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2 NOVAS METODOLOGIAS DE ENSINO

2.2 OS CENTROS DE INTERESSE

A concepção dos centros de interesse foi elaborada por Ovide Decroly. Este educador acreditava na “possibilidade de o aluno conduzir o próprio aprendizado e, assim, aprender a

aprender” (FERRARI, 2003, p. 32). Este pedagogo organizou os centros de interesse em quatro critérios que devem ser utilizados por todo projeto curricular destinado à educação infantil e ao ensino fundamental.

1. Que o programa a ser trabalhado com os alunos deve convergir para uma

unidade, assim as partes buscam se relacionar visando formar um todo indissociável. 2. Que toda criança deveria ter condições de aproveitar ao máximo o ensino dado.

Isto se daria através de um recurso interessante ao aluno, que estimulasse o aluno a desenvolvê-lo espontaneamente e com continuidade. Estas atividades (recurso interessante) deveriam partir de um contato com o cotidiano do aluno.

3. Que o conteúdo não deve ter caráter enciclopédico, como no ensino tradicional,

mas deve buscar ajudar o aluno compreender as exigências impostas pela vida, auxiliando o aluno a adaptar-se gradualmente a ela.

4. “É necessário que a escola utilize e propicie o desenvolvimento de todas as fases

da individualidade infantil [...] que promova o desenvolvimento integral de sua personalidade individual e social” (SANTOMÉ, 1998, p. 193).

Estes quatro critérios são interessantes para se discutir quando se busca uma nova forma de se trabalhar em sala de aula. Contudo discordamos em parte destes critérios, pois o segundo item afirma que através das atividades os alunos desenvolveriam a mesma espontaneamente e com continuidade. Nesta perspectiva, questionamos como ficariam os conhecimentos que os alunos não se apropriaram, ou que apresentam dificuldades em compreender? Será que não seria necessária uma maior intervenção dos professores para auxiliá-los no desenvolvimento de tais tarefas, agindo como mediador do processo? Rangel (2002, p. 14) afirma que:

[...] esses conteúdos, sejam eles quais forem, já estão elaborados e fazem parte da cultura e do conhecimento, o que faz com que a construção dos alunos seja muito peculiar. Será uma construção sobre o que já existe, ainda que o aluno lhe atribua um sentido particular. Exatamente por ser uma construção sobre o que já existe é que não pode ser feita solitariamente. [...] Por isto, na concepção construtivista, o aluno ressignifica o conhecimento e neste sentido o reconstrói, porém num processo conjunto, compartilhado, no qual, graças à ajuda que recebe do professor, pode mostrar-se progressivamente autônomo e competente.

Zabala (1998) aponta quais seriam os argumentos utilizados por Decroly para defender a utilização dos centros de interesse. Tais pontos seriam:

a) A criança como ponto de partida. Considerando aqui que as diferenças individuais são muito grandes;

b) O respeito pela personalidade dos alunos;

c) O interesse do aluno como mola propulsora para a aprendizagem;

d) Os conhecimentos prévios, considerando que estes conhecimentos foram adquiridos de forma espontânea, por contato com o meio direto;

e) A escola como oportunidade de desenvolvimento de tendências sociais como encargos e responsabilidade;

f) Um mesmo fato ou objeto pode ter significados para os indivíduos, dependendo de cada momento da vida do aluno.

A proposta de Centro de Interesses idealizada por Ovídio Decroly considera como ponto de partida, o conhecimento dos fatos que se relacionam mais de perto com a vida dos alunos, abrangendo temas tais como o aluno e seu meio e o aluno e suas necessidades. Nessa perspectiva, o aluno é convidado a observar o mundo ao redor para descobrir os seus focos de interesse, identificando o que já sabe e o que precisa saber. Atualmente, o Centro de Interesse é focalizado de forma diferente, partindo de temas centrais propostos pelos professores e escolhidos diretamente pelas crianças (NUÑEZ, et al, 2004, p. 265).

Decroly afirmava que a didática a ser utilizada estaria subordinada aos interesses infantis e estes, conseqüentemente, estariam condicionados às necessidades naturais das crianças. Este pedagogo agrupou as necessidades em quatro blocos abaixo descritos:

1. Necessidade de alimentar-se, à qual une-se naturalmente à necessidade de

respirar e de limpeza.

