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4 A TRIZ na Arquitetura e Construção

4.2 Os Conceitos Fundamentais da TRIZ para Arquitetura e Construção

Na literatura pode-se encontrar, hoje, mais de 200 diferentes métodos para apoiar o processo de solução criativa de problemas. Bianchi (2008) pesquisou quais métodos de estímulo à criatividade eram mais utilizados pelos docentes dos cursos de arquitetura e, entre alternativas, a TRIZ foi colocada como opção de método por ser bastante divulgada na literatura de solução criativa de problemas em outras áreas (especialmente em engenharia mecânica). A investigação feita por Bianchi (2008) mostrou que a TRIZ não era conhecida pelos docentes de projeto de arquite- tura - 79% dos docentes brasileiros e 93% dos docentes estrangeiros afirmaram desconhecer este método.

O trabalho de Nazidizaji, Tome e Regateiro (2015) apresenta uma sugestão de estrutura de pesquisa para aplicação da teoria TRIZ na arquitetura em termos de problemas mal estruturados ou mal definidos. Nesta ocasião, os autores mostraram como os conceitos fundamentais da TRIZ podem ser inseridos na arquitetura. A títu- lo de exemplo, os mesmo aplicaram a Lei da Idealidade da TRIZ no contexto de pro- jetos arquitetônicos expondo como exemplo o que seria um edifício ideal: a área ocupada na área urbana é zero e, ao mesmo tempo, o espaço interior ilimitado. É bonito de todos os pontos de vista. Quando os indivíduos estão dentro do prédio, em

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qualquer espaço é possível visualizar todas as direções, ao mesmo tempo em que não há visão de fora para dentro e cria o maior grau de privacidade (ou maior grau de controle sobre privacidade).

A idealidade é a essência do idealismo, enquanto a contradição é a lei básica da dialética materialista. Um dos primeiros conhecimentos extraídos pelos pesquisa- dores da TRIZ foi que resolver um problema significava remover uma contradição. Por esse motivo, outro ponto relevante é a definição de contradição para arquitetura. Que tipos de contradições existem na arquitetura? Como essas contradições podem ser classificadas? A seguir estão listados alguns exemplos de contradições no cam- po da arquitetura (NAZIDIZAJI; TOME; REGATEIRO, 2015):

 Um exemplo de contradição na arquitetura pode ser verificado quando se quer uma janela grande com uma visão melhor do ambiente externo e da paisagem e que possibilite maior entrada de luz natural, mas que não aumente a troca de calor com o ambiente externo;

 Outro caso é quando, dependendo da localização geográfica, a luz do lado oeste é indesejada por esquentar o ambiente (“sol da tarde”), mas por outro lado, a vista lateral ocidental contém uma cena bonita (pôr-do-sol no mar, montanhas, um elemento de cartão postal). A contradição está no fato do cliente querer e não querer essa janela ao mesmo tempo;

 Em termos de acessibilidade, para ocupar menos terras e ter uma melhor acessibilidade, constrói-se uma cidade elevada, que gera mais riscos sobre forças do vento e do terremoto, impactando na segurança;

 Outro caso é quando se quer construir uma casa maior, mas a casa maior necessita de mais material e mais peso, consequentemente mais custos e danos ao meio ambiente;

 Em relação à privacidade, geralmente os quartos são projetados longe da entrada, mas os quartos ficam menos acessíveis.

Esses são apenas alguns exemplos que podem ser encontrados no trabalho supracitado. Como conclusão deste artigo, os autores ressaltam que a aplicabilidade do método na arquitetura deve ser avaliada uma vez que projetos arquitetônicos possuem conceitos, componentes e funções específicas. Dessa forma, é fundamen- tal considerar a geração de uma nova interpretação da teoria em etapa anterior ao seu uso na arquitetura.

Ainda segundo Nazidizaji, Tome e Regateiro (2015), a teoria é aplicável no campo da arquitetura uma vez que a evolução dos sistemas da arquitetura por seus aspectos tecnológicos é semelhante a outros campos de engenharia. Apesar disso,

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a evolução dos espaços e sua interação com os usuários devem ser consideradas por pesquisas adicionais e até mesmo os prováveis princípios de evolução devem ser extraídos. Colocam ainda que os conceitos culturais, psicológicos e sociais do projeto arquitetônico são os principais desafios para a aplicação TRIZ na arquitetura. Assim como constatado por Mann e O’Cathain (2001b e 2001c), o trabalho de Nazidizaji, Tome e Regateiro (2015) ratifica que a contradição no projeto de elemen- tos e detalhes da arquitetura é muito comparável aos problemas de engenharia, por- tanto, os 39 PEs e os 40 PIs podem ser usados, desde que haja uma interpretação específica redefinindo esses conceitos para a arquitetura, uma vez que a evolução dos espaços e sua interação com o usuário é característica recorrente em projetos deste campo.

4.3 A TRIZ aplicada na Indústria da Construção

Em recente pesquisa, Renev e Chechurin (2016) elaboraram uma revisão da literatura sobre a aplicação da TRIZ na indústria da construção. Deste estudo revelou-se que, apesar de teoria estar sendo amplamente utilizada em muitos campos desde o início dos anos 2000, quando a inovação tornou-se parte integrante do mundo moderno, o número de publicações relacionadas à aplicação da TRIZ na indústria da construção é inferior a 2% de todos os estudos relacionados à TRIZ na base de dados SCOPUS.

Com base na análise das publicações encontrados, o estudo revela que o uso da TRIZ na construção ainda é bastante limitado. De acordo com a ETRIA (European TRIZ Association), uma pesquisa mundial realizada em 2009, apenas 3,5% dos profissionais de construção são dedicados ao uso da teoria, o que significa que a TRIZ permanece marginal no setor imobiliário.

A revisão da literatura sobre esse assunto mostrou que existem pesquisadores trabalhando nessa direção, tentando usar as ferramentas da TRIZ em situações que necessitam ideias únicas para resolver problemas complexos específicos em áreas como o desenvolvimento de técnicas e tecnologias de construção, projeto de novas estruturas e materiais de construção, gerenciamento de projetos de construção e engenharia de valores etc. No entanto, a aplicação bem sucedida dessas ferramentas não é possível sem uma adaptação criativa. Apesar da teoria ter provado ser uma metodologia bastante única, ainda há muitas situações controversas que exigem que as ferramentas da TRIZ sejam adaptadas a um campo industrial específico e a construção não é uma exceção (RENEV; CHECHURIN, 2016).

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Novamente fica explícito que é fundamental a elaboração de uma adaptação dos conceitos fundamentais, princípios e ferramentas da TRIZ para o sucesso de seu uso em projetos do setor de AEC.

Nessa linha, os dois próximos tópicos apresentam estudos que foram realiza- dos outrora, abordando os aspectos tratados nesta discussão, no sentido testar a adaptação dos princípios inventivos da TRIZ para Arquitetura.