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Não há exatamente, na doutrina pátria, um consenso na delimitação específica da origem do sigilo bancário na história da humanidade. Isso não ocorre, contudo, por alguma divergência insuperável ou por se tratar de uma questão a ser resolvida a partir deste ou da- quele pressuposto, mas especialmente porque localizar historicamente o momento de nasci- mento do conceito de sigilo bancário e de sua positivação enquanto direito é tarefa ainda não cientificamente exata.

Por esse motivo, muitos autores preferem fixar um termo de origem do sigilo ban- cário no próprio início da atividade bancária, ou optam pelo uso de expressões indetermina- das, o que bem evidencia a dificuldade (ou mesmo impossibilidade) de se determinar, na esca- la da história, um momento específico de surgimento do sigilo bancário.

Não se sabe, assim, com absoluta segurança quando surgiu a prática do sigilo ban- cário, mas se pode afirmar que o momento que marca o início de seu uso é a Antiguidade, quando se iniciaram remotas e primitivas operações com depósitos de coisas móveis, firman- do a base da prática do sigilo bancário na tradição (MAIA FILHO, 2002, p. 25).

Em razão dessa imprecisão temporal, a disquição histórica do instituto torna-se impossível, remanescendo o critério lógico ou dogmático como meio principal a ser utilizado na investigação de sua origem. Assim, pode-se acertar que o sigilo bancário surge com o nas- cimento da atividade bancária, fixando-se a ela em razão de seu inerente caráter de discrição, não se separando, assim, salvo em hipóteses excepcionais previstas em lei, a fim de se res- guardar o bem comum e a ordem pública (ABRÃO, 2005, p. 61).

Quando se discute a respeito do sigilo bancário enquanto instituto codificado, con- tudo, torna-se mais viável fixar um tempo histórico. De fato, foi o Código babilônico de Ha- murabi que primeiro trouxe – ainda que não explicitamente e fruto de uma interpretação a contrario sensu – o sigilo bancário. Nelson Abrão (2005, p. 62) traz, em sua obra intitulada “Direito Bancário”, boa condução histórica a respeito:

As operações bancárias precederam a existência da moeda, desenvolvendo-se, então, in natura. A mais antiga referência ao sigilo bancário é encontrada no vetusto Códi- go de Hamurabi, rei da Babilônia, o qual mencionava a possibilidade que tinha o banqueiro de desvendar seus arquivos em caso de conflito com o cliente. A contrario sensu, interpreta-se que, fora daí, o banco estava adstrito à obrigação do segredo. Constitui consenso que a atividade bancária, como profissão especializada, surgiu na Grécia. Mas, ainda assim, não inteiramente desligada dos umbrais dos templos, seus berços: os de Delfos, Samos e Éfeso foram os principais. Os banqueiros, além de propiciarem guarda segura aos valores de seus clientes, redigiam instrumentos nego- ciais e orientavam a respeito de negócios, graças aos conhecimentos que tinham dos textos legais.

A moeda teria surgido aos 268 a. C., segundo Tito Lívio, cunhada que fora no tem- plo de Juno, a Conselheira (Moneta). O banqueiro romano – argentarius – deveria possuir um livro secreto de “dever e haver”, o Codex, conservado em segredo e só exibível na Justiça em caso de litígio com o próprio cliente.

Bem aponta, assim, o autor, os principais eventos na evolução do instituto do di- reito bancário, ainda explicando que, na origem da atividade bancária, esta era considerada como emanada da autoridade divina, exercida por meio dos sacerdotes, o que explica o fato de, nos tempos antigos, estar a atividade bancária bastante ligada aos templos.

Com a doutrina de Napoleão Nunes Maia Filho (2002, p. 28-33), alguns aponta- mentos a mais são possíveis:

Referindo-se ao período grego, pode-se dizer que a razão do costume de confiança de valores aos religiosos derivava-se, primeiramente das condições de segurança física dos estabelecimentos religiosos e, também, do fato dos clérigos de todas as religiões serem mais propensos à guarda de segredos. A proteção à privacidade na cultura grega era, assim, um traço do respeito religioso concedido à pessoa humana, o que pode ser extraído mesmo do famoso Juramento de Hipócrates2.

Em Roma, destacava-se o sistema jurídico que preservava como coisa sagrada (res sacra) o segredo de informações obtidas em razão do exercício de profissão, especial- mente a do advogado. Na Idade Média, a importância do sigilo bancário teve bastante in- fluência com a proibição da usura pela Igreja Católica. Na Alta Idade Média, a atividade dos cambistas ou banqueiros nas feiras, de guarda de valores e de troca de mercadorias, teve apoio com a expansão europeia terrestre, onde nasceu a necessidade de formação de grêmios de banqueiros a fim de melhor guardar os valores e de garantir a segurança dos empreendimentos bancários. Nesses grêmios está a origem dos bancos modernos; em seus estatutos, a primitiva forma escrita de sigilo bancário.

2 Vale o destaque ao trecho do Juramento que guarda estreita relação com a manutenção do sigilo: “Aquilo que

no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto”.

Por fim, já nos tempos modernos, foi com o desenvolvimento das atividades hu- manas e sociais, concomitante ao surgimento das grandes companhias de navegação, os gran- des descobrimentos e o aparecimento do Estado Moderno e da burguesia, que houve a expan- são dos créditos e depósitos de valores mobiliários, o que culminou com um grande desenvol- vimento da atividade bancária. Assim, nasceu uma necessidade de maior disciplina das ativi- dades dos banqueiros, o que deu destaque à proteção da discrição quanto aos negócios reali- zados entre bancos e clientes, estes inclusive príncipes ou estadistas.