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2. A política de microcrédito do Estado do Espírito Santo

2.1 O Programa Nossocrédito: da concepção à implementação

2.1.5 Os atores e suas inter-relações: dificuldades e estratégias

As diferentes atribuições do agente de crédito e sua relação direta com os microempreendedores e instituições exigem dele, não raras vezes, certa habilidade para conciliar algumas diretrizes e estratégias desenhadas no Programa com a realidade vivenciada junto ao público-objetivo do Nossocrédito. Um dos pontos considerados de maior dificuldade na relação Programa x empreendedor, mencionado pelos agentes entrevistados (visão unânime) refere-se às garantias, ou seja, a exigência de avalista e a de não restrição junto ao SPC e SERASA.

A-1 [...] na hora que a gente apresenta o produto, o Nossocrédito, é um Deus nos acuda! Na hora que conta a história, pergunta do SPC e SERASA e do avalista, ele quer... [...] então quando a gente fala da

questão do avalista é um susto! Ah, mas é uma reclamação [...] [mas] a

gente coloca [...] nossos juros são baixos (grifo nosso).

A-2 [...] Às vezes as pessoas reclamam que o Programa é burocrático [...]

as pessoas reclamam do caso do avalista [...] é assim, é o mesmo

motivo que todos dão... é chato eu chegar [...] ah! Avaliza pra mim [...] porque hoje essa questão ta muito complicada [...] e é aquela coisa, se o cliente não paga, a responsabilidade passa pro aval. [...] mas, 1% ao mês

já ta ajudando [...] já é uma facilidade (grifo nosso).

A-4 [...] na verdade, nós sentimos dificuldades em conseguir clientes

pela questão de avalista, por ser uma norma do Programa, eles não

conseguem, sentem muita dificuldade. [...] porque o Programa ele é muito bom [...] porque a partir de 1% ao mês, pra quem tem uma atividade, ela

[a taxa] é muito boa mesmo (grifo nosso).

A-1 [...] Hoje, o que a gente tem maior dificuldade [além do avalista]

são as restrições do SPC e SERASA. A gente tem um fluxo muito grande

de pessoas que procuram, mas grande parte delas está inclusa no SPC e SERASA. [...] Então vêm, procuram, jura pra você [Agente] de pés juntos que não ta [incluída], aí você tenta agilizar o máximo possível, mas quando retorna a consulta você vê um SPC e SERASA bem grande, aí [...] o

anotado na hora que lançar, então não vai permitir, vai travar o sistema (grifo nosso).

Essa dificuldade do empreendedor também é citada, reiteradas vezes, no “Relatório da 1ª Reunião dos Tomadores de Crédito de Viana”, realizada pela SETADES em 2006. A questão do avalista aparece tanto no item “Dificuldades encontradas pelos tomadores de crédito na aquisição do crédito” (p. 1 e 3) quanto nas “Sugestões dos tomadores para superar as dificuldades em relação ao Nossocrédito” (p. 2 e 4), em que reivindicam a exclusão dessa modalidade de garantia para as operações de investimento fixo (ficando o bem financiado como garantia) e ainda a dispensa do avalista a partir o segundo financiamento. As dificuldades e reivindicações em relação ao avalista foram apresentadas tanto pelo “Grupo Comércio” como pelo “Grupo Indústria e Serviços”.

Se por um lado a exigência do avalista constitui uma das maiores dificuldades para o tomador em relação ao Programa, por outro lado, a taxa de juro de 1% ao mês é considerada altamente atrativa e “todos querem o Nossocrédito” (entrevista, 2008 p.5). A taxa de 1% ao mês é considerada baixa para essa modalidade de crédito, quando comparada às taxas de mercado praticadas por outras instituições de crédito do país, incluindo as que operam o microcrédito, como a Caixa (3,9% ao mês) e o BNB (entre 3% e 2% ao mês), por exemplo; ou mesmo de outros países, como a praticada pelo Grameen (20% ao ano), e ainda, aos crediários dos estabelecimentos comerciais e às “Financeiras”111, em geral, bastante utilizados pelo público de menor renda.

A estratégia adotada pelos agentes para lidar com a questão do avalista (também unânime em suas falas), tem sido a de esclarecer as regras do Programa, usando uma linguagem acessível ao tomador, enfatizando a flexibilidade que o Programa adota em relação às garantias quando comparada às exigências de outras instituições que operam o microcrédito, o que, do ponto de vista dos entrevistados, tem levado a uma aceitação da norma por parte dos microempreendedores.

