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6 OPERACIONALIZAÇÃO DA CIÊNCIA: A PESQUISA

6.1 OS CONCEITOS E A PESQUISA

O conhecimento é a interpretação da realidade que passou pelo crivo social. Na verdade, deve-se falar de conhecimentos, pois existem distintas formas de apreensão de um fenômeno e, consequentemente, diversas maneiras de classificá- lo. Segundo José Carlos Köche, o conhecimento pode ser classificado como “mítico, ordinário, artístico, filosófico, religioso e científico”, sendo que esse último e o senso comum são as formas mais prevalentes e influentes no cotidiano dos seres humanos.1 Por um lado, o senso comum é definido como o conhecimento adquirido na vida diária para resolver problemas imediatos, sendo que sua fundamentação limita-se às crenças pessoais, à vivência, à abordagem superficial do fenômeno, o que impossibilita a crítica e a submissão a teste de validade. Já o conhecimento científico é delineado como uma forma de saber oriunda de investigação científica, ou seja, aquele que se legitima após o escrutínio das informações, da fase de sistematização, da aplicação de testes de validade e hipótese para a identificação de pressupostos explicativos e elaboração de enunciados que, posteriormente, serão compartilhados, principalmente no meio científico, para avaliações, ratificações ou retificações.

Maria Cecília de Souza Minayo afirma que os conhecimentos produzidos cientificamente sobre um determinado assunto, por outros pesquisadores, e que norteiam os estudos ao elucidar o objeto de investigação, são denominados teorias - “conjunto de proposições, um discurso abstrato da realidade”.2

para se consolidarem, tiveram suas hipóteses testadas antes de serem relacionadas e correlacionadas na etapa de construção de um discurso sobre um recorte da realidade, bem como foram submetidas ao controle experimental para a transposição dos dados empíricos aos conceitos teóricos. 1 Todavia, Köche enfatiza que “a teoria se manifesta como uma eterna hipótese que mantém viva a necessidade da indagação, da investigação, fazendo da Ciência um edifício em permanente construção”, ou seja, o conhecimento é fruto de um processo histórico e dialético que pode ser retificado e resultar em novos saberes científicos. 1 3

A teoria é a ótica e a base para analisar e compreender um fenômeno, “significa ver”, e o método é o meio que possibilita executar os objetivos iluminados pela teoria. 4 A teoria e o método científico são itens distintos no processo de fazer Ciência, porém, no campo da pesquisa acabam sendo tomados como sinônimos para além de suas peculiaridades. Seguem alguns exemplos de como são apresentados em manuais de metodologia: teoria marxista e o processo histórico e dialético; positivismo, estruturalismo; fenomenologia; compreensivista; epistemologias feministas; pós-estruturalismo; teorias psicanalíticas; estudos de justiça e equidade; utilitarismo; teoria principialista; método focaultiano (também classificado como um método estruturalista); modelo biomédico; modelo social; modelo focado no processo saúde-doença; epistemologia de Kuhn; método de dedução e indução; métodos estatísticos (teoria das probabilidades; teste qui- quadrado de Pearson); método descritivo; modelo experimental; etnografia; pesquisa-ação; pesquisa comportamental.

O status quo do conhecimento produzido está atrelado ao método e às técnicas de coleta de dados adotadas na pesquisa. O método de pesquisa relaciona-se com o(s) objetivo(s) proposto(s) na investigação, pois é o caminho ou a estratégia racional para desvelar o objeto em questão e obter conhecimento científico. Porém, Minayo esclarece que o método e as técnicas fazem partem da metodologia do estudo, isto é, não se pode afirmar que o método resume a metodologia e muito menos se reduz aos instrumentos de operacionalização do conhecimento. 2 Além disso, a autora aponta como componente fundamental da metodologia a criatividade do pesquisador para articular a teoria com a realidade empírica e, consequentemente, impulsionar a quebra de paradigmas que move o progresso da Ciência. 5

misto. O método quantitativo seria predeterminado, caracterizado por utilizar perguntas baseadas em instrumentos ou dados de desempenho, de atitudes, observacionais e de censo e, no processo de tratamento dos dados, a adoção de análise estatística. Por sua vez, o método qualitativo seria emergente (flexível), com a utilização de questões abertas para a obtenção dos dados, além da realização de entrevistas, de observação, análise de documentos ou audiovisuais e, sendo finalizado pela extração de informações a partir da análise de texto e de imagem. A fusão das particularidades dos dois métodos para atender a efetividade da pesquisa resultou no método misto, o qual possibilita que o pesquisador elabore questões abertas e fechadas, tenha possibilidades múltiplas de dados e analise estatisticamente e textualmente as informações. 6

