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3. Os Indicadores de alcance e Performance do Nossocrédito

3.1 Outras interpretações sobre os indicadores do Nossocrédito

Criar condições para o incremento da ocupação e renda da população capixaba e contribuir para o desenvolvimento de economias locais, mediante a extensão do crédito aos microempreendeores, são promessas do Programa. O Nossocrédito caminha nessa direção, mas o alcance de sua ação na expansão do crédito ainda está muito aquém da demanda. Como observa o gestor do Programa no BANDES:

[...] até hoje o que foi feito é muito pequeno em cima da demanda existente. Porque esses empreendedores, na realidade, eles não aparecem, você tem que... buscá-los. [...] A demanda é grande, mas ela

tem que ser trabalhada. [...] O que acontece é [que] o crédito no nosso

país é algo assim muito... que assusta ainda tantas pessoas, e [...] assusta muito mais a empreendedores do microcrédito... [...] as pessoas, primeiro acham que esse financiamento não é para elas; segundo, a dificuldade que elas imaginam que vão ter; e terceiro, os juros [...] sempre eles [os empreendedores] vão achar que é muito caro. [...] e aí o Programa

Nossocrédito desmistifica isso, porque o Programa foi feito para eles. [...] Em termos de burocracia não é tanta, e os juros [...] é o menor que se tem no país (grifos nosso).

A questão da burocracia e a taxa de juro já foram amplamente discutidas neste estudo. A primeira, representada pela exigência de avalista e não restrição cadastral, constitui uma das dificuldades de acesso ao Programa; a segunda, um de seus atrativos.

A busca de clientes, citada pelo gerente, é parte integrante da metodologia do microcrédito. Para executar essa tarefa no estado, o Programa contava, em 30 de abril de 2008, com 117 agentes de crédito atuando em 77 dos 78 municípios, distribuídos eqüitativamente entre as quatro macro-regiões do Nossocrédito conforme tabela abaixo.

Tabela 10: Distribuição dos Agentes de Crédito por Macro-região do Nossocrédito. (Posição: abril/2008).

Macro-região Percentual Extremo-Norte 30 Centro-Norte 30 Centro-Sul 30 Extremo-Sul 27 TOTAL 117

Fonte: BANDES. Elaborada pela autora.

Ao longo do processo, o BANDES já realizou 13 treinamentos (PROFAC) e formou cerca de 225 Agentes. Parte desse contingente atua na equipe de gestão e consultoria; outros já se desvincularam do Programa para assumir outras funções em instituições diversas como governo, banco comercial e SICOOB (Sistema de Crédito Cooperativo). O décimo terceiro treinamento foi realizado em fevereiro de

2008, visando atender a demanda de 13 municípios, distribuídos entre as quatro macro-regiões do Nossocrédito.

Tabela 11: Média de contratos captados por agente por macro-região – Abril/2008. Macro-região Média (Abril -2008) Média (Acumulado)

Extremo-Norte 5,2 5,6

Centro Norte 6,1 5,1

Centro-Sul 5,6 5,8

Extremo-Sul 7,7 5,9

Fonte: BANDES. Elaborada pela autora.

A média de contratos captados por agente, no mês de abril de 2008, foi de 5,2 na macro-região Extremo-Norte; 6,1 na Centro-Norte; 5,6 na Centro-Sul, e 7,7 na Extremo sul. A média acumulada também não varia muito: 5,6, 5,1, 5,8 e 5,9 respectivamente. Houve incremento de 1,0 na macro-região Centro-Norte e de 1,8 na Extremo-Sul; e queda de 0,4 na Extremo-Norte e de 0,2 na Centro-Sul, no número de contratos realizados no mês de abril de 2008, em relação à média acumulada.

Os municípios que mais se destacaram no período acima citado (Anexo B)142, em número de contratos aprovados (mais de 15 contratos no mês), nas respectivas macro-regiões foram: Barra de São Francisco, Ecoporanga, Pedro Canário, São Gabriel da Palha e São Mateus na primeira; Aracruz, Baixo Guandu, Colatina, Governador Lindemberg, Linhares, Pancas e Serra na segunda; Anchieta, Cariacica e Vargem Alta na terceira; e Alegre, Cachoeiro de Itapemirim, Castelo e Guaçuí na última. No acumulado, são seis municípios do Extremo-Norte com número de operações contratadas acima de 300, cinco dos quais financiaram valores superiores a R$ 1 milhão; cinco na macro-região Centro-Norte, todos com valores contratados acima de R$ 1 milhão; nove na Centro-Sul, oito dos quais com valores superiores a referida cifra; e cinco na macro-região Extremo-Sul, quatro deles com valores acima de R$ 1 milhão. Ao todo são 22 municípios que já ultrapassaram esse valor, dentre eles as quatro Unidades piloto.