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Instituições de crédito que operam CDC e crédito pessoal com taxas em torno de 10% ao mês. A taxa de juro para essa modalidade de crédito operada pela Dacasa em 2004, por exemplo, oscilava entre 9,5% e 11% ao mês. Atualmente é de 9,8% ao mês para financiamentos pagos via carnê e de 6,8% ao mês para as operações garantidas por cheque.

A-4 [...] a gente já vai explicando os motivos do avalista antes mesmo

de falar da necessidade dele. Já começa explicando porque que a gente

pede avalista [...] que é porque o Programa não aliena bens, porque ele [o tomador] não precisa comprovar renda [...] (grifo nosso).

A-1 [...] reclamam, reclamam, mas depois pode ser um parente de

primeiro grau, desde que não more na mesma residência [...] e aí já

começa: ah! Eu tenho a minha mãe, eu tenho o meu irmão, eu tenho o meu cunhado, eu tenho o meu amigo, eu tenho o meu vizinho, daí a pouquinho ele tem dois ou três avalistas. [...] Tem aquele que tem dificuldade realmente de trazer um avalista, e têm outros que não (grifo nosso).

A-1 [...] já teve muita mudança do começo do programa até hoje. [...] pode ser uma conquista a retirada do avalista, mas só que isso vai com o tempo [...] e a outra coisa que a gente precisa é que o dinheiro retorne [condição para a manutenção do Programa] (grifo nosso).

A-2 [...] Vêm muitas pessoas procurar a gente [...] mas não têm noção do que é o Programa, acha que é um Programa que vai dar o crédito assim de qualquer jeito. [...] É um Programa de âmbito social? É! [...] mas, a gente

não pode esquecer a parte financeira. (grifo nosso).

A-4 [...] Ele [o aval] não é solicitado só aqui. Muitos clientes [...] questionam, mas até eles mesmos falam: não é uma dificuldade só do

Nossocrédito [...] outras instituições também pedem [...] bancos,

financeiras.

Embora as exigências do Programa em relação às garantias sejam mais flexíveis, e o tomador não precise, necessariamente, comprovar sua renda, é de se considerar que o nível econômico e social das pessoas com as quais ele se relaciona (família, amigo, vizinhos) não difere muito da sua própria condição, o que torna ainda mais difícil conseguir um avalista. O percentual de operações não aprovadas nos comitês gira em torno de 15%112. A aceitação da norma pelo cliente, nesse caso, é também decorrente da sua falta de opção diante da necessidade do crédito. Do lado do Programa, a internalização dessa norma pelo empreendedor faz parte da chamada “educação para o crédito”. Do ponto de vista do consultor entrevistado, a educação para o crédito é um dos focos do Programa, e o entendimento de que o empréstimo necessita de uma garantia é parte dessa educação.

Questionado sobre a existência de outras formas de garantias, como a criação de fundos municipais para garantir o empréstimo dos tomadores, o consultor do Nossocrédito afirmou não existir.

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[...] Até porque, no que diz respeito à educação para o crédito, é necessário que os empreendedores saibam que quem tem que garantir o empréstimo deles, são eles.

A garantia do retorno dos empréstimos é condição fundamental para a sustentabilidade de Programas de microcrédito (CONSAD, 2003). Do seu ponto de vista, a cobrança e o monitoramento dos empréstimos concedidos por parte das instituições que operam o microcrédito teriam “uma função pedagógica, pois ensina o empreendedor como gerir o seu negócio de um modo mais profissional e sistemático, estabelecendo prazos, metas e compromissos” (p.8).

Do ponto de vista de uma análise mais subjetiva, ou menos contratual da questão das garantias, a exigência do avalista esbarra também em conceitos sobre o crédito, já internalizados pelos sujeitos, conforme discutido no capítulo anterior113, relacionados aos valores individuais, de aceitação, confiança, merecimento, e que se fazem presentes nas falas dos pretensos tomadores, reproduzidas pelos agentes entrevistados, extraídas de seus contatos no dia-a-dia.

A-1 [...] Muitos deles também acreditam, falam a mesma coisa: ah! Você [o agente de crédito] não acredita em mim, não acredita no que eu faço, eu

tenho condições, eu ganho o suficiente para pagar (grifo nosso).

