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Parte I – OS MUSEUS COMO ESPAÇOS SOCIAIS

4. A comunidade estudada

4.3. Os alunos – adolescentes enquanto públicos no museu

4.3.2. Os alunos

Analisando o PIE (Projecto de Intervenção na Escola176) conclui-se que a ESAG é frequentada por 1192 alunos (7º ano – 116; 8º ano – 136; 9ºano – 146; CEF nível II – 16; 10º ano – 302; 11º ano – 214; 12º ano – 193; Cursos Profissionais - 69) no regime diurno e 181 alunos no regime nocturno (Ensino Recorrente – 139; EFA nível II – 17; EFA nível III - 25). 69 alunos frequentam cursos profissionais, divididos por 3 turmas. 58 alunos frequentam cursos de Educação e Formação. A população escolar total da ESAG é de 1373 alunos, sendo que 145 são formandos em processo de RVCC (Reconhecimento, Validação, Certificação de Competências).

No Ensino Básico verificam-se taxas de sucesso escolar próximo dos 90% e no Ensino Secundário diurno, nos cursos Científico-Humanísticos verificam-se taxas de sucesso escolar médias de 85%, no 10º ano, 95%, no 11º ano e de 65% no 12º ano. Relativamente ao insucesso escolar, constata-se um elevado insucesso no Ensino Básico, nas disciplinas de Português e Matemática, de 30% e também um elevado insucesso no Ensino Secundário, às disciplinas de Geometria Descritiva, Matemática, Física e Química e História e Cultura das Artes.

Os alunos seleccionados para colaborar, neste estudo, foram alunos adolescentes, do 12.º ano, com 18 anos de idade. A entrevista ocorreu em simultâneo na escola aos três alunos, duas alunas de artes, e um de ciências. Os três vão concorrer ao ensino superior, por coincidência à UPorto, nomeadamente Faculdade de Arquitectura, Faculdade de Belas Artes (Artes Plásticas) e Faculdade de Ciências (Bioquímica).

175 Decoração com cactos. 176

Os três assumiram que visitam museus, mas enquanto as alunas referiram Serralves177 como o museu que mais visitam, R. teve outra opinião:

(…) Algo que tenha mais a ver com tecnologia, mais da parte das ciências. Nunca fui ao Museu de Serralves, por ex. Acho os museus de História horrivelmente aborrecidos. (…)178

Apesar de afirmarem que nunca tinham pensado sobre este assunto, dizem que os museus são espaços que:

(…) Mostram coisas …Dão a conhecer algo. (…) I.

(…) Eu sei que há pessoas que trabalham em museus, mas não sabia que havia um curso específico. (…) R.

(…) Pois, porque normalmente nós entramos, vimos, saímos e nem sequer nos apercebemos do trabalho que é feito, do trabalho que está por trás, nós não nos apercebemos. (…) C.

Referem que ao longo do ensino secundário visitaram com a escola o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, visitaram o Porto Barroco:

(…) Já fomos algumas vezes à Universidade do Porto.179 Até quando há aquelas mostras de Ciência, tipo museu e isso, vamos sempre. (…) R.

Entretanto, após esta primeira fase de abordagem ao tema dos museus e de Abel Salazar, passou-se à apresentação da figura Abel Salazar e do museu. Para tal, usou-se o mesmo Dossier de Apresentação usado nas entrevistas às docentes e uma “maleta pedagógica” que continha imagens de lâminas de microscópio, catálogos de exposições livros de Abel Salazar, imagens de obras artísticas. Nenhum dos alunos havia visitado o museu, mas já tinham ouvido falar em Abel Salazar (as duas alunas), enquanto o aluno não. Por esse motivo, reconheceram-no como um artista.

Enquanto os objectos trazidos do museu estavam em cima da mesa foi notória a aproximação de R. (aluno de Ciências) às imagens das lâminas de microscópio com

177

Assumiram ter interesse essencialmente em exposições de Arte Contemporânea. 178

Ao longo da entrevista foi perceptível que R. entendia por museus de história, museus de Etnografia e História Local.

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preparações histológicas fotografadas através de microscópio, assim como às reproduções de desenhos histológicos comentando:

(…) E, visto ao microscópio é muito mais interessante… Ele tinha mesmo jeito. Aqui o tecido endoplasmático está espectacular … em termos de arte lembra-me muito o meu 9.º ano, quando tive que fazer exercícios com pontinhos (…) R.

(…) a mim lembra-me o filme que vi esta semana que foi “A árvore da vida” em que no inicio da história aparecem imagens da natureza e também imagens de células (…) I.

As alunas mostraram mais interesse nos catálogos, livros e imagens, mas ficaram bastante atentas aos comentários de R. relativamente às imagens das lâminas, dos desenhos histológicos e das imagens fotografadas microscopicamente. Nessa altura, foram questionados sobre se aquelas imagens poderiam ter interesse para alunos de artes, ao qual todos responderam que sim. A aluna C. disse, ainda que:

(…) acho que sim. Há pouco uma frase chamou-me muito a atenção que é “Quem só sabe de medicina nem de medicina sabe”. E isso integra-se em todas as áreas, não é? Acho que por muito que as coisas pareçam inúteis à primeira, vamos sempre arranjar uma maneira de as relacionar… Saber nunca é de mais (…) C.

Referem que a localização do museu não favorece por não ser central, que o museu tem de investir na divulgação de actividades e que devia investir na programação para jovens sem ser só no âmbito escolar, como concertos de jazz, por ex.

(…) Para dar mais dinâmica (…) I.

(…) Quanto mais interactivo um museu maior interesse tem para o público em geral. Portanto, se houvesse workshops no museu ia dar uma publicidade enorme, embora seja difícil organizar. Neste caso, de arte ou até mesmo de ciências, utilização de microscópios, por ex. (…) R.

No final, os três consideraram interessante ligar a arte e a ciência, e teceram alguns comentários um pouco provocatórios:

(…) Assim pode ser que não surjam aquelas boquinhas, se calhar, que os de artes não fazem nada… E os de ciências é que são bons! (…) C.

Através desta reunião constatou-se que os alunos entrevistados não conheciam o museu, e as alunas conheciam Abel Salazar por terem efectuado uma pesquisa prévia para a

entrevista. Percebeu-se, ainda que, na verdade, as colecções da Casa-Museu Abel Salazar têm um potencial de uso bastante acima do que tem sido utilizado, e que este estudo deve realmente ser o início de aproximação.

No documento Arte e ciência na Casa-Museu Abel Salazar (páginas 81-84)