Derivam de cada método ou metodologia as técnicas de pesquisas para a coleta de dados. Usualmente, classificam-se como técnicas de pesquisa quantitativa os questionários e formulários estruturados com questões fechadas (tipo survey), instrumentos predeterminados de observação de fenômenos que podem produzir dados estatísticos, e os estudos epidemiológicos (caso-controle, coorte, seccional e outros). 6 7 8 Por sua vez, são denominadas técnicas qualitativas as pesquisas documentais, estudos bibliográficos; observação participante, etnografia, entrevistas com perguntas abertas ou questionários semiestruturados, pesquisa-ação, história de vida, história oral e outros). 7 Consequentemente, a técnica de métodos mistos é aquela que obtém simultaneamente ou sequencialmente informações qualitativas e quantitativas quando englobam as técnicas anteriormente classificadas.

No contexto de pesquisa como, por exemplo, adota a Plataforma Brasil, também se utiliza o conceito desenho de estudo que engloba a

identificação do tipo de abordagem metodológica que se utiliza para responder a uma determinada questão, implicando, assim, a definição de certas características básicas do estudo, como sejam, a população e a amostra a serem estudadas, a unidade de análise, a existência ou não de intervenção direta sobre a exposição, a existência e tipo de seguimento dos indivíduos, entre outras. Tendo como base as características básicas do estudo, criaram-se uma série de padrões terminológicos que definem, à partida, algumas dessas características e que constituem aquilo que se designa como tipos ou desenhos de estudo. Exemplos de desenhos de estudo frequentemente encontrados são: os ensaios clínicos, os estudos de coorte, os estudos de casos e controles, os estudos transversais, dentre outros. 9

pesquisas biomédicas e epidemiológicas.

Para além de terminologias, lembra-se que não basta coletar os dados para transformá-lo em conhecimento cientificamente válido. A pesquisa ainda segue as seguintes etapas: tabulação de dados, aplicação de testes estatísticos (quando for o caso), sistematização das informações, análise e interpretações dos resultados – a partir da ótica qualitativa, quantitativa ou mista – para, finalmente, obter as conclusões ou considerações finais do estudo. Assim, seja pela utilização de uma técnica qualitativa, quantitativa ou mista, a análise de dados deve ser norteada pelo(s) objetivo(s) da pesquisa, hipótese(s) norteadora(s) para avaliar as variáveis, aplicação adequada dos métodos estatísticos (quando for o caso) e fundamentada no arcabouço teórico previamente estabelecido e nos novos modelos teóricos suscitados no processo de tabulação, sistematização e elaboração dos resultados que serão compartilhados no meio científico e acadêmico. 7

A redação dos resultados obtidos é a última etapa e deve ser conduzida por parâmetros éticos e garantia da fidedignidade dos dados, considerando os achados para amostra estudada e analisada sem generalizar as informações para toda a população, isto é, sem extrapolar as interpretações. Geralmente, esses resultados são compilados para atender às exigências para obtenção de um título acadêmico (monografia de graduação ou de especialização; dissertação de mestrado; tese de doutorado); elaboração de artigo(s) científico(s) para divulgação em revista especializada e legitimada pela Ciência; livros; resumos para anais de congressos; relatório para as agências de fomento (geralmente, essa é uma cláusula dos contratos firmados para a liberação dos recursos e prestação de contas); estruturação de documentos audiovisuais; roteiros de teatro; solicitação de registro de patente e outras demandas sócio-científicas de divulgação e aplicação dos dados coletados.