A-2 [...] tem muitas pessoas que pensam assim: poxa, eu vou pagar! Eu

tenho que ter o crédito porque eu vou pagar! (grifo nosso).

A-2 [...] Nós temos clientes que hoje comem à noite feijão puro pra não dever a ninguém, mas também nós temos clientes que, infelizmente, se beneficiam e... [a frase não foi concluída. No contexto da fala: dão trabalho

para o agente receber as parcelas]. (grifo nosso).

Ainda que permeadas pelas questões de natureza subjetiva, as operações do Nossocrédito pautam-se pelas normas contratuais. O desenho do Programa contempla mecanismos e estratégias para a captação do financiamento, utilizados pelos agentes com base em critérios técnicos, conforme discutido anteriormente. Como observa a agente:

A-1 [...] O Nossocrédito ele é [...] tudo muito amarradinho. Então, se ele [o tomador] sonega informações, nos nossos cálculos não vai dar certo. Na história, a história não vai encaixar. E quando ele utiliza, se ele utilizar o dinheiro do Nossocrédito para outra coisa que não seja o que ele colocou pra gente, ele vai ter dificuldade no pagamento. Isso é certo!

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No campo das relações entre Agentes e instituições que operam o Nossocrédito e destas entre si, é consenso entre os entrevistados que houve um “amadurecimento” ao longo do processo de implementação dessa política, e que hoje os campos de atuação de cada uma encontram-se mais bem definidos e mais articulados, embora permeados por injunções políticas, inerentes a todo processo.

[...] A gente conseguiu assim evoluir bastante [...] na relação institucional. [...] não que isso fosse ruim na concepção do Programa, mas [...] como

nós todos estamos aprendendo, nós estamos vendo que aqueles erros

nos levaram a amadurecer. Eu acho que as três instituições, junto com

os municípios, conseguiram amadurecer. [...] Hoje, o prefeito, em

função dessas instituições, ele já entende a importância social e econômica que gerou no município. [...] Nesses cinco anos acho que esse foi um ganho positivo. [...] Não vou dizer que nós estamos 100% porque é um

amadurecimento, mas eu acho que a gente conseguiu caminhar de uma forma mais positiva e mais propositiva para o Programa em si e para atender a capilaridade que o Programa requer. [...] esse foi o

grande ganho desse amadurecimento das instituições. [Gerente Estadual de Microcrédito] (grifo nosso).

Aqui, faz-se referência a conflitos existentes no decorrer do processo de implementação do Programa quanto ao papel de cada instituição nesse processo e à função fiscalizadora dessa atuação, de início, mais voltada para identificar o que havia de certo ou errado nessas instituições. O entrevistado acrescenta que hoje os papéis estão bem definidos e cabe a SETADES essa função fiscalizadora, porém ela vem sendo exercida no sentido de agrupar, de “fazer a ponta das discussões dentro do foco do Nossocrédito”, buscando identificar, de forma conjunta, possíveis desvios do Programa, e não fiscalizadora das ações de cada uma, o que considera fruto do amadurecimento das instituições nesse processo.

Alguns pontos indicativos de injunções políticas também se fazem presentes nas falas dos agentes, abaixo destacadas, como o vínculo do agente com a prefeitura, que se dá por meio de cargo comissionado114, por exemplo. A mudança de gestão pode significar a perda do cargo115 ou ainda mudanças na condução da UMM:

A-1 [...] É um cargo comissionado, é um cargo de confiança [...] então você sabe que entra um outro prefeito ele vai trazer pessoas que sejam da confiança dele (grifo nosso).

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Alguns municípios já estão terceirizando essa mão-de-obra. Esse ponto será abordado adiante.

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Até aqui, o número de Agentes desligados do Programa por motivos políticos, segundo o consultor entrevistado, tem sido muito baixo (apenas dois). Contudo, o fato de 2008 ser um ano de eleição municipal, a preocupação com a questão se faz presente na fala dos agentes entrevistados.

A-2 [...] Nós temos um cargo de confiança desta prefeita. Quando outro prefeito entrar, ele pode ter uma visão da gente, de nós, agentes de crédito, sermos ligados à Prefeita e não à Agência. [...] pode ter uma gestão com novos agentes de crédito (grifo nosso).

