 – QA020 – Planta Dell Horto Di I Semplici di Padua. Fonte: FLICKR, 2011.26

Pela elegância de seu design, conclui-se que o horto botânico não foi pensado apenas como um espaço para cultivo, aclimatação e apresentação das plantas aos estudiosos. Como ornamentos, posteriormente à sua inauguração, foram acrescidas algumas estátuas em mármore, em homenagem a Carl von Linné e outros naturalistas, em especial, aos diretores do próprio orto. Todavia, nota-se seu objetivo científico em cada canteiro, pela classificação das plantas medicinais, pois com os seus nomes e propriedades assinalados nas placas de identificação.

Importante registrar que nas sua proximidades, anos depois, foi erguido um prédio para o desenvolvimento das pesquisas em botânica e para abrigar a biblioteca da Universidade de Pádua. Construiu-se também um museu com biblioteca própria, que conservam numerosas coleções e constituem um dos centros de documentação botânica mais importantes da Itália, inclusive, do ponto de vista histórico.

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FIGURA 15 – Horto Di I Semplici di Padua, tendo ao fundo, as torres do Santuário de Santo Antônio. Fonte: UNIVERSITÁ DEGLI STUDI DI PADOVA, 201127.

Segundo Tamino (1999), ainda gerido pela Universidade de Pádua, o primeiro Horto Botânico do mundo enfrenta situação difícil, por encontrar-se cercado de edifícios em construção que obstruíram o lençol freático indispensável à manutenção das numerosas, raras e antigas plantas que abriga. Para salvá-lo da betonização invasora, concebeu-se um projeto de restauração que previa a aquisição das áreas circundantes, a demolição dos edifícios em construção, a constituição de uma faixa de proteção e a junção do seu terreno aos das Basílicas de Sant’Antonio e Santa Giustina. Todavia, esse projeto necessitava de recursos financeiros avaliados em 30 milhões de liras que, até então, as entidades públicas italianas responsáveis por sua implementação – Universidade de Pádua, Município de Pádua, Região do Veneto e Governo italiano – não haviam conseguido reunir.

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