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A relação completa dos municípios com seus respectivos desempenhos compõe o Anexo B do presente estudo.

Tabela 12: Desempenho dos Municípios Piloto – Data base: 30.04.2008

Municípios piloto Nº contratos (acumulado) Valor (acumulado)

Cachoeiro de Itapemirim 1.598 4.408.349,31

Nova Venécia 839 2.691.138,34

Viana 477 1.314.768,44

Presidente Kennedy 469 1.174.629,21

TOTAL 3.383 9.588.885,30

Fonte: BANDES/BANESTES. Elaborada pela autora

Dentre os municípios com maior número de financiamentos desde o início do Programa, destacam-se duas unidades piloto: Cachoeiro de Itapemirim (1ª colocada no ranking), seguida de Nova Venécia. As outras duas Unidades ocupam a 13ª posição (Viana) e a 15ª (Presidente Kennedy). O total financiado pelos quatro municípios piloto corresponde a 16,45% do valor acumulado do Nossocrédito. O perfil dos referidos municípios é bastante diferenciado, tanto do ponto de vista geográfico como econômico e social. Tomando-se como referência o IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - 2000), pode-se constatar essa diferenciação a partir da classificação desses municípios na 11ª, 28ª, 29ª e 59ª posição143, respectivamente. O desempenho desses municípios no Programa (Tabela 11) indica que o Nossocrédito tem-se ampliado também nas regiões “economicamente mais vulneráveis” (BANDES, 2008, p.2), a exemplo do município de Presidente Kennedy. Por outro lado, considerando-se os valores médios dos créditos concedidos nessas Unidades (posição em dezembro de 2007): Nova Venécia (R$ 3.191,34), Cachoeiro de Itapemirim (R$ 2.817,84), Viana (R$ 2.792,90) e Presidente Kennedy (R$ 2.436,45), temos que, mesmo no município com baixo IDH, os valores das operações contratadas também se situam numa faixa média alta, ou seja, o Nossocrédito atende também ali a população com maior rendimento na escala “baixa renda” conforme já discutido.

No que tange à viabilização das condições para o incremento da ocupação e renda nos municípios, os dados relativos a abril de 2008 apontam que os financiamentos

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Essa classificação levou em conta a posição de empate existente entre os diversos municípios do Estado. Se considerada a ordem numérica seqüencial tal como aparece na lista divulgada pelo IPEADATA, essa classificação corresponderia à 12ª, 33ª, 34ª e 74ª posição no ranking do IDH-M – 2000.

realizados pelo Nossocrédito possibilitaram a manutenção de 38.728 postos de trabalho, e a geração e manutenção de outros 8.073 até 30 de abril de 2008144. Porém, a metodologia utilizada para essa aferição até aqui é ainda frágil. O impacto é medido pelos relatos dos agentes e visitas dos técnicos e consultores aos clientes. Segundo o consultor entrevistado, está prevista a contratação junto ao SEBRAE de uma pesquisa de impacto do Programa, a ser realizada neste ano de 2008, com vistas a uma amostragem mais precisa da ocupação, da renda e da melhoria da qualidade de vida do empreendedor gerada pelo Nossocrédito. Contudo, trata-se, também aqui, de pesquisa quantitativa145 - cuja metodologia ainda não se encontra bem definida - em que se pretende também quantificar o aumento do consumo no estado a partir do crédito, o que permitiria, na visão do consultor, determinar a geração e arrecadação de impostos (por meio de nota fiscal e recibos de venda), e, em decorrência, o retorno financeiro para os municípios (parte do ICMS) além da arrecadação direta. A idéia, segundo ele, é ainda “tentar quebrar esse paradigma do Grameen Bank” e criar uma estrutura capixaba com base no que é o microcrédito aqui. Cabe dizer: um Programa inspirado na metodologia da política de microcrédito desenvolvida por aquela instituição, mas que assume uma nova configuração no Espírito Santo a partir do conjunto de características aqui descritas e analisadas.

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Os dados foram produzidos e fornecidos pelo BANDES.

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A construção de indicadores sociais vem sendo pensada no âmbito da SETADES, conforme discutido no final do capítulo anterior.