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Os autores e a linguagem utilizada pelos cadernos do Pacto

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2 RESULTADOS DA PARTE QUALITATIVA DA PESQUISA

4.2.3 Os autores e a linguagem utilizada pelos cadernos do Pacto

No momento em que se busca participar de um processo formativo é necessário, entre outros itens, conhecer como é a linguagem adotada nos materiais/textos utilizados, bem como os autores citados neles. Esses pontos são essenciais, pois podem se constituir em um atrativo, além de aproximar e entrosar mais os participantes.

Nesse escopo, no que tange aos autores citados nos cadernos do Pacto, bem como a linguagem utilizada pelos mesmos, apresentam-se a seguir alguns depoimentos de professores retirados do questionário aplicado, representativos do conjunto:

Os autores citados nos cadernos são conhecidos (P1).

Todo o embasamento fundamentado por autores já conhecidos e com linguagem clara serve ao propósito de fomentar um debate e causar um impacto sobre necessidades que já conhecemos (P3).

Os cadernos do Pacto são acessíveis. (P14).

Os autores eram conhecidos e os textos tinham linguagem clara (P8). A maioria dos autores são conhecidos e a linguagem apresentada é bem acessível (P9).

Quanto à linguagem nenhum problema (P17).

Os autores são conhecidos e a linguagem utilizada nos cadernos é bem acessível (P13).

[...] Já os autores, apenas alguns são conhecidos e a linguagem é acessível e de fácil entendimento (P4).

Alguns autores eram conhecidos outros não. A linguagem era extremamente acessível (P10).

Alguns autores não são conhecidos por todos os professores, contudo, a linguagem era/é acessível, sendo compreendida por todos (P11).

A partir desses relatos, observa-se que, para a maioria dos professores, os autores citados nos cadernos do Pacto são conhecidos, enquanto para uma minoria, nem todos eram conhecidos. Já, quanto à linguagem utilizada pelos textos, praticamente todos os professores concordam que ela foi ou acessível, ou clara, ou de fácil compreensão.

Essas opiniões reforçam o sucesso alcançado pelo curso, visto que uma leitura agradável de autores conhecidos pode colaborar na melhoria dos processos formativos, bem como na promoção de uma reflexão rigorosa sobre a prática pedagógica dos docentes.

É importante ressaltar que a maioria dos professores participantes do Pacto (66 de um total de 74) tem pós-graduação na área da educação ou do ensino, além disso, uma boa parcela destes profissionais participa de cursos oferecidos por universidades públicas ou particulares de curta duração (20, 40 ou 60 h). Esses fatores podem ser um indicativo para o grande número de professores ter apontado que conhecem os autores citados nos cadernos do Pacto, uma vez que o envolvimento com a produção de trabalhos para a pós-graduação requer a tarefa contínua com a leitura de uma gama de autores.

4.2.4 (Des)valorização profissional

Esta categoria emergiu a partir da discussão dos professores acerca das políticas públicas governamentais que envolvem uma melhor remuneração aos profissionais da educação, melhores condições de trabalho e reconhecimento social da profissão.

Para alguns professores, um dos problemas mais citados quanto à falta de valorização profissional e consequente desmotivação dos mesmos é a excessiva

jornada de trabalho a que estes profissionais são submetidos, tendo inclusive outras escolas para atuar. Isso fica evidente nos depoimentos a seguir de professores retirados do questionário aplicado, representativos do conjunto:

Com certeza os professores não são valorizados quanto à remuneração que recebem. Para se ter professores motivados é necessário incentivo para que o professor possa ter uma carga horária adequada (não muito alta) para dispor de mais tempo de planejamento (P2, grifo nosso).

O cenário educacional e nossa posição nos índices sobre qualidade na educação respondem essa questão. A fim de buscar uma remuneração capaz de suprir necessidades básicas os educadores se submetem a

jornadas exaustivas que comprometem a execução de planejamentos (P5,

grifo nosso).

[...] De modo que muitas vezes nos submetemos a grandes jornadas de

trabalho para sanar nossas necessidades básicas, o que resulta na

dificuldade de executar bons planejamentos (P7, grifo nosso).

[As políticas públicas governamentais] não atendem nossas necessidades, pois vemos muitos colegas trabalhando em várias escolas para garantir o sustento de sua família (P12, grifo nosso).

[...] muitos professores ainda trabalham em duas ou três escolas justamente pela condição financeira (P14, grifo nosso).

Com certeza, os professores não são valorizados quanto à remuneração que recebem e as condições de trabalho. Para ter professores motivados é necessário incentivo, porém o que se percebe na prática são professores

que precisam ter mais de uma escola e alta carga horária para

conseguir manter a si e sua família, assim com menor tempo de planejamento e bem estar (P16, grifo nosso).

Diferentes professores salientaram a falta de valorização profissional e consequente desmotivação dos mesmos relacionadas aos baixos salários e a falta de condições adequadas de trabalho. Isso fica evidente nos depoimentos a seguir de professores retirados do questionário aplicado, representativos do conjunto:

A questão da educação no Brasil precisa caminhar muito para atingir um patamar razoável de melhorias no sistema. Enquanto não houver melhores

condições de trabalho aos professores e uma razoável remuneração,

condizente com seu trabalho, o profissional continuará desmotivado (P1, grifo nosso).

