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No Brasil, o início da utilização do GLP ocorreu em 1937, e remonta o acidente com o dirigível Hinderburg nos EUA, quando foram suspensas as viagens do Graff Zeppelin, aeronave que fazia a rota para o Brasil e América do Sul. Após tal ocorrência, Ernesto Igel comprou os 6 mil cilindros de gás propano, que serviam como combustível para os dirigíveis, e inicia a comercialização do gás para cocção, através da Empreza Brazileira de Gaz a Domicilio Ltda., futura Ultragaz (SINDIGAS, 1991).

Historiando os primórdios de utilização do GLP no Brasil, Morais (2005, p. 40) explicita que,

Na época, a maioria da população utilizava fogões a lenha e, em menor escala, usava-se álcool e querosene. Em São Paulo, Rio de Janeiro e em outras pequenas cidades havia também redes de gás canalizado que forneciam gás obtido a partir de carvão mineral.

Igel inicia sua experiência com o propano em Petrópolis cidade serrana próxima à então capital federal, Rio de Janeiro. Com o sucesso da utilização dos cilindros de propano, a empresa criada por Igel começa a distribuir o gás na capital do país.

Para estimular a utilização do novo combustível Igel utilizava campanhas publicitárias e promoções, além de comercializar fogões adaptados ao GLP, uma vez que os fogões vendidos até então eram adaptados à lenha ou gás canalizado.

A estagnação ou a inexistência das redes do gás canalizado nas grandes cidades brasileiras e as facilidades criadas para as instalações de GLP concorreram para o alcance de um enorme e rápido crescimento no consumo de GLP (OLIVEIRA, 2002).

Afinal de contas, o gás canalizado demandava todo um investimento em infra- estrutura de tubulações que o GLP não requeria, na medida em que o consumo do mesmo ocorria através dos recipientes metálicos entregues em domicílio pelo responsável pela comercialização.

Inicialmente, o comércio do GLP encontrou uma população de 36 milhões de habitantes em somente duas capitais: Rio de Janeiro e São Paulo. Uma parcela de

tais metrópoles era abastecida por gás encanado. A rede de gás de rua era, proporcionalmente, extensa, mas se mantinha dentro do perímetro urbano, que correspondia às zonas centrais e aos bairros mais próximos. A população residente na periferia e nos novos bairros usava lenha para cozinhar (OLIVEIRA, 2002).

Assim, afora um limitado número de consumidores abastecidos pelo gás encanado, ainda existia um extenso universo no qual o uso do GLP poderia se desenvolver com mais facilidade.

Em 1938, foi criado o Conselho Nacional de Petróleo (CNP), que foi instituído para supervisionar o abastecimento nacional de petróleo e seus derivados no Brasil (ULTRAGAZ, 2005).

E é também a partir de 1938 que o uso do GLP para cozinhar iria se difundir. Nesta época, mais de 2/3 da população vivia na zona rural, cozinhando em fogões à lenha, enquanto que na zona urbana se utilizava, como combustível, o querosene e o carvão vegetal (SINDIGAS, 1991).

Durante os anos da guerra, o comércio se tornou problemático. Tudo dependeu da importação do gás, dos fogões, dos aquecedores, bem como dos outros equipamentos ainda não fabricados pela indústria nacional. Apesar das dificuldades, o fornecimento foi assegurado aos consumidores da época. Finda a guerra, a situação melhorou substancialmente. Em 1946, fundou-se, no Rio, a Esso-Gás, subsidiária da Standard Oil. A entrada da nova companhia no ramo demonstrou que o mercado se expandiu rapidamente. Em 1949, a Ultragaz associou-se à Socony Vacuum, visando ao aproveitamento de navios de guerra para transporte de GLP a granel. Até então, o gás importado pelo Brasil veio em vasilhames empilhados sobre o convés, o que tornou pouco econômica a operação. Em conseqüência desse acordo, são construídos os primeiros terminais de gás no país: no Rio de Janeiro e em Santos, com capacidade de armazenagem de 440 toneladas cada um. O consumo nacional, nesta altura, ultrapassava a casa de 100 mil toneladas anuais, contra apenas 30 toneladas em 38. (OLIVEIRA, 2002, p. 62)

Assim, a Ultragaz manteve-se monopolista da distribuição do GLP no Brasil até 1946, quando passou a ter a multinacional Gás-Esso como única concorrente. Em 1951, surgiu a Norte Gás Butano, atual Nacional Gás Butano, que iniciou sua atuação nos Estados do Piauí, Maranhão e Pará. Ainda nesta década, chegaram ao

Brasil as italianas Liquigás, Heliogás e Pibigás. Importante ressaltar que a Petrobrás começou a produzir GLP na década de 50 (SINDIGAS, 1991).

Tais fatos demonstram que o consumo do GLP era cada vez mais crescente, o que permitia a expansão do mercado e o ingresso de novas empresas distribuidoras.

O consumo não parou de crescer depois que se estabeleceu o fornecimento regular do gás. O GLP passou a ser utilizado, não só para abastecer os fogões, mas também como combustível para aquecedores de água, em escolas, hospitais, hotéis e clubes. Passou a ser utilizado na produção de plásticos, sendo aplicado no aquecimento controlado das máquinas de injeção, no setor industrial. Em seguida, iniciou-se a sua utilização na indústria têxtil e na indústria vidreira (OLIVEIRA, 2002).

Com mais de cinqüenta anos de existência, o botijão de gás de cozinha representou, sociologicamente, em determinados momentos da organização familiar, um importante elemento modificador de procedimentos e costumes, trazendo uma melhoria do próprio status social.

A passagem do uso do carvão, do querosene, da lenha, com todos os seus conhecidos inconvenientes, para o botijão de gás, revolucionou os hábitos e influenciou na melhoria do padrão de vida do brasileiro.

Combustível versátil, limpo, de alto poder calorífico e, acima de tudo, muito barato, uma vez superada a fase da segurança de continuidade do abastecimento, o seu consumo se desenvolveu de maneira geométrica (OLIVEIRA, 2002, p. 64).

Segundo Morais (2005, p. 39), “o GLP está presente na totalidade dos municípios brasileiros e essa impressionante abrangência foi alcançada em menos de 70 anos desde a chegada do GLP no Brasil”.