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Foto 24 Equipe da RPPN Serra do Tombador e pesquisadora

3.3 OS ASPECTOS FÍSICOS DA CHAPADA DOS VEADEIROS

A região da Chapada dos Veadeiros é inteiramente representada pelo bioma Cerrado, considerado a savana tropical da América do Sul. Existe a impressão equivocada de que o Cerrado é biologicamente pobre, porém, quando sua biota total é computada, o Cerrado é considerado a savana mais rica do mundo. Por esse motivo ele está incluído entre os 34

hotspots do mundo (CÂMARA, 2001). Cerrado, em espanhol, significa fechado e caracteriza

o tipo de vegetação que ocorre neste bioma. A utilização do termo “cerrado” é feita, geralmente, de três maneiras diferentes: 1) para identificar o bioma, escrito com a inicial maiúscula, sem plural; 2) para se referir à vegetação de uma maneira geral, com todas suas

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fitofisionomias, conhecido, também, como cerrado lato sensu ou cerrado sentido amplo; 3) para designar um tipo específico de fitofisionomia que ocorre nas savanas, chamado também de cerrado stricto sensu ou cerrado sentido restrito.

Considerado o segundo maior bioma do país e o mais antigo (BERTRAN, 2000), o Cerrado se manifesta em altitudes que variam de 300m a mais de 1600m. Na região da Chapada, a altitude varia entre 577m a 1676m. O ponto mais alto do Planalto Central fica na Serra do Pouso Alto no Município de Alto Paraíso. O Cerrado é quase totalmente tropical, com apenas reduzida área ao sul do Trópico de Capricórnio (CÂMARA, 2004). Esse bioma possui o clima conhecido como tropical chuvoso ou tropical sazonal, caracterizado por duas estações bem definidas: inverno seco (maio a setembro) e verão chuvoso (outubro a abril), com a ocorrência de períodos de seca na estação chuvosa, chamados veranicos. Por ter uma grande extensão territorial e se distribuir ao longo de várias latitudes, o Cerrado possui uma grande diversidade térmica. No Planalto Central, com altitudes acima de 1200m, o clima tende a ser mais ameno (SANO, 1998).

O Cerrado possui fundamental participação na distribuição das águas no Brasil e na América do Sul por ser um grande divisor de águas e tendo em seus domínios as partes mais altas de importantes bacias hidrológicas, entre elas a Bacia Amazônica, Bacia do rio São Francisco, Bacia Tocantins/Araguaia e Bacia do Paraná (LIMA e SILVA, 2008). A água em profundidade, mesmo na estação seca, é sempre abundante, armazenada no solo poroso. A maioria dos rios é perene (CÂMARA, 2001). Além disso, tem como característica hidrológica a ocorrência de “cabeça d’água” ou “tromba d’água” nos períodos de outubro a março, quando as chuvas são mais intensas (IBAMA, 2005), tornando muito perigoso o turismo nas áreas de cachoeiras e rios. Na região da Chapada, temos o maior lago do Brasil em volume d’água, o Lago da Serra da Mesa, com 54 bilhões de m³, formado pelo represamento do rio Tocantins para a construção da hidrelétrica de Serra da Mesa nos Municípios de Minaçu, Colinas do Sul, Niquelândia, Uruaçu, Campinaçu e Campinorte em Goiás (SEPLAN, 2011).

As formas de relevo que se destacam na geomorfologia da região, as chapadas (Foto 1), são residuais, de superfícies mais antigas que foram desgastadas com o tempo (LIMA e SILVA, 2008). O território de Cavalcante conta com a presença de rochas com cerca de 2,5 bilhões de anos, denominadas Complexo Granito- Gnáissico, um dos mais antigos do país (IBAMA, 2005).

Foto 1– Chapada em Cavalcante Fonte: Cissa Fonseca, 2012.