[As políticas públicas governamentais] não atendem nossas necessidades. Existe grande desmotivação por parte da classe docente em relação a

salários e benefícios. Prova disso acompanha-se nos meios da

comunicação onde testemunha-se a luta incansável dos professores por reconhecimento e garantia dos seus direitos trabalhistas (P3, grifo nosso). O discurso [dos governantes] não condiz com a realidade, começa pelo piso nacional não cumprido, nosso salário que é vergonhoso, fora os

aspectos como materiais e tecnologias. Eu acho que muitos colegas até

fazem “milagres” frente o descaso da educação (P6, grifo nosso).

[As políticas públicas governamentais] não atendem, porque falta o

estímulo de ser bem remunerado, bem como condições de trabalho como falta de profissionais que dão apoio aos docentes; espaços físicos e tecnologias. O professor tem que usar de muita criatividade para

que sua aula se torne interessante no mundo em que as mídias tecnológicas estão tomando o espaço e o interesse dos alunos (P11, grifo nosso).

Infelizmente educação não é prioridade para nossos governantes. Não há uma política unificada de educação. Em cada mudança de governo são promovidas mudanças nos rumos da educação, dessa forma interrompendo o processo. Escolas em precárias condições, falta de material, espaço

físico inadequado, falta de profissionais da área e professores mal remunerados são fatores que contribuem para desmotivação dos

professores (P15, grifo nosso).

Outros professores apontam a falta de reconhecimento social como problema da desvalorização profissional, conforme observa-se nos depoimentos dos professores retirados do questionário aplicado, representativos do conjunto:

Enquanto a sociedade não considerar a profissão docente como

importante, necessária para a formação da pessoa humana, o professor

estará desmotivado e desprestigiado. É urgente um amplo projeto de reestruturação de toda educação, para que possamos se sentir reconhecidos na grande tarefa de educar (P8, grifo nosso).

Em uma sociedade que desvaloriza o professor é impossível ser totalmente motivado, é necessário que a família e a escola trabalhem juntos (P17, grifo nosso).

A desmotivação também ocorre pela ausência não apenas do poder público, dos salários etc. O que mais desmotiva é ver que o aluno não acredita que somos capazes de contribuir com nossos conhecimentos. E ver que a família está distante deste aluno, o que desmotiva é sermos

transformados em seres invisíveis não apenas para os alunos, mas por toda sociedade (P20, grifo nosso).

Há aqueles professores que apontaram o problema da falta de recursos financeiros, consequência da baixa remuneração, para investir em atualização, que vai desde a compra de livros e materiais didáticos até a participação em eventos na área da educação/ensino. Isso fica evidente nos depoimentos a seguir de professores retirados do questionário aplicado, representativos do conjunto:

[As políticas públicas governamentais] não atendem nossas necessidades de remuneração, visto que em muitos casos, nem mesmo os aumentos referentes às perdas pela inflação são repassadas em salário, o que

implica em encolhimento gradual de nossa capacidade de consumo, inclusive cultural, que é fundamental em nossa profissão (P4, grifo

nosso).

Para um professor poder atualizar-se desde a aquisição de materiais, livros e participação em eventos educacionais deve abrir mão de

algumas prioridades, o que se torna inviável e difícil (P18, grifo nosso).

Há também aqueles professores que, independente da remuneração ou das condições de trabalho, lutam pela valorização profissional com persistência e dedicação à sua profissão. Isso fica evidente nos depoimentos a seguir de professores retirados do questionário aplicado, representativos do conjunto:

As condições não são ideais, o salário ruim, a infraestrutura inadequada,

mas isto não justifica a prestação de um serviço de péssima qualidade,

onde muitos não preparam aula, não fazem planejamento, cobram dos alunos o que eles próprios não realizam (P9, grifo nosso).

[...] independentemente das condições de trabalho, o amor à profissão nos mantém firmes na luta por uma melhor educação (P10).

O professor que alcançou essa profissão com amor e dedicação supera qualquer desmotivação [...] (P13).

A partir do panorama exposto acima pelos professores, percebe-se que as denúncias, os desabafos, os baixos salários, as excessivas jornadas de atividades, as más condições de trabalho, a falta de uma política de valorização do professor, a falta de recursos financeiros para investir em atualização, o malabarismo descomunal do professor para garantir sua sobrevivência pessoal e familiar são problemas reveladores de que a profissão docente tem sido alvo de desvalorização e desprestígio social, acarretando na desmotivação destes profissionais.

Esse quadro de desolação tem sido objeto de debates e pesquisas, porém ele representa um grande desafio às políticas governamentais e ao conjunto de pesquisadores da área.

É necessária, dessa maneira, uma tomada de posição para a garantia do direito à educação de qualidade pelo conjunto da população, conforme afirma Weber (2000, p. 60):

[...] a construção da qualidade da educação formal constitui processo multifacetado, que requer simultaneamente, condições escolares adequadas para o desenvolvimento de atividades pedagógicas, profissionalização do professor, democratização da gestão de política educacional, articulação entre os órgãos governamentais e sociedade civil,

avalição permanente, participação ativa das comunidades na gestão escolar [...].

Evidencia-se, mediante as discussões apresentadas, a necessidade de uma valorização profissional dos professores caracterizada por um conjunto de condições, entre elas: espaço adequado para a aula, recursos didáticos, horas de trabalho em classe e no preparo das aulas condizente com sua jornada de trabalho, atualização/formação continuada, autonomia para as decisões em aula, dignificação, reconhecimento social e remuneração digna.

Corroborando essa linha de valorização profissional, Nóvoa (1995) acrescenta que a valorização e o prestígio social do professor, que venha a usufruir de uma situação econômica digna, são igualmente condições para o exercício profissional.