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2 NOVAS METODOLOGIAS DE ENSINO

2.5 OS PROJETOS DE TRABALHO

A noção de Projetos de Trabalho (PT) surgiu na Espanha, no final da década de 80, do século XX, num período de reforma educacional e da necessidade e interesse dos professores da Escola Pompeu Fabra, situada em Barcelona – Espanha, em promover um ensino baseado na globalização, pois não estavam conseguindo alcançar os resultados esperados com os Centros de Interesse. Em suma, estavam insatisfeitos com os resultados que estavam obtendo com os Centros de Interesse. A junção da necessidade dos professores em buscar uma globalização do

12 Processofólio é similar ao portifólio. Nele são arquivados todos os materiais levantados pelos alunos.

Diferente dos portifólios, que arquivam somente os materiais que os alunos consideram que foram importantes para sua aprendizagem.

ensino e a ajuda de um assessor externo foi o que concretizou a concepção de uma educação embasada pelos Projetos de Trabalho (HERNÁNDEZ & VENTURA, 1998).

Assim, os Projetos de Trabalho surgem na década de oitenta, do século XX, com alguns pontos semelhantes ao método por projetos idealizados por Dewey e Kilpatrick13 na década de

vinte, e com os trabalhos por temas de Bruner14na década de setenta. Mas isto não quer dizer

que os Projetos de Trabalho sejam uma reelaboração destas idéias, porque o contexto no qual os Projetos de Trabalho foram criados é muito diferente da época em que as iniciativas anteriores foram elaboradas (HERNÁNDEZ, 1998). Corroborando a idéia de utilização dos projetos no processo de ensino-aprendizagem, nos Parâmetros Curriculares – Temas Transversais (1998) há um apontamento de como se podem desenvolver os projetos, afirmando que podem ser utilizados em momentos específicos do desenvolvimento curricular, envolvendo alguns professores e uma turma, ou pode ser realizado no interior de uma única área de conhecimento.

Do nosso ponto de vista, acreditamos que a metodologia dos Projetos de Trabalho se adequam à recomendação dos PCN porque a mesma não possui uma idéia fechada do que seria trabalhar com projetos, podendo o professor moldá-la a sua necessidade e de acordo com as características da classe. O detalhamento sobre a organização de um Projeto de Trabalho será realizado no decorrer deste capítulo. O termo Projetos de Trabalho surge da noção de projeto como um processo não acabado no qual há uma proposta ou tema, que esboça-se, relaciona- se, explora-se e realiza-se. Já a noção de trabalho advém das idéias plantadas por Dewey e Freinet15 em vincular a escola com o mundo fora dela, ou seja, ligar os conceitos com o cotidiano dos alunos (HERNÁNDEZ, 1998).

13 Dewey e Kilpatrick desenvolveram uma metodologia por projetos no inicio do século XX.

14 Bruner defendia que o ensino deveria centrar-se em desenvolver conceitos-chave a partir das estruturas

disciplinares.

15 Para Freinet as mudanças na escola deveriam ser feitas em sua base – pelos próprios professores. Além disso,

Os Projetos de Trabalho têm sido utilizados em escolas que procuram mudar seus métodos de ensino, adequando-se às propostas curriculares para favorecer a abordagem dos conteúdos numa perspectiva interdisciplinar, ajudando os alunos a compreenderem os conhecimentos que circulam fora da escola e auxiliando a construírem sua própria identidade. Contudo, Fourez (1997) considera que nem todos os conhecimentos podem ser aprendidos por meio de projetos, mas que é interessante que, durante sua vida escolar o aluno, pelo menos uma vez, tenha contato com este tipo de metodologia. Já Hernández (1998) defende todo um currículo baseado em projetos, para este autor, todos os conteúdos podem ser organizados na forma de projetos de trabalho.

Ao analisarmos a obra de Hernández (1998), veremos que este faz distinção entre metodologia e pedagogia, afirmando que os Projetos de Trabalho não são nem uma pedagogia nem uma metodologia, mas uma concepção de educação. Hernández (1998) caracteriza os Projetos como uma concepção de educação, pois defende que devemos entendê-lo em sua raiz, como fundamentado numa concepção de globalização de ensino, como uma construção alternativa à atual fragmentação das matérias. Entendemos globalização não como a soma de matérias, mas como uma estrutura psicológica de aprendizagem, compreendendo as possíveis relações que possam existir entre diferentes “conceitos e procedimentos que o projeto envolve”. Ou seja, os Projetos de Trabalho requerem e supõem mudanças nas concepções, e não apenas uma determinada substituição nos procedimentos didáticos por parte do professor. Ele requer que os professores revejam suas concepções de educação, de seus papéis no processo de ensino-aprendizagem escolar e busquem promover um ensino libertador, que leve o aluno a atuar de forma ativa na sociedade. Segundo Hernández (2000, p. 135) os projetos fundamentam sua concepção teórica em:

a) Um sentido de aprendizagem que se pretende construir de modo significativo

para os alunos.

b) Sua articulação a partir da atitude favorável para o conhecimento por parte dos

meninos e meninas.

c) A previsão, por parte dos professores, da estrutura lógica e seqüencial dos

conhecimentos que pareça mais adequada para facilitar sua assimilação. d) A funcionalidade do que se aprende como um elemento importante dos

Os projetos de trabalho pretendem promover nos alunos a capacidade de trabalhar de forma independente e que, diante de situações ambíguas, os alunos saibam selecionar as ações adequadas, transformando informação em conhecimento para o grupo. Além disso, os Projetos de Trabalho estão vinculados à idéia de educar para o presente, para que desde já o aluno saiba agir conscientemente na sociedade em que vive. Geralmente o currículo baseado em Projetos de Trabalho busca voltar suas atenções para a curiosidade e vontade dos alunos. Entendendo aqui não só o interesse do aluno, mas a construção do conhecimento por parte do mesmo, pois de acordo com Rangel (2002, p. 20) “[...] não significa, de maneira nenhuma, ensinar apenas o que os alunos possam “gostar ou querer aprender”, até porque só deseja aprender algo quem já conhece algo [...]” Até o momento discutimos sobre globalização do ensino, mas o que viria ser globalização no ensino, ou globalização na educação, de acordo com os pressupostos de Hernández?