2. Necessidade de lutar contra a intempérie.

3. Necessidade de defender-se contra os perigos e inimigos diversos

4. Necessidade de agir e trabalhar solidariamente, de ter lazer e de melhorar, à qual

acrescenta-se a necessidade de luz, descanso, associação, solidariedade e de ajuda mútua. (SANTOMÉ, 1998, p. 194).

Aqui fazemos outra crítica. Se todo o processo deveria estar baseado nos interesses infantis, como ficaria a aprendizagem de conhecimentos dos quais o aluno não tem uma noção clara do

seu significado? E os conteúdos que necessitam de uma maior abstração, como seriam ensinados? Na forma como estes interesses infantis são apresentados por Decroly, nos dá a subentender que o professor teria que conhecer primeiro seus alunos para depois planejar suas aulas. Neste sentido, fazemos nossas as palavras de Rangel (2002, p. 20-22) “[...] não significa, de maneira nenhuma, ensinar apenas o que os alunos possam “gostar ou querer aprender” até porque só deseja aprender algo que já conhece algo. [...] Respeitar os interesses dos alunos não significa, portanto, esperar conhecê-los para poder planejar”.

Pensamos que para o aluno reconstruir este conhecimento do qual não tem alguma noção, o professor deveria ajustar suas propostas à faixa etária dos alunos e ao contexto social. Além disso, um outro ponto não discutido por Decroly é que este não diferencia que os interesses das crianças seriam diferentes de acordo com o tempo e o espaço que ocupariam. “Nem todas as crianças do mundo e de qualquer época tem os mesmos interesses” (SANTOMÉ, 1998, p. 195). Para Decroly, os centros de interesse seriam idéias-eixo que serviriam como temas e que conduziriam o desenvolvimento de várias atividades buscando convergir para as necessidades individuais e sociais da criança. As necessidades individuais seriam as fisiológicas e psicológicas dos alunos.

Já, com relação ao social, seria considerado o meio em que vivem e o planeta como um todo, partindo do mais próximo para o mais distante, ou seja, do micro para o macro. Em cada centro de interesse desenvolvido com os alunos, o professor consideraria três perspectivas, afirma Santomé (1998):

1ª - as vantagens do ponto de vista do ser humano, e como aproveitar estas vantagens. 2ª - saber lidar com os inconvenientes do meio, evitando-os.

3ª - considerações que a criança deveria tirar sua vida de modo a comportar-se para seu bem e para o bem da humanidade.

Segundo Ferrari (2003) as atividades e métodos propostos por Ovide Decroly estavam baseados em três objetivos fundamentais a serem desenvolvidos com os alunos, a saber: a

observação, associação e a expressão. A observação era apontada como uma atitude que deveria estar sempre no processo educacional. Através dela os alunos teriam um maior contato com fatos, seres vivos, fenômenos naturais, assuntos estes a serem estudados nos centros de interesse. “A observação não deveria ser passiva, a linguagem e a expressão concreta, manual, sempre precisam estar associadas à observação” (SANTOMÉ, 1998, p. 198). A associação permitiria ao aluno entender que os fatos observados poderiam ser compreendidos em termos de tempo e espaço Santomé (1998, p. 198-199) aponta o que. Decroly em suas palavras caracterizava como exercícios de associação.

1. Os que se referem a objetos e fatos considerados do ponto de vista de sua situação atual no espaço, mas que não podem ser observados diretamente nas excursões escolares. É o que normalmente chamamos de geografia. Aqui os conhecimentos adquirem-se, sobretudo, mediante a análise de plantas e mapas. 2. Exercícios que pretendem examinar a realidade do ponto de vista temporal. Recorrendo a documentação gráfica, visitas a museus, ao cinema, etc., podemos estabelecer associações temporais a fim de relacionar e comparar os fenômenos atuais com outros já passados. Estes conhecimentos são englobados no conteúdo de história.

3. Exercícios de “associação tecnológicos ou de apropriação de necessidades humanas”. É o exame das utilizações e aplicações industriais, caseiras ou outras das matérias-primas e seus derivados.

4. Exercícios de associação de causa e efeito. Assim, o “porquê” e o “como” dos fenômenos tornam-se cada vez mais conscientes. Este é um dos momentos mais importantes de todo o trabalho educacional.

E por último, a expressão, considerada por ele como a externalização do conhecimento aprendido pelo aluno ao grupo, ou seja, a comunicação dos conteúdos aprendidos, aos demais alunos de forma compreensível. Para este pedagogo, a expressão não compreendia somente a palavra, mas também os desenhos, o corpo, construção e a arte.