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2 NOVAS METODOLOGIAS DE ENSINO

3.5 REFLEXÃO E ANÁLISE SOBRE A SEQÜÊNCIA DIDÁTICA

Ao se fazer uma reflexão sobre todo o processo de desenvolvimento da seqüência didática, percebemos que temos vários pontos a analisar. Esta concepção de trabalho educacional, desenvolvida na seqüência didática, contribuiu para ensinar o saber e o saber-fazer? Poderia ser feito de outra forma?

a) Qual a contribuição deste trabalho para a alfabetização científica e tecnológica dos alunos?

28 Alunos visitantes são os alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental que foram convidados a

b) Em que aspectos ela contribuiu para estimular e desenvolver as habilidades recomendadas?

Quando falamos sobre o conhecimento escolar não podemos dizer que os alunos não sabiam nada sobre o assunto, isto seria infantilidade de nossa parte, considerar que o aluno não conhecia nada ou quase nada sobre o tema, vê-los como tábulas rasas. Sabemos já há algum tempo que os educandos quando chegam a escola já trazem alguns conhecimentos por eles construídos ao longo de suas vidas, contudo, estes conhecimentos podem às vezes ser errôneos ou incompletos. Cabe ao professor procurar propiciar meios para que o aluno perceba as limitações destes conhecimentos e proporcione atividades que levem o aluno a ampliar o rol de definições para um determinado conceito (MORTIMER, 1996).

Já com relação ao saber-fazer os alunos demonstraram o desenvolvimento de várias habilidades, tais como a busca em várias fontes de informação, seleção de informações, argumentação, discussão, utilização de diversos recursos e métodos, estabelecimento de relações, identificação, entre outras que serão detalhadas no capítulo 4. Esta atividade foi válida, porque durante as outras aulas na qual não desenvolvíamos o projeto, estas habilidades se manifestaram com menor intensidade. Como podemos inferir sobre o desenvolvimento de tais saberes? Por meio das discussões sobre o assunto em que os alunos não faziam uso de anotações para fundamentarem suas idéias nos debates que surgiam durante o desenvolvimento do projeto. E também por meio da observação direta de suas atitudes no decorrer do andamento do mesmo. Alguns alunos foram mais constantes em demonstrarem suas habilidades, enquanto outros as manifestavam de forma esporádica.

Se este trabalho poderia ter sido realizado de outra forma, considero que sim, como afirma Hernández (1998), os Projetos de Trabalho não são uma metodologia fixa, sendo possível o professor moldá-lo a sua necessidade e condição. Ele nos serve como aporte teórico, mas temos a liberdade de adequá-lo conforme as circunstâncias. Não explicitamos claramente que era necessário para o aluno, ao escrever seu texto que reportassem as informações obtidas

com a situação-problema, mas informalmente, sempre falamos que buscassem vinculação entre o que estavam pesquisando com a situação que estávamos nos estudando. Verificamos que a maioria dos textos dos alunos, buscavam fazer uma ligação entre o conhecimento levantado e a situação estudada. Estes textos estão disponíveis no anexo III.

Um ponto que fugimos aos projetos de trabalho foi a elaboração dos índices individuais. Ficaram estabelecidos somente cinco índices com questões que os grupos teriam que responder. Não optamos pelos índices individuais porque as questões se repetiam na maioria dos questionários. Analisamos suas produções em sala de aula e suas participações durante o desenvolvimento da seqüência didática, avaliando-os através das três avaliações propostas por Hernández (1998) avaliação inicial, formativa e recapitulativa. Na avaliação inicial procuramos evidência dos conhecimentos que os alunos tinham sobre a situação estudada. Isto se deu através da discussão sobre o tema e também pelos apontamentos feitos pelos alunos em seus índices individuais. Na avaliação formativa, avaliamos o desempenho dos alunos através dos textos entregues na socialização, e no momento que os alunos tinham que apresentar os resultados de suas consultas bibliográficas, que visava responder a situação-problema.

Já na avaliação recapitulativa, elaboramos um questionário que tinha como intuito, identificar a manifestação de alguns dos saberes envolvidos no projeto, em outras situações cotidianas. Também procuramos obter evidências das aprendizagens dos alunos através da apresentação dos conhecimentos levantados e da maquete para os alunos das séries iniciais do ensino fundamental. A obtenção destes dados foi útil e nos fizeram analisar que os Projetos de trabalho, quando estruturados dentro de uma situação pertinente, possibilita o desenvolvimento de conhecimentos científicos escolares e habilidades. Consideramos que a escolha da situação deve ser feita com cuidado, porque dependendo como ela é estruturada, o professor pode encontrar dificuldades em desenvolver o conhecimento que havia planejado.