Outro ponto destacado é a relação com o BANESTES em que prevalece a política da empresa, de análise técnica da operação e enfoque comercial, vetando, por vezes, operação considerada viável pelo agente; e a política de redução de funcionários, conforme já assinalado:

A-2 [...] O BANESTES por ser uma instituição financeira [...] tem essa

preocupação [...] de conceder o crédito. [...] às vezes, um empréstimo que

o agente de crédito vê que o tomador tem condições e tudo, mas [...] é barrado (grifo nosso).

A-3 [...] O BANESTES tem a visão de âmbito financeiro [...] comercial. [...] porque querendo ou não o BANESTES também não pode ter grande inadimplência (grifo nosso).

A-4 [...] Porque o BANESTES é mais a questão financeira mesmo [...] do que o cliente em si, do empreendimento em si. Eles analisam só a questão

financeira mesmo, então, às vezes isso é uma dificuldade [...] [mas] isso

varia muito de gerente para gerente (grifo nosso).

A-1 [...] a gente tem problemas com o BANESTES, se você for a uma reunião, todos os agentes de crédito vão reclamar. Então, o que eu vejo, hoje [...] é que o BANESTES [...] teria que ter funcionários. [...] eles [os funcionários] dão a maior força pro Nossocrédito [...] a grande dificuldade que a gente tem hoje, em relação ao parceiro BANESTES [...] é a questão

do número de funcionários [...] reduzido para atender tanta coisa (grifo

nosso).

E, por fim, tem-se a questão das metas de produção estabelecidas pelo BANDES, dentro da política de expansão do Programa, como segue.

O desempenho dos agentes de crédito é acompanhado mediante o cumprimento de metas116 estabelecidas pela instituição gestora do Programa, de acordo com o perfil da Unidade Municipal, e estimulado por meio de premiação concedida aos agentes que mais se destacaram, entregue por ocasião do “Encontro Estadual de Microcrédito” 117, evento que vem sendo realizado ao final de cada ano, desde 2005.

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De acordo com os agentes entrevistados, em 2007, a meta por agente era de 10 contratos mês. Para o ano de 2008 foram feitas algumas modificações que levaram em conta o perfil do município, os meses mais produtivos conforme a região, a sazonalidade, e outros, estabelecendo-se metas diferenciadas mês a mês, de acordo com a agência e o período do ano.

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O evento tem duração de três dias e reúne os agentes de crédito de todo o Estado, gestores, consultores, coordenadores, representantes das instituições ligadas ao Nossocrédito no estado e ainda - a partir de 2006 - convidados de outras instituições de microcrédito do Espírito Santo e de outros estados para troca de experiências (BNDES, CREAR Brasil, SEBRAE). Abrem-se duas vagas para cada Estado que queira mandar representantes. Em 2007 estiveram presentes representantes

A metodologia utilizada na classificação (categorias ouro, prata e bronze) é complexa e se traduz em alta produtividade e inadimplência baixa. A inadimplência118 implica em penalização e tem peso quatro, ou seja, multiplica-se o percentual de inadimplência por quatro e desconta do número de operações da carteira ativa. O objetivo é manter a qualidade do crédito, considerada primordial para o sucesso do Programa, não apenas no sentido de garantir o retorno do recurso emprestado, mas também a melhoria do empreendimento financiado. O processo é conduzido pelo consultor responsável pelo acompanhamento do desempenho do Programa que explica sua metodologia:

[...] a classificação ouro, prata e bronze [...] significa o seguinte: fez 80% da meta, já descontada a inadimplência, é bronze; se fez 90% é prata; se fez 100% ou mais é ouro. [...] A gente classifica os Agentes e as Agências,

e faz a premiação (grifo nosso).

Há ainda a categoria “Agente Top” que é o Agente considerado mais produtivo dentre os Agentes incluídos na categoria ouro.

[...] esses Agentes Top é o seguinte: as regiões que bateram suas metas, dentro dessa região [...] partilham da premiação todos os Agentes ouro, todos os agentes ouro das Unidades com o menor índice de inadimplência, e dentro da Unidade com o menor índice de inadimplência, o agente

mais produtivo (grifo nosso).