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O aspecto da vegetação do Cerrado é atribuído aos fatores climáticos, bióticos e pedológicos. Ao longo dos anos, as chuvas intemperizaram os solos e os deixaram pobres em nutrientes, mas rico em ferro e alumínio. Por isso, cerca de 46% do solo do Cerrado é formado por latossolo, ou seja, um solo antigo, que sofreu bastante intemperismo, mas por isso mesmo bem desenvolvido, tendo, geralmente, todos os horizontes do solo (SANO, 1998). Uma característica interessante é que estes solos são altamente permeáveis, se assemelhando aos solos arenosos, o que permite a sobrevivência de espécies como a canela-de-ema que preferem áreas drenadas e de altitude. São solos muito suscetíveis a erosões e voçorocas, caso seja destruída a sua vegetação. Apesar da maior parte do bioma Cerrado ser formado por latossolos, existe uma grande variedade de outros solos neste bioma e isso pode ser verificado pela vasta diversidade de tipos de vegetação (SANO, 1998).

O bioma Cerrado possui em sua composição vegetal várias fitofisionomias que vão de formações florestais, com forte presença de espécies arbóreas; savanas, com áreas de gramíneas, árvores e arbustos esparsos; até formações campestres, onde predominam espécies herbáceas e algumas arbustivas (SANO, 1998). As principais fitofisionomias são: o Cerrado Rupestre, o Campo Rupestre, o Cerrado Ralo, o Campo Sujo, o Campo Limpo, o Cerrado Denso, a Vereda (Foto 2), a Mata de Galeria, e o Cerradão (ICMBIO, 2009).

No Cerrado, o fogo é um fator ecológico agravado pelo homem (CÂMARA, 2001). A ocorrência de fogo natural é registrada na época das chuvas, não permitindo que as chamas se alastrem por grandes áreas. Os incêndios na época da seca são uma grave ameaça, cujas principais causas são o manejo equivocado do fogo pelos moradores ou atitudes criminosas.

O Cerrado possui uma rica flora e fauna. Na Chapada, várias espécies estão ameaçados de extinção. Entre os animais, pode-se citar o veado campeiro, o lobo guará e o pato mergulhão. Entre as espécies de flores representativas dos cerrados tem-se a caliandra e os pepalantos, conhecidos como chuveirinhos (Foto 3).

Foto 2–Veredas do Jardim de Maytrea em Alto Paraíso - GO

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Foto 3 - Pepalanto (à esquerda) caliandra (à direita)

Fonte: Weverson Paulino, 2011.

Os frutos do Cerrado são amplamente utilizados pelo ser humano para alimentação, como o pequi, a mangaba, o baru, entre outros, e, também, com outras funções, como o preparo de medicamentos e fabricação de artesanatos. Muitas espécies de frutos são o principal alimento de vários animais da região (LIMA e SILVA, 2008).

O relevo impactante e a abundante hidrografia fazem com que a Chapada dos Veadeiros seja agraciada por inúmeras cachoeiras, rios, formações geológicas peculiares e paisagens de grande beleza cênica (Foto 4). Em Alto Paraíso, o maior polo turístico da Chapada, contam-se mais de 100 cachoeiras (SEPLAN, 2011). Dessa forma, seus atrativos naturais a tornaram um dos 65 destinos indutores do desenvolvimento turístico regional, identificados pelo Ministério do Turismo (MTUR, 2008).

As características climáticas, biogeográficas e a biodiversidade existente neste bioma, proporcionaram ocupações duradouras, ou seja, um bioma com grande variedade de frutos comestíveis e abrigos naturais que favoreceram a fixação de populações humanas na região (SANO, 1998). Por outro lado, essa ocupação também deu início à degradação do Cerrado.

A ação antrópica tem tido influência marcante na paisagem do Cerrado, sempre no sentido de reduzir a cobertura arbórea (CÂMARA, 2001). As causas dessa degradação sobre o meio ambiente são várias: desmatamento, utilização do fogo, retirada da vegetação para a produção agrícola e para pecuária, introdução de insumos, pesticidas, uso de máquinas pesadas no tratamento do solo, construção de barragens e estradas, consumo irracional da água, entre outros (SANO, 1998). O desmatamento na Chapada começou com

Foto 4 - Cachoeira Santa Bárbara Cavalcante

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a mineração, cresceu com o aumento da urbanização e das atividades agrícolas. A criação de Brasília promoveu a construção de estradas e rodovias (IBAMA, 2005). Nessa perspectiva, o aumento de áreas protegidas por lei é vital para assegurar a conservação da biodiversidade na região da Chapada.