Também analisamos se os Projetos de Trabalho foram úteis e ajudaram na pesquisa. Afirmamos que sim, porque através do mesmo verificamos determinadas atitudes dos alunos

que nas aulas que não eram desenvolvidas o projeto, estas não se manifestavam. Referidas atitudes vão ao encontro dos objetivos propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de ciências. Com relação às mudanças de atitudes ocorridas na classe, percebemos que muitos dos alunos tidos como “bagunceiros” e conversadores, durante a aplicação do projeto estavam mais centrados e voltavam mais suas conversas para a execução do trabalho. Foi uma forma útil de aproximar estes alunos tanto do professor como dos demais alunos da classe, levando estes alunos a se tornarem mais participativos nas aulas.

Realizar o processo de ensino-aprendizagem por meio de estudo de situações próximas à realidade dos alunos vem se tornando cada vez mais freqüente no ensino de ciências e tem demonstrado resultados positivos. Pensamos que este seja um dos possíveis caminhos que podemos trilhar em busca de mudança no ensino de ciências tão desejado há muitos anos. Através da literatura percebemos uma crescente busca em promover a alfabetização científico-tecnológica dos alunos, para que os mesmos saibam agir crítica e consciente na sociedade atual, onde o desenvolvimento de conhecimentos científico-tecnológicos está cada vez mais acelerado e este sendo impostos cada vez mais à população. Cabe a nós propiciar meios que auxiliem os alunos a conviver com este desenvolvimento tecno-científico de forma inteligente e consciente.

Nossos alunos, durante a aplicação do projeto, consultaram em várias fontes de informação, tiveram acesso a diferentes materiais hoje encontrados em nossa sociedade. Boa parte desses alunos, em outras situações teriam dificuldades de manusear certos objetos, tais como os mapas feitos em computadores, medidor de pH, computador, cola quente, filmadora e gravador portátil. Um conhecimento que poderíamos ter relacionado com a situação estudada e que não foi estabelecido vínculo foi o conhecimento físico sobre velocidade, isto possivelmente ocorreu pelo fato de que ainda temos dificuldade de pensarmos interdisciplinarmente e muitas vezes inconscientemente voltamos a pensar de forma disciplinar. Os alunos tiveram a oportunidade de ter um primeiro contato com um processo sistemático e intencional de alfabetização científico-tecnológica, embora não possamos afirmar que os alunos se tornaram alfabetizados científica e tecnologicamente, pois seria

muita pretensão de nossa parte querer que, em uma seqüência de aulas, os alunos tornassem completamente alfabetizados nesta área, até porque, para que isto ocorra é necessário que o aluno vivencie processos de investigação científica.

Consideramos que as atividades por Projetos de Trabalho contribuem para que os alunos entrem em um processo de serem alfabetizados científico-tecnologicamente. Estamos cientes que esta alfabetização demanda um maior empenho por parte de nós professores na busca de um efetivo e consistente ensino de ciências para nossos alunos. É um trabalho que envolve a mudança de prática do professor, de detentor do saber, para mediador entre os alunos e o conhecimento. Ao refletir sobre a utilização metodologia da investigação-ação educacional percebemos que esta é um meio propicio e fecundo para uma nova prática educacional, pois o fato de refletir sobre nossas práticas leva-nos a tomarmos um novo posicionamento e buscarmos constantemente analisarmos nossas concepções sobre o que é ser professor, de como ocorre o processo de ensino-aprendizagem, e sobre a educação em geral.

Ao realizar as etapas da espiral lewiniana, encontramos dificuldades no momento de refletir sobre a aula. Talvez seja, porque poucas vezes nos questionamos sobre o trabalho que realizamos em sala, e muitas vezes quando isto ocorre, temos dificuldades em aceitar as auto- críticas e críticas e revermos nossa prática como educadores. Afirmamos que a investigação- ação nos proporcionou inferir através das falas e atitudes dos alunos a manifestação de algum saber-fazer tais como: relacionar, discutir, identificar, apresentar e escolher. Mas fazemos uma ressalva, a maior parte das habilidades não se manifestaram nas etapas por nós propostas, elas se manifestaram em momentos diferentes dos que havíamos planejado, mas isto não prejudicou no desenvolvimento do trabalho. A investigação-ação nós ajudou constatar que os Projetos de Trabalho potencializam a manifestação destas habilidades, que muitas vezes praticamente não aparecem no dia-a dia da sala de aula.

CAPÍTULO IV