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Sebastião dos Santos Rosa no Território Kalunga

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da Chapada, hoje Chapada da Natividade/TO, e o do Carmo, atual Porto Nacional/TO. A estimativa é que havia, a princípio, cerca de 2.150 escravos nesta região (BERTRAN, 2000).

Nos primórdios de São Félix houve vários conflitos devido à disputa da região pela Superintendência de Goiás, ainda pertencente a São Paulo, e pela Capitania do Maranhão. Em 1739, o Conde D’Alva, governador de São Paulo, foi às minas e presenciou a consolidação dos Arraiais de São Félix, Cavalcanti, atual Cavalcante/GO, Natividade, hoje Natividade/TO, e Arraias, atualmente Arraias/TO, como domínios da superintendência goiana. Depois do declínio de São Félix, o arraial de Cavalcanti se estabeleceu como núcleo colonizador da Chapada (LIMA, 2009), sendo transferida para lá, em 1794, a Fundição de Ouro que, antes, se localizava em São Félix. Não se sabe ao certo em que ano, mas em 1910, o professor Ferreira já registrava, em seu anuário, o arraial de São Félix como extinto (BERTRAN, 2000).

A Chapada começou a se tornar realmente povoada com a exploração do ouro nas minas de Cavalcanti em 1737. O descobridor da riqueza de Cavalcanti teria sido, segundo documentos de 1783, Francisco de Albuquerque Cavalcanti, mas há dúvidas quanto ao seu primeiro nome; alguns escritores acreditam ser André, outros, Juliano e, ainda, Diogo conforme a tradição local (BERTRAN, 2000). De acordo com o IBGE (2013), o primeiro garimpeiro foi Julião Cavalcante, em 1736. Elevado à categoria de vila em 1831, no ano de 1911, já aparece como Município de Cavalcante e é constituído de três distritos: Cavalcante, Moinho e Nova Roma. Em 1933, Cavalcante aparece com cinco distritos: Cavalcante, Lajes (futuro Município de Colinas do Sul), Nova Roma, São Domingos do Café e Veadeiros (futuro Município de Alto Paraíso de Goiás). Em 1969, foi criado o distrito de Teresina de Goiás anexado a Cavalcante. Em 1988, Teresina foi desmembrada de Cavalcante quando se tornou um município (IBGE, 2013).

A descoberta de ouro em Cavalcante fez com que a mineração se alastrasse pela Chapada. Alguns pontos de garimpo ficavam, inclusive, onde hoje existe o PNCV, como as lavras dos ribeirões Montes Claros e Brumado (LIMA, 2009). Outro local citado como área de garimpo é o Rio São Bartolomeu de Veadeiros, conhecido também como Rio São Bartolomeu da Chapada, com as lavras na Bocaina, no Bonsucesso e no Moinho. É citada, também como área de garimpo, a região da Capelinha, ao Norte de Alto Paraíso, que tem esse nome devido à cruz esculpida na entrada do túnel de mineração que permanece preservado até hoje (BERTRAN, 2000).

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Além do garimpo de ouro e da caça ao veado-campeiro, outra atividade dessa época remota foi a produção de trigo, feita no Engenho Bom-Sucesso, atual distrito de Moinho e alguns outros engenhos, citados em 1783 no documento “Notícia Geral da Capitania de Goiás” (BERTRAN, 2000). De acordo com pesquisas de Heitor de Cordeiro, na década de 1930, o trigo foi plantado primeiramente na Fazenda Volta da Serra por Francisco José da Silva Bastos e, depois, continuada por seu genro Antônio Pinto de Castro, no Moinho, onde foi construído o primeiro monjolo movido à água (LIMA, 2009). Na época, houve uma grande produção, porém ela entrou em decadência devido a dois fatores: a falta de mão de obra após a Lei Áurea e os atraentes garimpos de cristal (LIMA, 2009).