O valor total da premiação no ano de 2007 foi de R$ 40.000,00, dividido entre as categorias ouro, prata e bronze. Foram premiados 75 agentes de crédito (68 ouros, três pratas e quatro bronzes); e 55 agências (duas na categoria bronze, três na categoria prata e 50 na categoria ouro) distribuídas entre as quatro macro-regiões: na Região Extremo-Norte, 17 municípios atingiram a categoria ouro: Águia Branca, Barra de São Francisco, Boa Esperança, Ecoporanga, Jaguaré, Mantenópolis, Montanha, Mucurici, Nova Venécia, Pedro Canário, Pinheiros, Ponto Belo, São Domingos do Norte, São Gabriel da Palha, São Mateus, Sooretama, e ainda o

do Banco Terra, Banco Bem, CEAPE-ES, Grande Vitória CrediSol, SEBRAE-ES (Espírito Santo), e ainda representantes de outro estados como: Alagoas (Agência de Fomento de Alagoas – AFAL); Bahia (Programa Credibahia e Desenbahia); Pará (Banco do Estado do Pará – BANPARÁ); Sergipe (Ação para o Microcrédito em Sergipe – AMIS) e Tocantins (Agência de Fomento do Estado de Tocantins). O evento tem como objetivos mostrar como funciona o Programa, disseminar a idéia, trabalhar as inter-relações por meio de palestras, vivências, dinâmicas de grupo e outros; além da premiação das agências e agentes, e ainda a confraternização entre os participantes.

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Os dados relativos à inadimplência do Nossocrédito serão apresentados e analisados no capítulo três do presente estudo.

município de Vila Valério na categoria Top. Na Região Centro-Norte foram 11 municípios na categoria ouro: Alto Rio Novo, Baixo Guandu, Colatina, Fundão, Governador Lindemberg, Itaguaçú, Linhares, Marilândia, Pancas, Rio Bananal e Santa Teresa; e um na categoria bronze: Aracruz. Na Região Centro–Sul foram 12 municípios na categoria ouro: Anchieta, Atílio Vivacqua, Guaraparí, Iconha, Itapemirim, Marataízes, Mimoso do Sul, Muqui (categoria Top), Piúma, Presidente Kennedy, São José do Calçado e Vargem alta; e um município na categoria prata: Apiacá. Na Região Extremo-Sul foram 10 municípios na categoria ouro: Alegre, Brejetuba, Cachoeiro de Itapemirim, Castelo, Conceição do Castelo, Guaçuí, Ibatiba, Ibitirama, Jerônimo Monteiro e Muniz Freire; um na categoria bronze: Afonso Cláudio, e dois na categoria prata: Divino São Lourenço e Venda Nova do Imigrante.

A relação número de contratos X inadimplência, como medida de produtividade ou desempenho do agente de crédito e do Programa, faz parte da metodologia do microcrédito. A questão da premiação dos agentes e da metodologia de classificação em categorias, acima citada, contudo, é uma particularidade do Nossocrédito, criada pela equipe gestora do Programa. Os recursos utilizados na premiação, segundo o consultor responsável pela condução do processo, são obtidos mediante parcerias com empresas que operam com outras linhas de crédito oferecidas pelo BANDES, como o PRONAF e o FUNDAP e que patrocinam o Programa.

[...] nós tivemos aqui o patrocínio de algumas empresas [...] que pegaram uma parte dos recursos da rentabilidade e premiaram os agentes de crédito. Agora, porque as empresas premiaram? Por que empresas que vendem equipamentos agrícolas premiaram agentes de crédito? É porque eles [os donos das empresas] tomaram o Programa para si, é a sociedade assumindo [...] não só eles, eu citei essas [empresas], mas as fundapeanas também premiaram. [...] então criou-se essa relação da sociedade premiar as

pessoas que estão trabalhando em prol da sociedade, em favor da sociedade [...] essa relação que a gente queria criar.

A premiação do agente de crédito, do ponto de vista acima descrito, é tida como um estímulo à produção, à manutenção da sua carteira de clientes e a garantia do retorno do crédito, indispensáveis ao Programa. No plano subjetivo, tem-se o reconhecimento público do empenho individual do agente, uma compensação extra salarial ao trabalho desenvolvido por ele junto à sociedade. No entanto, deve-se

considerar que a existência de metas a serem cumpridas pelos agentes estimula a competitividade entre atores e agências, inserindo-os na lógica capitalista de apologia à competição e ao mérito individual, constitutiva do próprio sistema. Desse ponto de vista, pode-se vislumbrar certa incompatibilidade em relação ao desenho institucional do Nossocrédito, à medida que o Programa visa à cooperação entre atores e instituições e não à competição entre si.

Essa classificação dos agentes em diferentes categorias também atende a outro propósito dentro de um desdobramento do Programa, implementado a partir de 2007, que discutiremos no item a seguir.