A primeira menção ao povoado de Veadeiros foi no ano de 1836, no mapa do brigadeiro Raimundo José da Cunha Mattos, segundo informações do Dr. Marcos Antônio Galvão, feitas dez anos antes da publicação do mapa. Conta a tradição que Francisco Almeida foi o primeiro fazendeiro da região, instalando-se, por volta de 1750, no sítio chamado Veadeiros, originando o nome do primeiro povoado local. De acordo com o Dicionário do Brasil Central, o nome Veadeiros não faz referência diretamente ao veado- campeiro, mas aos cães que os farejavam no momento da caçada (LIMA, 2009). Uma das sesmarias4 antigas da redondeza é a de Volta da Serra, citada em um mapa de 1778, feito pelo Sargento-Mor Tomas de Souza e, também, a Fazenda Paraíso, pedida como sesmaria em 1783.

Novas informações sobre a região surgiram em 1892 com as comissões para a construção da nova capital (BERTRAN, 2000). Para cumprir com o artigo 3° da Constituição Federal de 1891 foi realizada a 1ª Comissão Cruls, no mesmo ano, chefiada por Luiz Cruls. Essa comissão enviou para a Chapada a subcomissão Capitão Celestino Alves Bastos e Ernesto Ule para constatar o ponto mais alto do planalto central. Encontraram a cumeeira da região a 1676 metros na Serra do Pouso Alto (LIMA, 2009). De acordo com Ule, o local era excelente para o cultivo de frutas (BERTRAN, 2000). O projeto de interiorização da capital do país traria à região profundas transformações (LIMA, 2009).

Em 1946, o Presidente Eurico Gaspar Dutra enviou uma nova comissão ao planalto central chefiada pelo general Djalma Polli Coelho que chegou à Chapada em 1948. Jerônimo Coimbra Bueno, presente nesta comissão, estendeu até a região de Veadeiros a área da futura capital. Esse acontecimento seria primordial para a futura criação do PNCV.

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O distrito de Veadeiros pertenceu ao Município de Cavalcante até 1953, quando foi elevado à categoria de município e se desmembrou de Cavalcante. Nos domínios de Veadeiros ficava o distrito de Nova Roma que se desmembrou em 1955 e se tornou também um município (IBGE, 2013).

Veadeiros cresceu por meio do trabalho de alguns ilustres habitantes. Um dos primeiros moradores da fazenda Veadeiros foi Moisés Nunes Bandeira. Segundo testemunhas locais, Moisés foi o responsável pelos primeiros serviços e equipamentos urbanos de Veadeiros (LIMA, 2009), principalmente a primeira escola em sua própria residência, sendo ele, o primeiro professor. Isso ajudou Veadeiros a mudar da condição de vila para se tornar distrito de Cavalcante em 1938. A escola que existe até hoje em Alto Paraíso recebeu o nome de seu idealizador: Moisés Nunes Pereira (COLMOISES, 2012).

No ano de 1957, foi fundada a fazenda-escola Bona Espero (Foto 6), que segue os princípios do esperantismo, como a solidariedade e o universalismo. Tal acontecimento é visto como o pioneiro para o movimento esotérico na região. Em 1963, devido ao nome da fazenda Paraíso, uma das maiores fazendas da região, o povo local decidiu mudar o nome do distrito de Veadeiros para Alto Paraíso. A palavra “alto” seria para diferenciar do nome da fazenda, já que a cidade fica em uma das áreas mais elevadas da Chapada e a fazenda se localizava a uns 300 metros de altitude abaixo dela (BERTRAN, 2000). No mesmo ano, a Organização Social Cristã-Espírita André Luiz (OSCAL), sediada em Belo Horizonte, fundou a segunda fazenda- escola da região, chamada de Cidade da Fraternidade, atraindo cada vez mais os adeptos do misticismo e a comunidade hippie.

Na década de 1980, surge o Projeto Rumo ao Sol, que buscava vivenciar novas formas de tecnologia, alimentação e comportamento. Durante o projeto foi realizado um encontro que atraiu mais de 180 alternativos que trouxeram para a região um novo modelo de colonização. Muitas dessas pessoas se instalaram na Chapada e cultivavam princípios como a preservação da natureza, a produção e consumo de alimentos naturais, a vida em comunidade e a preocupação com o crescimento espiritual. Tais características são marcantes até hoje na região, principalmente no Município de Alto Paraíso, onde se concentraram esse movimento.

Foto 6 - Placa da Fazenda Bona